EU SOU O VERBO.
Crônica de Honorato Ribeiro dos Santos.
Assim
começa a gramática a dizer-lhe quem o sou: “Verbos são palavras que
indicam ação, estado ou fenômeno da natureza.” Que complicação a
gramática faz comigo! E mais complicado ela diz: “Os verbos estão
distribuídos em três conjugações: os da primeira conjugação em ar; os da
segunda conjugação em er; e o da terceira conjugação em ir. Que
complicação a gramática faz comigo, é uma loucura! Se sou uma só pessoa
ela me divide em várias? Não é para deixar as pessoas loucas? Veja a
mais complicação que ela faz: “O verbo muda de forma para indicar a
pessoa, o número, o tempo e o modo”. Já pensou que complicação louca? É
de arder a cuca do estudante e dos sábios. Eu sou uma pessoa por nome de
batismo e registrado em cartório: Verbo. Eu não sou Deus para ser tão
místico assim. Depois ela, a gramática, diz: “O verbo varia em número e
pessoa: Eu, tu, ele; nós, vós eles”. E “você” onde fica nessa história
de regras? “Você” também não é pessoa? Aparece o aluno inteligente e
pergunta: E por que a gente usa mais você de que tu? Então ela vem com
aquela história arcaica e explica: Você é o antigo “vosmicê,” que hoje é
vós e não mais vosmicê. O aluno pergunta: E por que usamos vós que é
plural a uma pessoa? Vós sois meu aluno. Não deveria se: Tu és meu
aluno? Mas a dona gramática fica revoltada e com razão. Tu é o singular
de vós e não de você. É difícil a flexão do verbo na segunda pessoa do
plural: vós. Olha como a dona gramática exige que se use o plural de tu:
Vós dissestes a verdade. Vós sabíeis que sou professor? Mas é mais
fácil usar você que vai para a terceira do singular, embora você seja da
segunda pessoa do plural: Vosmicê. E não você que fica na terceira
pessoa do singular. Agora, dona gramática, você complicou tudo! Eu vou
mudar para Portugal, pois lá não há essa complicação toda. Lá é: Eu que
falo para ti (tu), eu e tu falamos dele. (de+ele=dele), terceira pessoa.
Não fala você no lugar de ele. Bem, gostaria de que eu não fosse tão
complicada assim, mas o meu nome é gramática e terão que me respeitar.
Mas sou complicada mesmo. Nasci assim e assim serei para ser usada no
meu lugar devido. Agora, vem a mais complicação. Tempo do verbo que são
três: Presente, passado e futuro. Vem mais outra complicação: O
pretérito divide-se em três: Pretérito perfeito, pretérito imperfeito e
pretérito mais que perfeito. Entendeu? Eu, não! Como posso entender se a
minha professora primária não existe mais? Expulsaram-na das escolas.
Vai aprender sabatina agora com quem? E o beabá do ceacá ceocó... Um bê
com a é beabá? E quem irá ensinar tudo isso na íntegra das flexões
verbais dos verbos regulares, irregulares, anômulos; os transitivos e os
intransitivos? E os verbos auxiliares e os verbos de ligações? Por isso
é que eu sou uma pessoa muito difícil de usar-me e colocar-me no meu
devido lugar, pois eu sou complicada. Sabe por quê? Eu é que determino o
sujeito. Nós somos irmãos gêmeos. (( O sujeito e o verbo). Às vezes eu
não apareço e fico escondido em “zeugma”. Agora vem outra complicação.
Veja o que diz a dona gramática: O futuro divide-se em futuro presente e
futuro do pretérito. Não complicou mais ainda? Se é futuro é aquele que
ainda virá; é o porvir. Agora ela diz que é pretérito, isto é, passado
do futuro!? Que coisa mais complicada! Depois ela diz que existem modos.
Que modos são esses, meu Deus?! É de rachar a cuca. Aí ela, isto é, a
gramática, explica: Os modos dos verbos são: Indicativo, subjuntivo e
imperativo. E não para com a loucura dela. Sabe o que ela diz: O
imperativo pode ser: afirmativo ou negativo. Agora que complicou tudo!
Dá para você entender? É ou não é ou deixa de ser. Ou você é o meio do
campo ou lateral direita, mas tem que fazer gol e não levar de “sete a
um”. Ainda ela vem novamente a complicar: Formas nominais do verbo:
Infinitivo pessoal e impessoal; gerúndio e particípio. Está louca, dona
gramática!? Quer deixar a gente louca? Eu sou uma pessoa tão simples,
que o Mestre dos mestres afirmou que Ele é o “Verbo de Deus feito
homem”. Eu sou uma pessoa divina e respeitada. Não sou assim tão
complicado como a senhora, dona gramática. Quer fazer-me de místico?
Não, não o sou. Sou apenas o verbo que comunica, que aviso, que sempre
estou na boca de todos sem exceção. Sem mim nada poderá fazer. Todos sem
mim ficam mudos e surdos. Agora, direi a verdade: Eu sou complicado; e,
muitas vezes sem saber me usar, me assassina sem perdão. E isso é muito
ruim para o desenvolvimento econômico de um País como o nosso. Opa!
Esqueci-me de uma coisa mais complicada ainda que a dona gramática
explica, mas não explica. Sabe o que é? Você se lembra que ela disse que
os verbos têm três conjugações? E eles terminam em ar, er ir? Lembra
que ela afirmou? Mas onde fica o verbo por e seus derivados, pois não
existe conjugação de or! Ela não é complicada de mais? Agora alguém
inteligente lhe perguntou: E o verbo por, dona gramática, donde é que
ele apareceu? E ela, com a cara de pau, vai ao baú do século XIX, e
retira para explicar. E diz bem calma e erudita: Havia um verbo que era o
verbo “poer”, da segunda conjugação. Por não lhe usar mais, se tornou
“arcaico” e se abreviou em por. Poré da segunda conjugação, (er)
entendeu? Puxa, dona gramática, agora eu estou satisfeito com a sua
explicação. Mas nas escolas existe uma professora como a senhora?
Existia nos meus tempos do “latim”. Mas hoje virou sucata a escola em
todo país, e faz de conta que eu ensino e faz de conta que eu aprendo; e
adeus verbo, nem quero saber quem o é. E por que nós vivemos num País
latino Americano? Se não falamos mais o latim?
Agora,
“estudante do Brasil, tua missão é a maior missão”... Quer aprender sem
mim, fica difícil se comunicar com o mundo de hoje: Mão de obra boa
para aprender e ensinar. Dona gramática pede humildemente que haja boas
escolas e bons professores em todo Brasil como exige a dona gramática.
Eu ouvi um senador dizer: “Seje mais coerente, caro colega” Doeram os
meus ouvidos.
Um forte abraço desse seu amigo: O VERBO.