terça-feira, 16 de dezembro de 2014

ONDE ESTÁ A PAZ?

1 h ·
 Poesia de Honorato Ribeiro dos Santos.

Onde está a paz?
Andei por todos os lugares
Mais bonitos que houvesse
Meus olhos se encantaram
Ao ver tantas maravilhas!


Voltei triste mais do que era,
Porque eu não a encontrei
O que mais gostaria de tê-la;
Mas não a vi, não a senti
A paz que tanto queria.

Viajei nos meus pensamentos
A mil anos atrás, foi à Grécia
Encontrei-me com “Eureca”
Depois com o filósofo da “cicuta”;

Voltei para ver o gago orador,
O romano, mas não a encontrei.
Pensei ir á Galileia do Mestre,
E foi, vi a beleza dos lírios,
O orvalho do “Sermão da Montanha”

Sentei, meditei, abri o livro da “vida”
E sentei, pensei, meditei e refleti;
E ouvi uma voz que soou em mim:
Onde está a paz?

Eis onde ela está
Está dentro de você.
Porque foi procurar
Onde ela nunca esteve?
Ela está para sempre
Dentro de mim, de você.

Não procure em outro lugar.
FIM.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O REI SEM REINADO E SEM COROA.




Conto de Honorato Ribeiro.

Havia um rei que tinha ministros, servos e bastante gente que iam ao seu encontro somente para ouvir os seus conselhos e seus ensinamentos. Era bastante rico, mas recebia pobres, ricos, lavadores, gente pobre e excluída. Não havia exceção em sua casa.
Mas um dia ele saiu andando a pé vestido não de rei, mas como uma pessoa comum. Os ministros dele reclamaram de sua atitude, pois era rei e não poderia se igualar aos outros. Mas ele sorria, ouvia-os e dizia-lhes: O mais importante é saber viver a alegria da igualdade. Ele caminhou por todos os povoados, aldeias e, muitas vezes ele dormia e comia com gente simples. Cama ou chão, não se incomodava, mesmo sendo rei. Às vezes dormia debaixo de uma árvore e fazia de uma pedra travesseiro. Os seus ministros não entendiam nem seus servidores a maneira de si portar um rei como se fosse um mendigo ou um pobre, sendo-o tão rico. A sua simplicidade era tão grande que até os nobres iam a seu encontro e o convidavam para banquetear-se em suas casas. Ele nunca recusou, mas dava-lhes conselhos para convidar aos pobres e excluídos a banquetear com eles. As suas palavras mexiam com seus psíquicos e suas emoções; ensinavam-no a moral e o amor.
Um dia ele resolveu ir à capital dos reis, dos doutores e magistrados. Mas como rei não foi ao palácio de nenhum deles. Misturou-se no meio dos beberrões, prostitutas, ladrões,  excluídos físicos, doentes e fez uma grande amizade com todos eles sem exceção. Os nobres, reis e doutores magistrados começaram com suas insatisfações, mesmo ouvindo as suas mensagens sábias e eloqüentes, não ficaram humorados. Todos os doutores e magistrados caíram as suas famas e status; e o rei subia a sua fama cada vez mais. Mas aos pobres, excluídos, prostitutas, ladrões, ele os exaltava. Nisso aumentou o ódio dos letrados e doutores, bem como os reis. E o rei que não queria que o chamasse de rei e nem senhor, dizia que a sociedade era constituída de hipócritas e ladrões enganadores do povo.
Esse rei que era tão rico deixou seu palácio, sua gente, seus conterrâneos e foi ensinar a moral, a igualdade e o amor àqueles que não viviam. A sua fama se espalhou em toda a região e países distantes; os seus ensinamentos era único: Amor vertical e universal; paz e destruição do ódio e do egoísmo. Sua fama se estendeu até nós, mas até hoje ninguém O imitou. Poucos anos de seus ensinamentos, ele amanheceu morto. Mataram-no por ensinar o amor e a paz.  Nunca quis que o chamassem de rei, mas hoje nós O chamamos. Ele é meu, é seu e daqueles que querem viver como ele viveu.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A PORCA QUE VOMITAVA FOGO.



DÉCIMA NONA PARTE.

Há muito tempo, lá pela década de 1940, não havia luz elétrica, somente os lampiões de gás a iluminar as ruas da pequena cidade de apenas cinco mil habitantes. Não havia, ainda, ruas calçadas e nem avenidas. Tudo era areão com aquela areia alva para a meninada brincar de boca de fogo, chicotinho queimado e lampião com seus cangaceiros e os soldados a lutarem contra os de Lampião. As armas eram cabo de vassoura e o som dos tiros era emitido pela boca de cada soldado e de cada cangaceiro: Pá, pá, ta, tarará...  Lua clara e bonita, céu azul e cheio de estrelas, que podia ver nitidamente o “Caminho de São Tiago”, naquele tapete celestial. Mas, quando não havia lua, a gente brincava à frente de nossa casa, ou do vizinho, e ia dormir cedo, principalmente nas sextas-feiras, pois aparecia o lobisomem, mula sem cabeça e a porca que vomitava fogo pela boca. Todos nós tínhamos medo de sair à noite escura para brincar. Os pais da gente, também, não nos deixavam sair. Além dessas brincadeiras que relatei acima, havia uma que nós brincávamos sentados na calçada da casa da careta. Foi Zé de Deraldo que nos ensinou. Era muito boa e a gente ria à beça. Era assim a brincadeira: Sentados em fila como se cada um de nós fosse do exército a começar pelos cozinheiros que dava o nome de Cuca. Então ele, o Zé de Deraldo, dizia: primeiro cuca – ao ouvir a palavra cuca a gente já começava a rir – segundo cuca, terceiro cuca, soldado, cabo, capitão, terceiro sargento, segundo sargento, primeiro sargento, segundo tenente, primeiro tenente, capitão, tenente coronel e coronel. Ao contar ele sempre punha a mão na cabeça de cada um. Cada um teria de decorar o seu posto. A brincadeira era uma espécie de sabatina. Quando o Zé de Deraldo falava com autoridade: “Passei revista na tropa e senti falta do primeiro tenente”. Esse respondia rápido: Primeiro tenente não falta.
-E quem falta?
-É o segundo tenente. Esse respondia logo: Segundo tenente não falta.
-E quem falta?
-O coronel... O coronel se esqueceu de seu nome e rebaixava para primeiro cuca. A gritaria soava em toda praça, porque o coronel havia sido rebaixado ao primeiro cuca. O cuca subia para o segundo cuca e sucessivamente todos até o que estava à baixo do coronel fica no posto de coronel. Todos subiam. E assim a gente passava à noite a brincar naquela Praça da Matriz. Que tempos idos que não voltam mais! É como diz Ataulfo Alves com sua música: “Eu era feliz e não sabia”.
Bem, agora eu passarei a contar o caso da porca que vomitava fogo. Sexta-feira, noite escura sem lua e sem lampião aceso, Bertim vinha do brega e deparou-se com a tal porca, -  na baixada onde hoje é o mercado municipal. Ali era uma enorme praça de areão e onde o povo passava para ir à Rua da Bela Vista, onde moravam Dinha Bilu, Seu Zuza Fuma, seu Romão pescador,  Seu Sabino, seu Zuza Ramos, Umbilino, dona Anja Osório, Seu João Osório, seu Patrício e seu Joaquim do Aguiás. Mais à cima ficava as casa de João Agrário e Maria Zeveda. No final da Rua Alto da Bela Vista é até hoje o Cemitério da Saudade – Foi bem ali que Bertinho sacou do punhal e enfrentou a porca que furiosamente roncava e vomitava fogo e ele não alvejava a bicha. Levantava o braço e enfiava o punhal, mas encontrava vento. Lutou o tempo todo e a porca com dentes agudos qual caititu sobre ele. Bertim vendo que não se tratava de porca, correu feito louco e dobrou a rua Duque de Caxias, onde morava a sua irmã, e abriu às pressas a porta e caiu dentro da casa assombrado. No outro dia era só o que o povo comentava: Bertim lutou com a porca que vomita fogo essa noite e fugiu assombrado. Mas se ele não tivesse fugido a porca rasgava-o a dentadas.  Muita gente já correu dela assombrado. Ele aparecia todas as sextas-feiras, no local, onde hoje, é a Avenida São José.
Com essa história que o povo contava é que, Luis Abreu toda noite gritava da esquina de Seu Fostino: Iaiá, ó Iaiá, vem me buscar, Iaiá! E de olhos arregalados para atravessar donde aparecia a porca e o outro olhar era para o cemitério, que ficava perto. Então eu falava para Celino, meu irmão: Vamos buscar Luizinho, Celino. E nós dois corríamos ao encontro dele e o levávamos para a casa da Dinha Bilu, sua avó. É que ele dormia na casa da avó. Quando ele tardava de ir, já de noite, os gritos dele, sempre a gente ouvia: Iaiá, vem me buscaaaar...Iaiaaaaaá...

FIM.