sábado, 25 de fevereiro de 2012

O que é ser cristão?


O QUE É SER CRISTÃO?
Texto de Honorato Ribeiro dos Santos.

Depois que Jesus morreu, todos os apóstolos ficaram tristes, taciturnos e com muito medo. Esse medo estava em cada um: “Tudo se acabou”. Tudo que o Mestre fez e ensinou, os romanos e religiosos destruíram. Nenhum dos apóstolos acreditou na ressurreição de Jesus.
Primeira pessoa que viu Jesus ressuscitado foi Maria Madalena, que acreditou que aquele homem seria o jardineiro daquele local. Ela, também, não acreditou que Jesus teria vencido a morte pela ressurreição. Mas, quando Jesus chamou pelo seu nome, ela percebeu que não se tratava de um jardineiro, mas a voz soou em seus ouvidos e reconheceu que era a voz do Mestre. Naquele momento, foi às pressas falar com os apóstolos anunciando-os que Jesus tinha ressuscitado. Também os discípulos de Emaús não reconheceram Jesus e consideraram-No como se fosse um estrangeiro. Mesmo conversando com Ele pelo caminho até chegarem à sua residência, não O reconheceram, nem mesmo ouvindo a voz do seu Mestre. Somente quando Jesus abençoou o pão, os seus olhos se abriram e O reconheceram. Imediatamente voltaram para anunciar aos apóstolos e discípulos que Jesus tinha ressuscitado. Mas Tomé, um dos doze, disse-lhes: “Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei”! Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco!” Depois disse a Tomé: “Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé.” Respondeu-lhe Tomé: “Meu Senhor e meu Deus”! Disse-lhe Jesus: “Crestes, porque viste. Felizes aqueles que creem sem ter visto!” (Jô 20 24-29).  Tomé só acreditou, quando viu os sinais dos pregos nas mãos e o sinal do ferimento do lado. Talvez Mateus escrevesse esse diálogo da descrença da ressurreição de Jesus, porque já estava havendo no meio da comunidade a descrença da ressurreição. Tomé está representando todo o descrente. Todas essas personagens duvidosas da ressurreição de Jesus Cristo são representadas em cada um de nós que afirmamos ser cristão e discípulos de Jesus ser semelhantes a Tomé. Mas Tomé foi o escolhido como incrédulo para que a comunidade de Mateus fosse feliz sem vê. Ora, muitas vezes somos como Tomé, ora somos como os discípulos de Emaús ora somos como Maria Madalena. Vivemos a caminhar sempre e a duvidar; já chegamos ao século XXI da era cristã e ainda poucos de nós acreditamos na ressurreição da carne e na vida eterna! Poucos são os que acreditam em Jesus ressuscitado, pois querem vê-Lo com os olhos biológicos e não com os da alma pela fé. Querem ver e tocá-Lo como incrédulos, como fora Tomé. Os que veem com os olhos da alma são os que Jesus disse: “Felizes aqueles que creem sem ter visto!” (Jo. 21, 29). 
Ser cristão é ser feliz sem ver e sem tocar e apalpar em Jesus. Mas é ver, com os olhos da fé e com a força da alma, o Cristo ressuscitado e na vida eterna. Onde está toda nossa crença e fé viva é em Cristo Jesus ressuscitado. E hoje são poucos que creiam em Jesus ressuscitado. Então diremos: Somos cristãos, cristãs felizes? Ou somos incrédulos como Tomé? Se estamos construindo em nossas mentes um modelo de um Jesus individualista!... Um Deus do meu jeito; da minha crença ideológica; de um deus em pedaços, que cada um faz e fabrica na sua mente; um Deus que eu domino e, quando quero receber um milagre, Deva ser imediato que posso torcer o seu pescoço e ordenar: Amanhã vai haver um milagre em tal igreja! Compre e leia a Bíblia do milagre! Cada um que modela um deus em sua vida egoísta, constrói igreja de pedra e na fachada coloca um nome e atrai multidões que acreditam nos falsos profetas e fanáticos religiosos. Não acreditam mais no Deus que criou o homem e a mulher à sua semelhança, mas num deus que cada um criou em sua mente fanática. O fanatismo é droga, pois a pessoa fica alienada em sua ingênua crendice.  Por isso a vida de cristão não se tem e nem vive mais como os que viveram e deram seus testemunhos; derramando seus sangues em testemunho, à sua paixão, morte no Cristo ressuscitado. Não posso generalizar, pois há ainda até hoje, em pouca quantidade, os que fazem à vontade de Deus e estão a serviço do próximo, tanto na igreja como fora dela.
Na sua vida pública, Jesus convidou homens rústicos para serem seus discípulos e, a maioria deles, era pescadores. O primeiro ensinamento catequético foi: “Amai uns aos outros como eu vos amei. Assim serão os meus discípulos, se vos amai uns aos outros”.  Ao enviá-los para anunciar a Boa Nova disse-lhes: “Não leveis nem ouro, nem prata, nem dinheiro em vossos cintos, nem mochila para a viagem, nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão; pois o operário merece o seu sustento”. (Mt 10, 9-10).  Assim começou o cristianismo e se espalhou por toda face da terra. Assim nasceu a Igreja Católica, Apostólica: Um só Senhor, Jesus Cristo, um só povo, comunidade unida na fé e na esperança da ressurreição. Essa comunidade, esse povo de Deus, seguidores e discípulos de Jesus foram chamados de cristão.
Pedro pediu a Mateus que escrevesse todas as coisas que o Mestre tinha ensinado. É verdade, pois, Pedro escreveu, também depois, o seu evangelho, que é bem parecido e semelhante o de Mateus. Esse é um dos evangelhos apócrifos. Mateus reuniu com sua comunidade e começou a escrever em pergaminho o seu evangelho. Muitos meses, e, talvez anos se passassem Mateus com sua comunidade escrevendo o seu evangelho. Afirmam os historiadores que terminou Mateus o seu evangelho escrito em pergaminho lá pelos anos 70 80 de nossa era. Jesus já havia morrido a mais de 40 anos. Mateus com sua comunidade era radical, pois, não aceitava sincretismo e nem chefe, ou líder ou qualquer título a não ser o de irmãos em Cristo Jesus. Aprenderam com o Mestre a doutrina do amor e viviam em comunhão como irmão. “Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuí, mas tudo entre eles era comum.” (At 4, 32). Assim foi crescendo o cristianismo em união como uma só família; Jesus era o Senhor e cabeça, pedra fundamental dos cristãos. Desde o século primeiro até o século quarto viveram enfrentando: de um lado, os romanos com seu poderoso exército, o primeiro perseguidor dos cristãos, Nero. Depois sucedeu outro rei, Décio, no ano 250 a 253; depois sucedeu o mais violento perseguidor que queria acabar e desaparecer a todos os que viviam a vida Cristã, por afirmarem que o único Senhor era Jesus Cristo. Essa maneira de vida ele, Deocleciano, não aceitava outro senhor senão ele. Essa perseguição foi no ano de 303 a 304, mas não conseguiu destruir os cristãos. Então, houve o Edito de Milão, início da paz para os cristãos. Assumiu o poder de rei, Constantino e legalizou oficializando o cristianismo. Mas nos primeiros séculos até o começo do século quarto de nossa era, o poder romano não aceitava a prática da vida dos cristãos que proclamavam Jesus Cristo o único Senhor, pois, foi ele, Nero, um dos primeiros perseguidores dos cristãos; afirmava ser ele, Nero, o senhor e não Jesus Cristo. Do outro lado, o judaísmo, ainda, com mais obstáculo, e os pagãos que eram politeístas. Houve, também, vários cristãos que denunciaram ao rei dos próprios cristão. Os que se alienaram por medo de serem perseguidos e até torturas. Muitos discípulos de Jesus morreram torturados, assassinados derramaram os seus sangues em testemunho a Cristo. Mas houve muitos que desistiram por medo de morrer.
 Há um trecho do evangelho de Mateus, quando Jesus estava sendo interrogado pelo sumo sacerdote, Pedro estava sentado no pátio e aproximou-se dele uma das servas, dizendo: “Também tu estavas com Jesus, o Galileu”. Mas ele negou publicamente, nesses termos: “Não sei o que dizes”. (Mt 26,69-70).  Aqui, nessa negação de Pedro afirmando até que não conhecia Jesus, parece-nos que Mateus colocou na boca de Jesus que afirmou para Pedro: “Antes que o galo cante três vezes tu me negarás”. É um folclore, pois galo não tem hora certa de cantar: pode ser meia noite ou a qualquer hora do dia. Essa negação nos parece que não houve, pois, Pedro deu seu testemunho de fé e coragem sendo o líder dos cristãos. Como já estava havendo na comunidade muitos que estavam com medo de morrer, de carregar a cruz e não querendo sofrer como Jesus, ele introduziu esse conto da negação de Pedro. Na realidade, Pedro não negou o Mestre, mas representando os que não queriam assumir verdadeiramente como cristãos unidos na comunidade, enfrentando as perseguições, os sofrimentos, e até mesmo a morte. Há muitos que se dizem cristãos que não querem sofrer, e, quando acontece qualquer coisa em suas vidas, desemprego, doença, ou fracassos nos negócios, procuram uma igreja e vão atrás de um milagre de Jesus para que eles não sofram. Entretanto, os cristãos do primeiro séculos até o quarto séculos pediam a Jesus os sofrimentos, a paixão e queriam sofrer como Ele. Foi a vida de São Francisco de Assis que meditava a sua vida na paixão de Jesus. Os que anunciavam a Boa Nova enfrentaram perseguições e muitos se tornaram mártires do cristianismo porque tiveram a coragem e a fé no Cristo, na sua paixão e morte e ressurreição. Com todas as perseguições contra os cristãos eles possuíam o poder do Espírito Santo e crescia cada dia a conversão de judeus e de pagãos. Na Idade Média, era comum os cristãos se flagelar e vivendo uma vida voltada à Paixão, morte e ressurreição de Jesus. Não tinham uma vida fora da Paixão do Cristo. Queriam sofrer e contemplavam suas caminhadas vivendo a “Via Sacra”, os sofrimentos de Jesus até o Calvário. É nós hoje, pedimos para viver a paixão de Jesus?
Nos primeiros séculos o lugar mais seguro para se esconder contra as perseguições eram as catacumbas. Daí veio o nome de catecúmenos, aqueles que eram preparados e catequizados pelos apóstolos para receberem o batismo e transformar-se em cristãos. A origem do nome catecismo, etimologicamente é vindo do nome catecúmeno. Como a religião cristã era clandestina por causa das perseguições, eles se comunicavam por sinais que usavam para si comunicarem uns aos outros. O desenho era de um peixe nos caminhos e nas pedras. Peixe é o símbolo de Cristo. Somente os cristãos conheciam esse signo como simbolismo de Cristo.
Quando foi no ano 312, o rei Constantino se converteu ao cristianismo e se fez papa criando o catolicismo e o clero; unindo igreja e estado e construção de arquitetura eclesial. (Igrejas). Criou-se: Dioceses, paróquias e nomes de uma hierarquia clerical, sendo o papa o governo monárquico. Primeiro nome dessa hierarquia clerical: Papa que é um cardeal escolhido por votação. Depois vem: cardeal, bispo, arcebispo, padre, frei e monsenhor (Clero). Todos em obediência ao chefe supremo: O papa. A língua falada para as celebrações litúrgicas era o latim, que faliu em 1965, após o término do Concílio Ecumênico Vaticano Il. Antes era a língua dos romanos: O latim. E os cânticos litúrgicos eram cantados em latim o cântico gregoriano. E a música escrita no missal das celebrações era o “canto-chão”, figuras musicais escritas nas quatro linhas (Tetragrama) ao em vez do pentagrama.  Na celebração da missa em latim, o sacerdote celebrava de costas para a assembléia. Só virava para o povo para pronunciar o “Dominus vobiscum”, isto é, o Senhor esteja convosco em português. “Pater Noster”, isto é, Pai nosso. No fim da celebração, o padre virava para o povo e anunciava: “Dita missa est.” O sacristão respondia: “Deo gracia”. (Graças a Deus). Somente o sacristão que ajudava a celebração da missa. O povo não tinha participação ativa nenhuma. O sacristão e o Padre ficavam de costas para o povo. O sacristão ajoelhado respondia em latim, o que nós hoje respondemos em português, na hora da celebração eucarística. O povo católico só podia comungar se confessasse. Até para se casar os noivos teriam de confessar ao padre. Não recebiam a hóstia na mão como hoje; o padre colocava a hóstia na boca e o comungante ficava ajoelhado. As mulheres para receberem a comunhão usavam véu na cabeça e as idosas usavam xale.  Após a celebração de um casamento, os nubentes comungavam.   Tudo o que nós hoje respondemos na celebração eucarística era o sacristão que respondia em latim. Somente o padre dava a comunhão. Não havia culto; somente a reza do terço à noite pelos fiéis. Não celebrava missa à noite, exceto a do natal e fim do ano. Sempre era de dia. Essa celebração litúrgica começou no século IV até o século XX. Mudou-se no ano de 1965, após o término do Concílio Ecumênico Vaticano II. Os padres tiraram a batina e a coroa. (Quando o padre ia ao barbeiro fazer o cabelo, teria que fazer uma circunferência bem grande na cabeça significando uma coroa, pois, o padre devia viver em santidade e era o representante de Jesus).
A igreja recebeu o nome de: Igreja Católica Apostólica Romana no lugar do “Cristianismo católico”. Com sua sede em Roma, depois de muitos anos criou-se a “Cidade do Vaticano”, no dia 11 de fevereiro de 1929, sendo o primeiro papa Pio XI a residir. Sua Santidade, o Papa, governo religioso e político-monárquico. Embora sendo chefe e representante de Jesus, ao enviar, ensinar e anunciar a palavra de Deus, que é infalível, pois, os ensinamentos é genuinamente a palavra que liberta a qual foi recebida dos apóstolos e a conserva até hoje sem violar ou alterar. (Moral cristã). Ela é a responsável de anunciar e denunciar para todas as gentes na face da terra. Em sua hierarquia clerical, a Igreja criou seminários menores e maiores para preparar jovens com o dom celibatário de presbítero ao serviço do evangelho com estudo de filosofia e teologia para depois, dos estudos e preparados intelectualmente, serão ordenados pelo bispo e sagrados na ordem sacerdotal oficial para celebração eucarística. De um lado a hierarquia sacerdotal, igreja clerical; do outro lado os leigos são todos que não pertencem à hierarquia clerical: os fiéis em obediência aos representantes e responsáveis para dirigirem a igreja. O bispo em cada diocese e os padres em cada paróquia. O bispo diocesano nomeia o padre em cada paróquia para assumir como pároco. Assim forma o corpo de toda a Igreja Católica Apostólica Romana sendo a cabeça e pedra fundamental, Jesus Cristo. Ele é a pedra angular e a verdadeira igreja. Nós, os cristãos, depois do batismo e crisma, recebemos  (Sinal de Deus) o carisma, o dom do Espírito Santo. Transformamos em templo de Deus, e igreja peregrina. Somos igreja, corpo místico de Jesus que é a cabeça. Entre clero e comunidade somos todos congregados num só corpo místico de Jesus Cristo, sendo Ele a cabeça desse corpo. Todos nós devemos viver como irmãos e irmãs em Cristo.
O império romano caiu no dia 04-09-476. Roma ficou sendo a capital da Itália com o governo monárquico e continuou até o século dezoito a união da Igreja Católica com o Estado. Foi o clero que criou a divisão entre os comandados e os que mandam. Os que comandam os sagrados padres, na sua hierarquia e os fiéis os leigos. O nome leigo é de origem grega e significa “membro do povo de Deus”. Assim sendo, todos que confessam a fé cristã são membros do povo de Deus. Melhor ainda: Jesus é a cabeça da Igreja, povo de Deus, e todos congregados em Jesus Cristo são membros do corpo místico de Jesus Cristo. Quer na hierarquia clerical, quer na comunidade; todos são leigos, dentro e fora da igreja.
No Novo Testamento existem nomes como: Presbítero, diácono, apóstolo e bispo. Mas papa, padre, cardeal, arcebispo, monsenhor, frei, não existem esses nomes no Novo Testamento. Foi criação de quem organizou e oficializou a igreja instituição religiosa, no ano de 312, século IV de nossa era. Como também não existe dízimo, existe coleta, oferta dos fiéis à igreja. Encontra-se pagar o dízimo no Antigo Testamento, mas no Novo Testamento, não. Como também os paramentos e vestes dos padres, bispos, cardeais e papa. São vestimentas do império romano, mas não são vestes dos apóstolos ou de Jesus. Porém, os apóstolos, diáconos e bispos se vestiam iguais a Jesus. Não tinha vestimenta diferente do povo judeu. Somente os sacerdotes e sumo sacerdotes judeus se vestiam diferentes, mas seguiam o Antigo Testamento. No Novo testamento não existem vestes de presbíteros e nem de apóstolos ou bispos. São criações que ao se organizar a igreja-instituição-religiosa criaram-se os paramentos.
Hoje, já estamos no século XXI, e os cristãos não vivem como aqueles que viveram nos séculos primeiro até o começo do século quarto, nos anos 312. Não podemos generalizar, mas houve muitos virtuosos santos que viveram o verdadeiro cristianismo dos tempos dos apóstolos, assim também existem muitos virtuosos cristãos, dentro e fora da igreja instituição, que são verdadeiros protótipos do evangelho; vivem-se, verdadeiramente, a vida cristã até os nossos dias atuais. Como exemplos: Francisco de Assis, Santa Tereza, Santa Rita de Cássia e Ir.  Dulce, aqui no Brasil e outros fora da igreja instituição e da hierarquia clerical vivem uma vida contemplativa, no amor e caridade; amando a Deus e ao próximo. Verdadeiros samaritanos.
Iremos fazer uma pergunta a nós mesmos: Onde encontramos na Bíblia esses nomes que são sagrados chefes da igreja cristã? Padre, papa, cardeal, monsenhor, arcebispo, frei; diocese, paróquia, arquidiocese, basílica e arquiteturas de igrejas góticas, barrocas, capela? Tudo foi criado com o nome de sagrado, porém, são criações e organizações de instituições religiosas à serviço e à servir toda a comunidade na fé e na esperança da ressurreição e na vida eterna. Jesus pregou “Reino de Deus” não pregou e nem tampouco mandou construir igrejas de pedras. “Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias”. (Mt 26, 61). Jesus estava falando que depois de sua ressurreição iria nascer um novo povo, uma nova comunidade com sua paixão e morte e ressurreição, o novo “templo de Deus em cada criatura, um novo mandamento, a nova igreja”. Cada um nesse caminho, que é Jesus, paixão e morte e ressurreição é o templo erguido por Ele em cada coração. São Paulo afirma: “Não sabeis que sois templo de Deus e o Espírito Santo habita em vós”?
A igreja, palavra grega, que significa “caminhar para fora”. Também pode ser entendida por: “Povo de Deus, assembleia, comunidade, mas todos unidos como irmãos servindo uns aos outros e vivendo em comunhão”. Não tendo essa experiência de vida cristã, essa prerrogativa de vida em comunhão, não poderão ser considerados discípulos de Jesus e nem tampouco receber o nome de cristãos, cristãs, mesmo sendo batizados. Poderá ter o nome de cristão, mas cristão-ateu, pois quem não vive em comunhão com todos, sendo Jesus o único Senhor, não poderá ser chamado de cristão, embora se fale, se diz sê-lo, mas verdadeiramente falando, são cristãos ateus, pois modela um Deus em sua mente do seu jeito de viver e se enganar com o rótulo de religioso, religiosa. Veja se o que afirmo não é verdade: Quantas igrejas cristãs existem no mundo umas separadas das outras a dizer que são cristãos e estão salvos? E o que é pior, cada um ataca e faz rixa contra outras denominações religiosas, criticam e vivem em desunião. Quem pertencer a tal igreja sua é considerado como irmão. Não sendo, não o é. Transformaram a palavra de Deus em dissensões por causa do ouro e da prata e com essa atitude estão destruindo o que Jesus inaugurou no coração de cada um: “Reino de Deus”. Viver em união e fraternidade. Jesus orou ao Pai a união de todos assim como Ele e o Pai é um. Ordenou a todos para nem mesmo mochila ou duas roupas, ouro e prata levarem para anunciar a Boa nova. “Não podeis servir a Deus e a riqueza”. Como viver hoje num regime capitalista e consumista a obedecer a essa mensagem de Jesus? “Não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo pelo que vestireis”. (Mt 6,24-25). E o consumismo que anuncia dia e noite e invade a nossa casa que devemos ter muito dinheiro, bom emprego, bom status sociais e as novelas que se nos apresentam coisas chiques, roupas chiques, modelo de roupa e calçados que não deixam de ser uma propaganda e um atentado ambicioso para quem vive alienado às propagandas possuir também. Estamos envolvidos num mundo de fantasias fora do evangelho e de ser cristão, pois o ter é mais forte e dominador. Mais atraente e com entretenimentos que nos envolvem num caminho que não o é aquele que nos diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro”. “Não podeis servir a Deus e a riqueza.” (Mt. 6, 24). Pergunta para todos nós que afirmamos ser cristão, cristã: Quem é Deus? O dinheiro ou os ensinamentos de Jesus com o discurso das bem-aventuranças? Amamos a Deus sobre todas as coisas ou as coisas que amamos mais? Seja cada um de nós sincero: Quem tem mais valor é o ter ou o ser? E se é o ser, porque somos diferentes uns para com os outros? Somos estranhos e temos medo de quem não conhecemos, mesmo sendo humano e semelhança de Deus. Onde está a nossa razão de ser humano se estamos desumanizando uns aos outros, ao em vez de amarmos-nos uns aos outros dividimos em ideologia política, social e religiosa? Cada um escolhe a sua crença e se separa do outro a não querer chamá-lo de irmão. A sociedade está cambaleando, ébria, drogada porque há divisão: Ricos, classe média alta, classe média, média, classe média baixa, pobre, pobreza e miseráveis. Por causa disso há assaltos, seqüestros, assassinatos e corrupções nos poderes. Se perguntar a esses pessoas se acreditam em Deus, responderão: “Cremos.” (?!...). Então não é o Deus ensinado por Jesus. Criaram um deus do seu jeito de viverem em desunião e em desarmonia. Cristianismo é outra coisa mais organizada e mais servidora: “Um por todos e todos por um”. É viver como Jesus viveu; amar como Jesus amou. Ensinar como Jesus ensinou e perdoar como Jesus perdoou.
Veja o que nos diz Paulo: “Pregar o evangelho não é para mim  motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o evangelho! Se eu exercesse minha função de pregador por iniciativa própria, eu teria direito a salário. Mas, como a iniciativa não é minha, trata-se de um encargo que me foi confiado. Em que consiste então o meu salário? Em pregar o evangelho, oferecendo-o de graça, sem usar os direitos que o evangelho me dar. Assim, livre em relação a todos, eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Com os fracos, eu me fiz fraco, para ganhar os fracos. Com todos, eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns. Por causa do evangelho eu faço tudo, para ter parte nele.” (ICor. 9, 16-19. 22-23). Que grande lição Paulo nos dá para que sejamos realmente cristãos! Por causa do capitalismo e o consumismo o dinheiro é mais forte; o ter é mais valorizado. Então eu pergunto a mim mesmo: Sou deveras cristão? E vocês que de igreja em igreja não vivem como irmãos e alvoroçam ser evangélicos, carismáticos a decorar capítulos soltos e criam um deus de seus modos de sê-lo? Quem é Deus verdadeiro senão o que Jesus nos ensinou no Pai Nosso? “Seja feita a vossa vontade”... Quem faz? Onde estão aqueles que se dizem cristãos? Guerra, fome, peste, exclusão social, política de déspotas, exploração aos trabalhadores e desvalorização do ser humano, principalmente a transformar a mulher em liberdades sexuais. Famílias se degradando, pobres sendo desumanizado e marginalizado por causa de um sistema político que criaram uma pirâmide dos que estão em cima a esmagar os da base. Ao fazer a estatística afirmam-se ser cristãos. Mas realmente os são: “Cristãos ateus.”  Que vale mais a ser cristão é ficar rezando e lendo trechos ao seu bel prazer ou ser um “samaritano?” Leia essa parábola e reflita bem o que Jesus ordena para cada um de nós. “Vá e cuide de seu irmão”. Que irmão Jesus está falando? Irmão de pai e mãe, de congregação religiosa ou irmão e irmã em Jesus? Disse Jesus: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” E apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. (Mt 29, 48-50). Está contido no Pai Nosso: Seja feita a vossa vontade. Eis a família verdadeira de Jesus: Ele é a cabeça e todos que fazem a vontade de Deus é o corpo místico de Jesus Cristo.
O nome de Jesus virou uma propaganda, mas a vida de cristão a fazer a vontade de Deus está cada vez mais não sendo vivida. Cada um segue o seu caminho sem se importar que o caminho é Jesus em comunidade única com o nome de cristão. Cristão não é um crachá que dependuramos no pescoço, mas com vida vivida com perfeição e com amor.
Há muita gente estendida debaixo da ponte, nas periferias, nas filas dos SUS a morrer à míngua e não aparece um samaritano a socorrê-los. Não há mais bela e eficaz oração senão a assistência ao irmão, irmã excluída do convívio social, político e religioso, no mundo de hoje. Quando um irmão ou irmã está doente ou sem emprego ou passando necessidade, vá ao encontro e ajude os necessitados; isso é a verdadeira oração. Ficar rezando pedindo saúde e consolo ao irmão é comodismo puro. Ser cristão, cristãs não é ir às igrejas pedir cura do corpo biológico com orações patológicas, enquanto se esquecem da vida espiritual e a conversão. Viver a espiritualidade é a oração e ação. Fazem orações patológicas e se esquecem de viver como cristãos e cristãs. Cada um segue e vive a sua própria doutrina da separação e de conformismo. Não é ação do cristão. Veja como vivia Jesus e os apóstolos: Curava os que estavam doentes para dizer-lhes que Deus não quer que nenhum de nós viva doente, com fome, sem roupa, sem moradia, sem trabalho digno e salário digno; excluído do convívio social como na época de Jesus e Ele foi criticado pelos religiosos, porque Jesus cuidava dos excluídos, dos que eram considerados pecadores pelo radicalismo e preconceito e fanatismo religioso dos fariseus e escribas.  É indo ao encontro do irmão necessitado é que realmente estamos orando. Não encontramos em parte nenhuma do Novo Testamento em que os cristãos viviam a rezar para alguém que estivesse doente ou sofrendo exclusão social ou não tendo emprego. Pelo contrário: Todos eram unidos na oração, na fração do pão, e as coisas que possuíam, eram de todos e para todos. Ninguém era dono de nada. A finalidade era viver como irmãos em Cristo Jesus. Na comunidade dos cristãos ninguém passava necessidade e ninguém vivia na miséria. Era um por todos e todos por um. Era uma comunidade igualitária e viviam como irmão em Cristo Jesus. Isso é que é conversão. Converter é ser cristão fazendo a vontade de Deus. Viver o evangelho é se despir do mundo materialista e de competição de valores do ter. Todos nós deveremos ser operários da Boa Nova, pois a messe é grande e os operários são poucos. Quer dizer, precisa catequizar os batizados a se transformarem em cristãos verdadeiros a deixarem de ser cristão-ateu, onde no mundo é maioria.
A criação de diáconos foi para que eles distribuíssem os bens que recebiam dos convertidos, para todos igualitariamente. Viver a vida cristã é viver essa experiência de viver como irmão.
Há uma encíclica muito eficaz que fala sobre tais problemas políticos, sociais e religiosas: A “Rerum Novarum”, de Leão XIII. Foi ela que derrubou o “Muro da Vergonha”, que separava a Alemanha em duas. Foi ela, também, que, o presidente Getúlio Vargas se baseou e criou a Lei Trabalhista no Brasil e sindicatos e os direitos trabalhista. Mesmo que a Igreja clerical e hierárquica não vive mais a dos primeiros séculos, não deixa de ser a igreja fundada por Jesus Cristo: “Igreja Católica Apostólica”. Somos todos nós igrejas com a mesma missão de missionário, quer pertencendo ao clero, quer não. Ainda existe a igreja fora da igreja que não deixa de ser igreja, templo que habita o Espírito Santo.
Não estou fazendo aqui um paradoxo ou protestando contra criação da instituição religiosa. (eclesiologia). Não. Estou descrevendo a historicidade da caminhada da igreja, esclarecendo a mudança que houve a partir do século IV para cá. Entretanto, a igreja clerical organizou e criou escolas, desde o primário à faculdade. Criou cartório de registro civil e fez a história da humanidade acontecer. A Igreja tem poder político, social e religioso no mundo inteiro. Houve falhas? Houve, pois se trata de organização humana onde poderá haver tropeços, mas não deixa de ser uma instituição religiosa, com o carisma e poder do Espírito Santo, igreja peregrina, santa e pecadora. Mas ela, a Igreja, através de concílios vem lutando e insistindo na unidade dos cristãos. Houve vários concílios e houve avanços e mudanças, porém, é pouco ainda. Precisa que haja mais santos e santas com novas idéias como afirma na encíclica Gaudium et Spes. Os papas têm orientado e doutrinado o povo e povos anunciando o evangelho com coerência e clareza. Precisa de reforma urgente, precisa. A Igreja tem se preocupado bastante com a vida dos excluídos e da fome que se grassa no mundo todo. Como também a desunião dos cristãos, e realizando temas ecumênicos, para que possa haver, entre todos os cristãos, um só rebanho, povo de Deus, e um só pastor, Jesus Cristo. Jesus Cristo, a pedra fundamental, a cabeça do corpo místico, desta Igreja, assembleia, comunidade de fé, povo de Deus e toda a humanidade é o corpo místico de Jesus Cristo e Ele a cabeça. Por isso é que ela nunca foi derrotada e nunca será. Nem mesmo o clero, na Idade Média, período da “Santa Inquisição”, fez desaparecer e destruir o poder da Igreja; porque quem a governa é o Espírito Santo. Houve dissensões? Houve. Mas ela triunfou com a Contra Reforma. Foi nessa época que surgiram os grandes santos e teólogos como Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, São Jerônimo, santo Ambrósio. São Francisco de Assis e outros santos souberam viver o cristianismo primitivo. Os que romperam contra a Igreja, embora com razão de protestar, não conseguiram viver unidos como irmãos na fé. Houve uma grande dissensão e muitas rixas que se transformaram em milhares de igrejas umas separadas das outras, o que Jesus nunca ensinou a desunião, mas a união a viver como irmãos e irmãs. Veio para nos ensinar a amar uns aos outros e perdoar os que nos tem ofendido.
Foi por isso que Jesus se encarnou, se humanizou, para que cada um de nós se encarne e humanize na caminhada da busca da espiritualidade. Jesus faz-nos uma pergunta: “Quando eu vier – sua parusia – encontrarei fé na terra?” É uma pergunta para quem não quer viver como cristão-ateu. Sendo cristão, Jesus encontrará fé naqueles que se parecem com Ele e vivem como Ele viveu. Essa é a fé que Jesus quer encontrar aqui na terra, quando vier nos julgar. 
A Igreja fundada por Jesus é católica, isto é, para todos os povos. Igreja se entende: comunidade de fé e vida no Cristo Jesus ressuscitado. Povo de Deus, com Deus e em Jesus Cristo. A Igreja Católica Apostólica com sede no Vaticano é a continuação do cristianismo e da doutrina dos apóstolos. Houve uma organização social e religiosa em hierarquia, mas não deixou de ser a igreja fundada por Jesus Cristo e assistida pelo Espírito Santo. E Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Eu sou a cabeça e vós sois os membros. A pedra angular é Jesus. Ele é a verdadeira igreja e nós os membros dela congregados pela fé em Cristo. Jesus veio nos trazer o Projeto de Deus, projeto de salvação se encarnando como homem; e com sua paixão e  morte de cruz em remissão por toda a humanidade ressuscitou. Restituiu um novo “Templo” em cada um que faz a vontade de Deus. Não morreu por religiões e igrejas em competição umas contra as outras sem viver o: “Amais uns aos outros como eu os amei, mas para os que fazem a vontade de Deus. Essa é a família de Jesus Cristo, Salvador da humanidade. “Quem não carregar a minha cruz não é digno de mim.” Aí está uma proposta a ser cristão. Ou carrega a cruz e faz dela um instrumento da paixão, morte e ressurreição, ou deixa de ser cristão; renuncie, pois Paulo afirma: “Porque há muitos por aí, de quem repetidas vezes vos tenho falado e agora o digo chorando, que se portam como inimigo da cruz de Cristo, cujo destino é a perdição, cujo deus é o ventre, para quem a própria ignomínia é a causa de envaidecimento, e só tem prazer no que é terreno.” “Nós, porém, somos cidadãos dos céus.”  (Fil. 3, 18-20).
hagaribeiro

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O homem que vendeu o rei.






O HOMEM QUE VENDEU O REI.
 Tempo quaresmal.
Texto de Honorato Ribeiro dos Santos.


No mundo cristão, e não cristão, contam que um dos discípulos de Jesus Cristo O traiu vendendo-O por trinta moedas de prata. Não digo que seria uma traição, pois, traição é um golpe de derrubar alguém e ganhar vantagem se promovendo. No caso de Judas, ele foi enganado pela sua ganância do dinheiro e, também, de ter pensado que o seu Mestre seria o rei como Davi, para libertar o povo judeu da escravidão do domínio do poderoso chefe político César, rei de Roma. Então ele, Judas, renegou ao Mestre, que é diferente de traição. Quando ele se sentiu que estava enganado com tal ideia, ele se arrependeu e foi desfazer-se do negócio. Quem trai alguém não se arrepende, pois, recebe a paga dos rivais grandes privilégios e tem lugar importante entre os que queriam destruir o homem que trouxera novas ideias de um novo Reino: “O Reino dos céus”. Mas Jesus Cristo veio resgatar Israel dos erros que cometeram os primeiros viventes, dando-lhes um novo “Mandamento do amor”; não aboliu a Lei dos profetas, mas interpretou destruindo as tradições e o fanatismo religioso dizendo: “Amai a Deus sobre todas as coisas, este é o primeiro mandamento, e o outro é semelhante a esse: “Amai o próximo como a ti mesmo.”  “Aí está a Lei e os profetas”. Não entenderam a sua mensagem e, por isso O condenaram à morte mais bárbara: a morte de cruz.
Bem, agora, vamos questionar quem é Judas Iscariotes. Esse nome de Iscariotes não se encontra nome de cidade nenhum do povo de Israel e nem tampouco sobrenome ou nome. O nome Judas existe, mas Iscariotes, não.  Não se sabe a etimologia da palavra Iscariotes.
Bem, agora citaremos o que diz a Bíblia sobre Judas. Mateus 27, 5-8 narra: Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e perguntou-lhes: “Que quereis dar-me e eu vo-lo entregarei.” Ajustaram com ele trinta moedas de prata. E desde aquele instante, procurava uma ocasião favorável para entregar Jesus.
Chegado a ocasião, Judas levou a Jesus uma multidão de gente armada de espadas e cacetes, enviada pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciões do povo. – multidão não se pode ler ao pé da letra, pois foram apenas alguns soldados e alguns dos religiosos - Certamente Judas O acompanhou. Mas, quando viu que eles iriam condenar o Mestre, cheio de remorso, foi devolver aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas de prata, dizendo-lhes: “Pequei, entregando o “sangue” de um justo”. Este foi o primeiro a afirmar que era o “sangue de um justo”. Judas reconheceu e confessou que Jesus era “justo”, isto é, não cometeu crime nenhum e nem tampouco cometeu pecado. Questionam os exegetas: “Como Judas entrou no Templo, onde estavam reunidos os príncipes dos sacerdotes e os anciões do povo reunidos em conselho para entregar Jesus à morte, pois era proibido entrar quem não era sacerdote? Somente eles, os religiosos podiam?” Na celebração da ceia Jesus anuncia: “Isto é o meu “sangue” que será derramado por todos em remissão dos pecados.” Judas estava presente, mas não compreendeu as palavras do Mestre: “Isto é o meu “sangue” que será derramado por todos em remissão dos pecados”.
Jesus nasceu e se encarnou como ser humano para humanizar todo ser humano. Nisso Judas estava fazendo parte da promessa que viria nascer o Emanuel, Deus conosco, para a salvação da humanidade. Judas foi um colaborador inconsciente da promessa de salvação. Após a santa ceia onde Jesus transforma o vinho em seu sangue para remir todos os pecadores, aqui, Judas fala que entregou o sangue de um “Justo”. Ao desfazer-se do negócio com os sumo sacerdotes, Judas, cheio de remorso afirma: “Pequei, entregando o sangue de um justo”. Na sentença da condenação a Jesus, Pilatos fez tudo para que Jesus não fosse condenado. Pilatos reconheceu a inocência de Jesus. Enquanto Pilatos estava sentado no tribunal, sua mulher lhe mandou dizer: “Nada faça a esse “justo”. Fui hoje atormentada por um sonho que lhe diz respeito”. Aqui, a mulher de Pilatos, como conta a tradição histórica, que muitas mulheres romanas da elite se posicionavam ao lado dos judeus; e muitas delas aderiram ao cristianismo. É mais uma lenda do que mesmo a interferência da esposa de Pilatos afirmando-lhe que tivera um sonho com o justo. Pilatos foi ameaçado de perder o poder político ao ouvir a chantagem que a multidão em grito disse-lhe: “Se o soltares, não és amigo do imperador, porque todo aquele que se faz rei se declara contra o imperador.“ E Pilatos afirma: “Queres condenar o teu rei?” E os sumos  sacerdotes responderam: “Não temos outro rei senão César!” Pilatos, então compreendeu que estava entre a cruz e a espada. Ou entregaria Jesus condenando-O à morte de cruz ou, se inocentasse, seria denunciado ao rei César e seria deposto do trono de governador. Vendo que Jesus era inocente, pediu uma bacia com água e disse: “Sou inocente do “sangue” deste homem”. Questionam os exegetas: “Sendo Pilatos um romano, como é que ele faz uma citação do livro do Deuteronômio?” (Dt. 21, 6-8). Aqui Mateus faz um paralelismo tirado do Antigo Testamento e colocado na boca de Pilatos. Terceira vez que é citado o nome de sangue. Há um dos evangelhos apócrifos que diz que Pôncio Pilatos se arrependeu e converteu ao cristianismo. Mas esses evangelhos não são oficiais. São apócrifos. Mas agora, várias igrejas cristãs estão aceitando esses evangelhos.
Há um trecho nos Atos dos Apóstolos que diz: que Judas adquirira um campo com o salário de seu crime. Depois, tombando para frente, arrebentou-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram.  Parece-nos que é lenda ou folclore esse trecho. “Papias escreveu que Judas saiu cheio de remorso e lhe atacou uma hidropisia inchou-se todo e caindo-o no chão se arrebentou todo morrendo.” Os cristãos rejeitaram Judas, para que fosse excluído do convívio da comunidade por ter vendido o Mestre. Com esse relato dá para se compreender que não houve enforcamento de Judas, mas um remorso de consciência que simbolicamente os trechos são antagônicos, mas dá um sentido de que ele ficou arruinado psiquicamente. “Um relato um pouco confuso, pois, ninguém cai debruço para se partir em duas partes. É impossível ter acontecido esse episódio.”
Os príncipes dos sacerdotes tomaram o dinheiro e disseram: “Não é permitido lançá-lo no tesouro sagrado, porque se trata de preço de “sangue”.   Mais uma vez é mencionada a palavra “sangue”. Sangue de quem? De Judas que se espatifou no chão e partiu-se em duas partes e se espalhou o seu sangue por toda local da queda? Ou o sangue derramado na cruz? Nesse episódio, Jesus não tinha sido ainda crucificado e derramado o seu sangue em remissão dos pecados da humanidade. Que sangue se refere os que tinham recebido de volta as trinta moedas de prata, que Judas, ao se arrepender, jogou no chão aos pés dos sacerdotes e anciãos? Eu acredito que se referiu ao sangue de Jesus, pois, para isso eles compraram por trinta moedas e não quiseram desfazer-se do negócio, mas não quiseram ficar com o dinheiro e, com as trinta moedas de prata compraram um campo para enterrar os estrangeiros. E esse campo do Oleiro significa: “Campo de sangue”. O profeta Jeremias predisse esse acontecimento. Parece-nos um paralelismo de Mateus citando o profeta Jeremias.
Como, então, podemos afirmar que Judas Iscariotes foi um traidor? Ele não tinha recebido o Espírito Santo ainda para entender a missão de Jesus ao si entregar à morte e sendo condenado a mais cruel: A de cruz. Com a morte de Jesus houve a morte da morte, isto é, Jesus destruiu a morte ressuscitando. Desceu a mansão dos mortos, isto é, a sepultura, primeiro e depois, gloriosamente ressuscitou. Após a sua ressurreição ele se apresentou aos apóstolos e comeu com eles e ficou ainda com eles cerca de quarenta dias. Quem nos conta essa passagem é Lucas no seu evangelho. (Lc. 24, 38-43). Após os quarenta dias Ele se ascendeu aos céus. Se Jesus não tivesse morrido, toda a humanidade estaria condenada à morte eterna. Por isso é que Ele ao ressuscitar, deu-nos vida eterna. Os cristãos do primeiro séculos até o quarto não assumiram a vida de cristão por causa dos milagres que Jesus operou, mas, sim, pela paixão, morte e ressurreição. Todos pediam para si a paixão e enfrentaram com coragem as perseguições, os maus tratos e muitos deram os seus próprios sangues em testemunho à paixão e morte do Cristo ressuscitado. Assim compreendemos que Judas fez parte do projeto de Deus, para que o seu Filho viesse se encarnar e mostrar a todos que Deus existe na pessoa humanizada de Jesus. Jesus e o Pai é uma só pessoa.
No evangelho de (Jo.1, 3. 1, 14) narra: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Tudo foi criado por ele, e sem ele nada foi feito. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, e a glória que o Filho único recebe de seu Pai, cheio de graça e de verdade.” Nenhum profeta, nem mesmo Moisés ou Elias viram Deus. Mas os apóstolos e discípulos viram o próprio Deus encarnado em Jesus Cristo. Hoje nós vimos Jesus através de nossa fé.
Houve uma profecia de Jesus que o Templo iria ser destruído. Nos anos setenta aconteceu que o exército romano entrou em Jerusalém e destruiu tudo. Anos depois desapareceram os escribas, fariseus, anciões do povo, sacerdotes e sumo sacerdotes e o Império Romano foi destruído e desapareceu.
Duas potências religiosas perpetuaram até os nossos dias: A Igreja Católica e o Judaísmo. O judaísmo é o império do povo de Deus. Povo escolhido para que dele nascesse o Messias. Mesmo os judeus sendo culpados pela morte de Jesus, mas Deus conserva-os até que eles se convertam no cristianismo. Essas duas religiões, cristã e judaísmo é povo eleito de Deus. Os judeus porque, entre todos os povos eram os únicos que adoravam um só Deus criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Eram monoteístas; enquanto os outros povos eram politeístas, adoravam vários deuses. Jesus e os apóstolos eram, também, judeus. A diferença entre cristãos e judeus é que eles esperavam a vida do Messias, que nasceria de uma virgem. Ele veio e foi rejeitado por eles e O condenaram à morte de cruz. Os cristãos aceitaram e muitos derramaram os seus sangues por amor à paixão e morte e ressurreição de Jesus. Para os cristãos Jesus já veio e deu a sua própria vida pela humanidade.
Os cristãos esperam a segunda vinda de Jesus, a parusia, e os judeus espera, ainda, a primeira, só que não será a primeira, mas a segunda para julgar os vivos e os mortos, então haverá a escatologia.
O nome de Barrabás é: Jesus Barrabás. Aí houve dois Jesus para serem condenados; um foi libertado e o outro, condenado. Para nós cristãos o Jesus que foi condenado inocente é o Filho de Deus e Deus verdadeiro gerado e não criado, conforme reza o credo.
“Quando Jesus disse: destruirei esse templo e o construirei em três dias”, Ele estava referindo, não o templo de seu corpo, mas o templo da Nova Aliança que tinha feito com o Pai para que, depois de sua ressurreição, todos os seus seguidores seriam: esse “novo templo”. São Paulo afirma: “Não sabeis que sois “Templo de Deus” e o Espírito Santo habita em vós?”  Todos nós que somos discípulos de Jesus somos templo, igreja fundada e inaugurada pela paixão e morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Houve uma profecia e está acontecendo até os nossos dias, quando os que estavam forçando a Pilatos para condenar Jesus à morte de cruz, eles disseram: “Cai sobre nós o seu “sangue” e sobre nossos filhos!” Podemos ver que os judeus, embora pertencessem o povo de Deus, no Antigo Testamento, esse povo está pagando um preço altíssimo do sangue inocente: Jesus Cristo. Milhões de judeus morreram no “Campo de Concentração” na guerra de 1940 a 1945, onde Adolfho Hitler queria eliminar todos os judeus. Mas até hoje eles sofrem perseguições e estão em luta até os nossos dias atuais. Estão pagando um preço alto sobre o que disseram: “Caia sobre nós o sangue e sobre os nossos filhos, isto é, toda a geração judaica”. Como sempre nunca negaram e continuam afirmando ser eles os responsáveis sobre a morte de Jesus. Mas, teologicamente falando, todos nós somos responsáveis pela morte de Jesus, pois Ele morreu pelos pecados de todos. Também quando cada um de nós não age como cristão e vive como se nada tivesse acontecido com a paixão, morte e ressurreição de Jesus e se transforma o Cristo como simplesmente uma personagem que só soubera realizar milagres e nada mais. A paixão,  morte e ressurreição de Jesus só ficou na história e na liturgia quaresmal da semana santa.
hagaribeiro.