terça-feira, 31 de agosto de 2010

HISTÓRIA DE CARINHANHA.

Escritor: Honorato Ribeiro dos Santos.
(Resumida dos cinco volumes editados pelo mesmo autor).


Honorato Ribeiro dos Santos nasceu em Carinhanha, no dia 21 de dezembro de 1934. A sua primeira profissão foi carpinteiro, depois padeiro. Aprendeu música e seu primeiro instrumento foi cavaquinho, depois violão, banjo e harmônio. Tocou requinta, clarineta e sax alto; cantor seresteiro e em clubes de danças - bailes. Foi professor de Educação Artística, Desenho e música, no Educandário São José. Como professor de música compôs o hino do Educandário São José e ensinava os hinos cívicos. Foi regente da fanfarra do mesmo colégio com 20 componentes estudantes de ambos o sexo. Criou a escola de música São José e formou uma filarmônica; sustentou por muitos anos para não desaparecer. Dela continuou a sua existência até que foi registrada com o nome: Filarmônica Pedro Leite de Almeida. Com muito esforço e dedicação ela existe até hoje, com a regência de Edézio Marque de Souza, seu ex-aluno, que começou na escolinha São José. Honorato Ribeiro dos Santos foi, também, catequista, acólito e palestrante por 40 anos na igreja católica. Foi funcionário público da prefeitura municipal de Carinhanha. É poeta, escritor, compositor, violonista, cavaquinista e professor de música. Como compositor compôs bolero, samba canção, marcha de carnaval, samba, guarânia, canções, valsas e hinos. É autor do hino de Carinhanha. Como poeta escreveu vários livros de cordel e poemas; como escritor publicou a história de Carinhanha do primeiro volume ao quinto volume. Escreveu dois livros religiosos. A maioria desses livros está esgotados. Mora à Rua Francisco Muniz nº 46 - centro - Carinhanha-Ba, à margem esquerda do rio São Francisco-CEP 46445-000. Telefone (77) 34852694. E-mail hagaribeiro@yahoo.com.br

Escrevi o meu primeiro livro da história de Carinhanha em 1981, que conta o seu descobrimento, em 1712, e sua emancipação política, no dia 17 de agosto de 1909. O nome de Carinhanha etimologicamente é nome indígena, que significa “Loca de Sapo”. Afirmamos também que a origem do nome Carinhanha vem de ARINHANHA, lontra, que havia em abundância no rio Carinhanha. Não encontramos nenhum nome de certa ave por nome de carunhenha ou carunhanha, em nossas pesquisas, como conta nos meus livros editados com pesquisa feita no IBGE.
O primeiro prefeito (Intendente) foi Francisco Luiz da Cunha, popularmente conhecido por Cel. Chico Timóteo. Morreu de ataque cardíaco, em 1914, ao saber que seu adversário tinha lhe derrotado. Seu adversário era um coletor federal por nome de Antônio Prophírio Dias Andrade Filho, conhecido por Seo Andrade. Em 1915, ano em que deveria tomar posse como prefeito, foi assassinado por dois jagunços por nome Simplício e Mateusinho. Assumiu seu lugar para governar, Antônio Prado, depois sucedeu o médico Dr. Josefino Moreira de Castro; este teve de correr às pressas para Bom Jesus da Lapa com toda a sua família, pois o coronel João Correia Duque invadiu a cidade com 80 jagunços armados e mandou fogo serrado contra os que estavam no poder. Essa invasão guerrilheira se deu no ano de 1919. João C. Duque tomou conta da prefeitura à bala. Mas os coroneis de Santa Maria da Vitória enviaram uma tropa de jagunços e escorraçou o Cel. João Duque e seus asseclas. Mas João Duque reforçou e veio com mais força e escorraçou seus inimigos e tomou posse da cidade.
Houve muitas mortes e a maioria dos habitantes da cidade correu e muitos não voltaram mais à sua terra natal. Essa história negra dos coroneis em Carinhanha durou até o ano de 1928. Carinhanha só veio ter paz com a posse de José de Oliveira Lisboa, no ano de 1942, com o apoio do governador da Bahia, Pedro Aleixo Pinto, conhecido por Pinto Aleixo. Ainda havia rixas políticas dos aliados e fanáticos do coronel João Duque. Houve, em todo o Brasil, eleição democrática em 1946 e Alípio José de Moura foi eleito. Esse foi o primeiro prefeito democrático escolhido pelo voto livre de homens e mulheres nas urnas. Afirmamos que, embora os meus livros editados que narram a história de Carinhanha afirmam, em suas primeiras páginas que, quem descobriu Carinhanha foi o bandeirante Manuel Nunes Viana, pesquisa feita no IBGE, não tem prova nenhuma e nem fonte onde comprovasse que ele fosse bandeirante e o descobridor de Carinhanha. Os escritores: Charles Ralph Baxer, no seu livro, Idade do Ouro do Brasil, Donaldo Pierson - O Homem no Vale do São Francisco; Barbosa Lima Sobrinho - Pernambuco e o São Francisco; Euclides da Cunha – Os Sertões; Carlos Lacerda – Desafio e Promessa do Rio São Francisco; Geraldo Rocha – O Rio São Francisco; Erivaldo Fagundes Neves – Uma Comunidade Sertaneja da Sermaria ao Minifundo; Diogo de Vasconcelo – História Antiga das Minas Gerais, volume II; Pedro Calmon – História da Casa da Torre; Capristano de Abreu – Capítulo da História Colonial, 1500; André João Antonil – Cultura e Opulência do Brasil; Cel. Inácio Acciole de Cerqueira e Silva e Dr. Braz do Amaral – Memórias Históricas e política da Bahia, Vol. I ao V; Mestre Afonso de Escragnolle Taunay – Histórias das Bandeiras Paulistas, Vol. II, Nenhum desses escritores famosos afirmam em seus livros que Manuel Nunes Viana foi o descobridor de Carinhanha. Todos eles falam de Manuel Nunes Viana que era um português que viveu numa fazenda em Minas Gerais, bem como o escritor mineiro, Manuel Ambrósio. Nenhum deles afirma ser Manuel Nunes Viana bandeirante e o descobridor de Carinhanha. (Colaboração de Artur Viana.).
As rixas políticas, aqui em Carinhanha, começaram em 1912, contra o coronel Chico Timóteo, que era o prefeito intendente. Havia aqui uma negra descendente africana, que se chamava “Nega Joaquina”, amiga íntima do coronel Chico Timóteo. Ela morava numa rua por nome “Baixa da Égua”. Então, os adversários colocaram uma placa na parede da casa da Nega Joaquina com o novo nome da rua: Rua 13 de Maio, por ser essa data a Abolição dos escravos. Pagaram uma mulher, por nome de dona Euzébia, para na calada da noite raspar o letreiro, a fim de acusar a Nega Joaquina de ter raspado o nome da placa e, assim, prendê-la por desacato às autoridades. E assim foi feito. A placa amanheceu raspada e o delegado mandou prender a Nega Joaquina. Não acharam em casa, pois ela sendo religiosa, estava na igreja assistindo à santa missa celebrada pelo Cônego Júlio. Os soldados armados ficaram aportados à frente da igreja esperando o término da missa. Mas alguém, amigo da Nega Joaquina, avisou o Cônego Júlio, que gostava muito da nega e o sacristão Deoclides. Quando acabou a celebração da missa, o Cônego Júlio e o sacristão Deoclides, cada um deu o braço, ao da Nega Joaquina e saíram da igreja rumo à casa do juiz de Direito, Dr. José Carlos. Quando o tenente viu os três atravessando a rua rumo à casa do juiz, o tenente deu voz de prisão para a Nega Joaquina. Mas ela correu e entrou na casa do juiz. Um aliado do coronel Chico Timóteo sacou sua arma e atirou contra o soldado. O tiro varou o olho e ele caiu morto. Os outros soldados abriram fogo e a multidão se espalhou em busca de abrigo. O pai do juiz, seo Venâncio, estava ainda na igreja rezando. Quando saiu, sem saber o que estaria acontecendo, levou um tiro de fuzil de um dos soldados e caiu morto, na calçada da igreja. Depois desse negro episódio, tomou posse como delegado Prisco Oliveira, que era contra o coronel Chico Timóteo; começou a executar as prisões injustas, espancamentos. Esse delegado com soldados armados invadiu a igreja, na hora em que o padre Manoel Nascimento celebrava a missa. Ele agarrou o padre dando-lhe voz de prisão. Houve uma grande confusão dentro da igreja. Os fieis protestaram e armados de fueiro de carro de boi enfrentaram os soldados, mas foram vencidos; e o padre foi preso. Essa foi a causa de o coronel João Correia Duque se organizar e invadir a cidade com seus jagunços e expulsou quem estava no poder com tanta injustiça. Aí valeu: “Dente por dente, olho por olho”. Essa rixa se estendeu até o Distrito de Cocos e Coribe.
Desde 1912 até 1928, não houve mais trégua e paz em Carinhanha. Muitos espancamentos, prisões injustas e muitas mortes aconteceram. Em todo Vale do São Francisco o poder era dos coroneis da Guarda Nacional. Como o clima era violência, Antônio Três Mulheres, assim conhecido, valentão, pegou um fuzil e foi matar André Madrugão. Chegou com a arma em punho e do paredão do rio São Francisco gritava: “André, patife, saia pra fora pra morrer... Saia miserável”. Naquele instante ouviu-se uma zoada de tiro. Não se sabe até os dias de hoje quem atirou e de onde. O certo é que Antônio Três Mulheres caiu morto no chão deixando três viúvas.
Aqui está o resume dos cinco volumes da História de Carinhanha, escrito por Honorato Ribeiro dos Santos.

Carinhanha vive da pesca, lavoura e pecuária. O comércio é fraco e a política ainda é de coronel. Quem está no poder e quem for empregado da prefeitura terá de acompanhar e votar nos candidatos do prefeito (a), senão perde o emprego. Ainda existem os cabos eleitorais e o povo é ferrado como gado; não tem liberdade de opção.
O progresso só veio começar no ano de 1977: Água encanada pelo SAAI, luz elétrica vindo da SEMIG, depois de SOBRADINHO, sinal de televisão, telefone fixo, calçamentos, prédios públicos como grupos escolares, creches, prédio da prefeitura, que vivia de aluguel, prédio do fórum, casa do juiz, prédio da Câmara de Vereadores, prédio do Banco do Brasil e do Baneb, hospital, SESP, FUNDEB, SUS, PSF, clínica de saúde, consultórios odontológicos, laboratórios, cerâmicas, faculdades, farmácias, duas estações de rádio: Pontal FM e Rádio Cidade casa do ATELIÊ, onde Jota Vieira expõe os seus trabalhos feitos de argila, (figuras de estátuas e pinturas). A ponte do rio São Francisco, que liga o município de Malhada ao município de Carinhanha, inaugurada em 2010. Existem dois sinais de internet: Lan House e sinal do VIVO – celular. Há dois sindicatos: dos lavradores e dos servidores públicos.

Carinhanha era mais desenvolvida na década de 1940 até a década de 1960. Havia duas filarmônicas, dois clubes que promoviam carnavais com rainhas, princesas, rei momo e carro alegórico e bailes mensais para os sócios. Havia duas linhas de avião: A VARING E A SADIA; coletoria federal, estadual, IBGE, 40 vapores que partiam de Juazeiro e subiam cheios de passageiros até Pirapora, da Navegação Mineira e Baiana, do rio São Francisco. Sempre saltavam, aqui, turistas do exterior, nos tempos desses vapores. Havia também a COMISSÃO DO VALE DO SÃO FRANCISCO, hoje, CODEVASF. Duas usinas de beneficiar algodão e arroz; vários depósitos de algodão, mamona, maniçoba, pele de boi, (coro) e de peixe. Tudo isso desapareceram, não mais existem.
Há seis VANS que transportam muita gente todos os dias, de segunda a sábado levando para fazer compra em Guanambi, porque o comércio daqui é muito pobre e vende mais caro. Outros vão para tratamento de saúde, pois lá há mais recursos. O problema de Carinhanha é genuinamente político, pois, quem exerce o poder não tem visão de progresso e de desenvolvimento. A cidade é banhada por dois rios: O São Francisco e o Carinhanha, que divide Minas com Bahia. A maior riqueza da cidade, porém não há aproveitamento para cultivar a plantação de tomate, pimentão, cebola, uva, laranja, manga, beterraba, cenoura, abacaxi, banana, etc. Tudo isso vem de Guanambi que não tem rio e o povo sofre a falta de água. (Escritor Honorato Ribeiro dos Santos).

Carinhanha é rica da cultura folclórica. Existe a lenda do compadre d’água, a mãe d’água, a serpente no fundo do rio São Francisco. As lendas do lobisomem, da mula-sem-cabeça, da porca que vomita fogo. Os folguedos: reis de boi, contra dança, ternos, mulinha de ouro, reis de caixa e lamentação das almas. (Do 2º volume do livro: História de Carinhanha, resumido, por Honorato Ribeiro dos Santos). Havia dois cines: Cine Real e Cine Carinhanha e que havia sempre programas de calouro e teatro. Tudo se acabou.

HINO OFICIAL DE CARINHANHA.
Letra e música de Honorato Ribeiro dos Santos, compôs em 1977, e aprovado por unanimidade pela Câmara de Vereadores do município de Carinhanha. Foi orquestrado pelo maestro de Campinas-SP, João Bosco Stecca e gravado em CD nos estúdios da cidade de Campinas em 2008, com a promoção de Hermélio Nicolau da Silva. Na voz de Marta Maria Almeida dos Santos e César Kalau acompanhado pela orquestra com arranjo do Maestro João Bosco Stecca.

HINO OFICIAL DE CARINHANHA.
Autor: Honorato Ribeiro dos Santos.
(Letra e música).
A margem do São Francisco
Está a linda cidade,
Nome que vem de uma ave,
Que dorme em tranqüilidade,
Na esperança do porvir
De heróis de capacidade.

CORO

Eu te amo, Carinhanha,
Dentro do meu coração,
Tu és a minha primavera
Florida numa canção,
Cantada numa harmonia,
No meio dessa Nação.

Princesa sanfranciscana,
Que ganhaste o trono em luta
Dispersado os filhos teus,
No passado a tua conduta,
Tristonha, quebraste o elo
Duma amizade caduca.

Tu és a deusa euterpe
Com o luar cor de prata
Onde a riqueza folclórica
Reina qual a verde mata;
Tuas festas é tradição
De um povo que vibra em massa.

Teu céu é mais azul,
Nos confins do meu Brasil,
No rincão do Velho Nilo
Teu gigante e varonil,
Povo humilde, bravo e forte
Do sertão és o perfil.

FIM.