sábado, 30 de maio de 2015

UM SONHO SONHADO.







 O SONHO DE JOÃO BISCOITO.
Conto por Honorato Ribeiro dos Santos.

João Biscoito era um homem casado, pai de muitos filhos, mas não vivia bem com sua esposa, pois, tinha outras mulheres com as quais ele vivia em poligamia. Além disso, gostava muito dum samba de roda onde rolava a cachaça e na boemia, urgia era sua vida de noites perdidas sem se importar muito com a sua esposa e filhos. Vivia como o filho pródigo a gastar dinheiro nos prostíbulos com as prostitutas. Não era um esposo exemplar. Era de tradição religiosa, mas desobediente quanto aos preceitos da lei do matrimônio.
Certa vez ele foi para as farras como sempre. Dançou, fez amor, bebeu até encher a cara e foi embora para sua casa; casa onde morava com a esposa e filhos. Chegou à meia noite e deitou num banco na varanda e agarrou-se no sono. Então ele sonhou um sonho esquisito indo caminhando num caminho sem rumo. Chegando bem longe, se encontrou com um homem vestido de branco e lhe perguntou:
-Para onde você vai, João? 
-Não sei...
-Então, como não sabe pudesse ir.
Então, João seguiu naquele caminho esquisito que ele nunca vira, mas segui sem rumo certo. Bem longe ele se deparou à frente de um casarão, e, nele havia um grande portão. Ele bateu e imediatamente o portão foi aberto. Havia uma porção de gente que disse: Olha ele, olha a cara dele! Entre. A gente já estava lhe esperando. Como Ele gostasse muito de cachaça, ofertaram-lhe um copo cheio da branca. Dizendo-lhe: Toma um pouco dessa pinga, pois é da boa. Quando ele foi pegar o copo para tomar o trago, apareceu, de repente, uma mulher vestida de branco, com um manto azul na cabeça e rebateu com a mão o copo de cachaça jogando-o  fora. Ao cair, pegou fogo. Então, um deles falou:
-Siga-me que eu vou lhe mostrar toda casa e muitos quartos com camas a espera de muitos, que ainda estão vivos. É um grande “Motel” luxuoso. Aqui tem de tudo.
Aquele homem mostrou para ele os quartos e dizia o nome de muita gente que ele conhecia e que já estavam reservados para eles. Havia música e muita gente dançando. Era o som de uma sanfona pé de bode. Então ele viu vários homens carregando lenha e entrava no forno em labareda e jogava mais lenha para alimentar o fogo aceso. Mas os homens entravam e saiam sem si queimar. Ele então perguntou ao que estava lhe mostrando tudo:
-Estes homens não se queimam ao entrar no fogo?
-Não. Vou pegar uma mulher para você dançar. É a melhor dançarina que temos aqui.
Trouxe-a e lhe deu para dançar. A mulher o agarrou e saiu com ele no salão grande a dançar, mas quem o manobrava era ela. Os pés dele não tocavam no chão de tanto requebro e agilidade que tinha a mulher. Ele nunca tinha dançado assim em toda a sua vida. O seu corpo já estava todo doendo de a mulher o manobrar pra todos os lados. Ele aí começou a rezar, pois compreendeu que aquele lugar não era um lugar comum. Era coisa fora das graças de Deus. Quem sabe seja, aqui, a “Geena” citada na Bíblia! A mulher o largou e o homem levou para ele ir embora, pois foi chamado por um dos homens que estava carregando lenha e disse:
-Leve este homem, pois ele não é daqui. (!..).
-Está bem. Vamos. O homem abriu o portão e disse a ele:
-Você sabe que lugar é este?
-Não!
-É o inferno.
-Você sabe com quem você dançou?
-Não!
-Foi com a capeta. (!...).
-Você sabe por que você veio aqui?
-Não!
Porque você tem esposa e filhos; e está amigado com várias outras vivendo em adultério. Vá embora. O caminho é este.
Ele voltou por onde ele tinha vindo e no meio do caminho estava em pé o homem vestido de branco esperando por ele. Ele foi chegando e o homem vestido de branco disse para ele:
-Você sabe aonde você foi? Ele sabia, mas respondeu:
-Não.
-Você foi ao inferno.
-Você sabe com quem você dançou?
-Não. (Também sabia).
-Foi com a capeta.
Você sabe quem foi a mulher que derrubou o copo de cachaça para você não beber?
_Não. (Não sabia mesmo).
-Foi a sua madrinha, Nossa Senhora Auxiliadora. Se você tivesse tomado aquela cachaça, não teria voltado mais. Vou lhe fazer uma pergunta: Você sabe por que você foi lá?
-Não. (Ele já sabia).
-É porque você gosta de viver na urgia praticando o adultério e não respeita a sua esposa. Vive amigado com várias mulheres. Você sabe com quem você está falando?
-Não!
-É com seu padrinho de batismo, São José. Agora, vá e peça perdão a Deus, converta-se, corrija tantos erros que cometeu violando a Lei de Deus. Peça perdão à sua esposa pelo mal que fez a ela.
Quando São José acabou de falar com ele, ele assustou, mas não no banco onde ele deitou para dormir e sim jogado lixo, num monturo todo rebentado e a camisa toda rasgada. Levantou-se e foi para a sua casa e reconciliou com sua esposa, pediu-lhe perdão e voltou regenerado como um homem religioso e temente a Deus. Pediu perdão aos filhos e filhas e voltou arrependido como o “filho pródigo” da parábola contada por Jesus Cristo. Foi viver bem com sua esposa e seus filhos. Nunca mais bebeu e afastou-se das farras da urgia. O filho pródigo se arrependeu.
Que sonho horrível desse homem!  
Possa ser que o leitor não acredita na minha saga, mas eu o conheci pessoalmente e o entrevistei indo à sua casa. O seu nome era conhecido por João Biscoito e me revelou toda esta história que já havia contado para a minha mãe, Gertrudes Ribeiro dos Santos. Ele tinha uma propriedade numa ilha, perto de Itacarambi-MG. Ele tinha uma chácara de laranja, banana e lima. Talvez esse sonho sonhado por ele fosse mesmo o inferno vivido por ele, pois, o céu e o inferno estão dentro de cada um de nós. Quem se aperfeiçoa a viver a vida contemplativa, no amor e a caridade, já constrói o céu dentro de si mesmo; vivendo a vida contrária da perfeição, constrói em si mesmo o inferno. Cada um opta para viver fazendo o bem ou o mal; somos livres para escolher o caminho que quisermos.
Fim.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

O CÉREBRO.



TEMOS UMA RIQUEZA IMENSA E NÃO SABEMOS USÁ-LA.
Texto de Honorato Ribeiro dos Santos.

Quem conhece a história de Géssica, que nasceu sem os braços? Pois ela conseguiu formar-se em psicologia, dirigir automóvel, voar de avião e faz coisas impressionantes que quem possui dois braços não é capaz de realizar e executar o que a Géssica faz. Em Januária-MG, eu vi um homem aleijado das mãos e pintava retrato de 3X4 a cor e passava batom nos lábios da foto feminina e ficava perfeita. Ele engraxava sapatos, comia, bebia com os pés. Conheci também Mário Figueroa, um peruano, que não tinha os pés e nem as mãos. Ele só tinha um toco de braços e as coxas. Formou-se em advocacia. Guiava automóvel, atirava com uma carabina na cabeça de um boneco, enfiava linha em agulha mais rápido do que quem tem as mãos. Há no mundo muitas pessoas que nascem deficientes de pernas e braços, mas se tornam heróis realizando coisas incríveis perante nossos olhos que nos fazem tantas admirações.
Nessa semana passada, eu assisti, através do canal Rede Globo de televisão, à um cientista afirmar que ele é capaz de fazer transplante de cabeça. Mas outros cientistas afirmaram que ele não conseguirá realizar. Mas, quando, anos atrás, um cientista afirmou que ele faria transplante de coração, os cientistas discordaram. Entretanto, hoje já é realidade realizar transplante de coração. Por isso, eu acredito que esse cientista irá ter sucesso e o mundo, mais uma vez, com uma nova tecnologia, vai aplaudir com alegria o sonho deste cientista a realizar transplante de cabeça. Não duvido.
Mas um amigo meu me disse: Mas se ele colocar a cabeça de outra pessoa e realizar o transplante, não será mais aquela pessoa e sim a que doou a cabeça. Eu lhe disse: Não, amigo. Será sempre a mesma pessoa, pois o “eu” que sou, serei sempre “eu”, mesmo depois da morte. É que nós somos pessoas psicossomáticas; e não somos inseparáveis. Não é tirando a minha cabeça e por outra de alguém que eu deixarei de ser “eu” mesmo, pois eu sou insubstituível. Aliás, cada pessoa é insubstituível.
Dom José Nicomendes Grossi conversando comigo certa vez, disse-me que tinha lido um livro científico que o escritor afirmava que o ser humano chegará um dia a não mais precisar do seu corpo, mas somente da cabeça. (Tínhamos rabo e perdemos). Também, afirmava o escritor desse livro, que a humanidade ao perder os membros e só ficar a cabeça, também não irá precisar de veículo para si transportar para onde quiser, nem mesmo avião, pois, o que temos mais precioso, que é o cérebro, ninguém usou nem um terço da capacidade que tem: e está parado dois terços sem ser usado por ninguém em nossa cabeça. Outros estudiosos afirmam que, quando o coração para, o cérebro é o último a parar. O nosso cérebro é capaz de saber o que aconteceu séculos atrás e séculos à frente com a força telepática que temos e não sabemos usá-la.
Vou contar um caso verídico de um casal, cujo casal me contou. O marido foi a Salvador submeter a uma operação de úlcera e era já de idade avançada. Operou com sucesso. Mas a sua esposa estava dormindo e sonhou um sonho real, que o seu marido havia chegado e entrando na casa disse: “Sinha, já cheguei!” (Sic). Ela assustou, levantou, olhou as horas, e o dia e anotou no caderno. Como percebeu que ela tinha sonhado, deitou-se e agarrou no sono tranquilamente. Quando o marido chegou, ela lhe perguntou: “Pedro, o que aconteceu com você à noite tal, hora tal, que você chegou aqui, entrou e me disse: “Sinha, já cheguei”. (Sic). Ele respondeu: “Eu é que lhe pergunto, pois você me disse: “Pedro, já cheguei e eu assustei”. Ela lhe disse: Não pode ser verdade! Pois é verdade, Sinha. Eu anotei a noite, a hora e o dia; e pegou a caderneta e mostrou para a esposa. A esposa pegou a caderneta de anotação dela e mostrou para ele e estavam as duas notações as mesmas coisas, sem tirar uma vírgula! Coincidência! Jamais. Telepatia. Somos seres cheios de energias e não sabemos usá-las. O nosso cérebro é o maior computador que Deus nos deu. Temos uma placa mãe cheia de milhares informações boas e ruins. E essa placa mãe nunca enferrujará e não há borracha para apagá-la ou deletá-la. Afirmo que o ser humano, mesmo com esta moderna tecnologia que temos hoje, não chega a ser a maior tecnologia que não sabemos usar: o cérebro que está a dormitar placidamente a espera de um grande sábio cientista saber usá-lo. Mas, Francisco de Assis e vários santos souberam usá-lo que nós chamamos de milagre. Milagre é uma coisa que está além da metafísica, além da ciência saber explicar. Por não saber explicar afirma: Foi milagre, mesmo não acreditando nessa palavra dos religiosos. Não confunda milagre com prodígio ou coisa que a própria ciência resolve. Ela está em outra dimensão bem fora da nossa razão. E que direi senão afirmar que é a potência incomensurável que ganhamos de presente e não sabemos usá-lo: o cérebro. Por isso o livro da sabedoria que se chama Bíblia diz que somos semelhança e imagem de Deus e o Salmo afirma que somos deuses. 

sábado, 23 de maio de 2015

CAMINHAS OPOSTOS.




Texto de Honorato Ribeiro dos Santos.

Nascemos com dois mundos a escolher. Uns escolhem o mundo do bem, outros escolhem o mundo do mal. O mundo do bem tem porta estreita e difícil para entrar por ela; entretanto, o mundo de porta larga é mais fácil entrar por ela e muito optam por passar por ela. Há uma grande metáfora nessas duas portas, mas é uma realidade de cada um administrar sua própria vida. Ninguém é responsável pela vida do outro; todos têm o livre arbítrio e segue o caminho que quiser. A religião cristã afirma que as duas portas são: o céu e o inferno. A porta estreita é a do céu; a larga é a do inferno. Mas existem o céu e o inferno? Tentarei explicar ambos: Primeiro vou explicar, na visão cristológica, o que é céu. Mas nessa dúvida e descrença de muitos questiono a mim mesmo. O que é céu? Alguém me responde: É o paraíso celestial, é a nova Jerusalém, é o Reino de Deus; é, pois, a felicidade eterna. Mas eu questiono novamente. Quem já foi ao céu e voltou para dizer que ele existe? Quem morreu não volta aqui para dizer que há céu ou onde ele está! E o que me dirá alguém que acredita em coisas abstratas ou invisíveis, ou misteriosas? Nada, apenas a sua crença, sua fé sem razão de sê-la. Mas eu, digo eu afirmativamente, sem medo de errar, que ele existe e não tenho dúvida; e ele sofre violência fortíssima. O que é, então, o céu que eu creio. Primeiro é a minha luta interior de ser-me perfeito entre as criaturas e até mesmo entre os bons e os maus. A minha perfeição não me é privilégio nenhum. Nasci para ser perfeito e dele penetro pela porta estreita, que é a mais difícil, mas é a da minha perfeição. Agora vou explicar a minha visão cristológica o que é céu: Sinto-o dentro de mim mesmo. Porque a minha ação é ser perfeito e para isso eu tenho que agir conforme a exigência da perfeição. E como eu ajo? Vivendo a caridade, pois ela é paciente, é bondosa, a caridade não tem inveja, não tem orgulho, não é arrogante, não escandaliza, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor, não se alegra com as injustiças, mas se rejubila com a verdade, não procura viver com as fantasias e entretenimento desse mundo da porta larga. Quem vive a caridade tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, pois a caridade jamais acabará. Tudo acaba, nesse mundo, mas a caridade jamais acabará, pois a caridade é amor, e amor é Deus. Quem ama sabe perdoar, mesmo nos sofrimentos e o coração está sempre aberto para amar. Esforço-me dia a dia para sentir o céu dentro de mim mesmo. E quando eu sair dessa minha estada de inquilino que sou, o “eu” que conduz esse céu, levarei comigo e pagarei o aluguel àquele que me gerou para ser-me perfeito. Agora, direi que o céu existe não externamente, mas internamente dentro do meu eu. O eu que sou eu mesmo, serei eternamente a viver, desde aqui, até a eternidade com o céu. Vivendo assim, sei que o céu é a minha perfeição de ser-me perfeito, embora sendo pecador, mas menos a pecar. O amor e o céu não há diferença nenhum. Quem não tem amor, não terá o céu em si mesmo.  
E o inferno existe? Claro que existe. E está, não lá com os demônios, mas dentro de si mesmo, por escolher a porta larga. Somos todos livres para optarmos para ser bons ou maus. O inferno não é um estado ou lugar onde alguém ao morrer ir para lá. Mas é aqui mesmo que ele está dentro dos que negam a caridade e o amor. São os que não querem a perfeição e não vivem o amor e a caridade. São os que praticam os erros, os escândalos e perderam a ética, a moral, a dignidade de serem cidadãos. São pessoas perversas e que fazem o contrário do que deveriam praticar: o bem, a caridade e o amor. São os que dizem que o inferno é dos outros. Mas esses outros que eles acham que o inferno é dos outros, esses outros eles precisam deles, pois somos seres sociais e um depende do outro. A sociedade é um conjunto de ser humano que busca o crescimento econômico e o bem comum; são seres inteligentes cientificamente que estão a serviço dos outros e os outros precisam deles. Somos iguais em perfeição e imperfeição formando uma sociedade, uns pecando mais e outros pecando menos. Os que pecam menos estão lutando a si aperfeiçoar no dia a dia e sente o céu dentro de si mesmo.  

sexta-feira, 22 de maio de 2015

UM AMIGO E UMA HISTÓRIA TRISTE.



Conto de Honorato Ribeiro dos Santos
Eu tive um amigo que o considerava meu irmão. Vou contar a linda história desse grande artista e músico. Ele, ainda adolescente, entrou na escola de música e fez parte da filarmônica tocando clarineta. Mas ele quis aprender uma profissão e a primeira foi de ferreiro. Dia ele chegou perto de mim e disse-me: olha aqui um punhal e um canivete que eu fabriquei. Peguei os dois instrumentos e olhei admirado, pois parecia que foram fabricados por uma fábrica de tão perfeitos que eram. Depois ele foi ser maquinista, que era de um grande ricaço. Esse ricaço comprou essa máquina, que a gente a chamava de usina de algodão. Era tocada a lenha. Trabalhou muitos anos nessa usina e depois foi ser funcionário da prefeitura para tomar conta e colocar para funcionar o motor Carteppilar, que fornecia luz para a cidade. Mas o que eu quero contar é o dom musical dele. Foi o maior clarinetista que já vi. Ele organizou uma orquestra comigo, onde tocávamos nas festas dançantes e carnaval. Mesmo com o dom musical que tinha, ele comprou uma marcenaria e me convidou, juntamente com meu irmão, a fim de fabricar espreguiçadeiras, pois estavam famosas, aqui e dava muito dinheiro. Os vapores quando chegavam saiam cheios delas, bem como o caminhão de Goiás, que vinha toda semana comprar essas cadeiras preguiçosas. Quando foi um dia, ele me chamou para ir à sua casa e eu fui. Chegando lá ele me mostrou grandes quantidades de notas de cinquenta e cem cruzeiros. Eu lhe perguntei: Como foi que adquiriu tanto dinheiro?! E ele me respondeu: Fabricando espreguiçadeiras com você e seu irmão. Mas sabe por que eu fiz essa economia? Respondi: Não! Eu vou embora para São Paulo, na semana que vem, respondeu-me ele. Eu fiquei triste, pois éramos amigos e juntos fizemos serestas, tocamos em bailes e carnaval e agora ele vai realizar o seu sonho. Depois ele me disse: Olha, as ferramentas de carpinteiro eu vou vender para você e seu irmão. Eu lhe disse: Mas nós não temos dinheiro para comprar, é muito caro. Ele me respondeu: Não se preocupe. Toda semana vocês dão uma parte de suas produções na vendagem das preguiçosas à minha mãe. Vou vendê-la barato para vocês. Eu quase choro de alegria, pois, eu e meu irmão trabalhávamos para ele. Ele era nosso patrão e nos pagava por produção. Na véspera de sua saída, fizemos uma serenata sob a iluminação das estrelas e da lua, que ouviam lá do céu, as nossas canções. Mas como ele tinha muitos amigos, um deles era o pandeirista Bino, que durante toda seresta, enquanto tocava o pandeiro, chorava como criança. Não tinha quem o fizesse acalentar a sua dor da saudade do amigo que iria partir. No outro dia pela manhã, o vapor zarpou levando o meu maior amigo: Joselito. Chegando lá em Guarulhos, ele fez sucesso como músico de clarinete, pois ingressou logo numa filarmônica daquele lugar. Nós nos comunicávamos sempre enviando carta um para o outro. Dia desse recebi uma carta dele, que tinha se casado e era muito feliz. Eu sabendo que ele lia partitura muito bem de primeira vista, enviei-lhe uma partitura de um bolero, letra e música de minha autoria, com o nome: Misterioso Amor. Passaram-se os anos, e ele me fez uma surpresa, vindo aqui com a esposa para matar a saudade dele à sua mãe, irmãs e aos amigos. Eu soube de sua chegada e fui vê-lo. Chegando lá foi uma alegria entre abraços e sorrisos e aperto de mão. Apresentou-me sua esposa, linda e muito educada. Conversamos um pouco, mas ele me chamou e disse-me: Vou pegar a minha clarinete e tocar uma música que fiz um sucesso enorme lá. Você vai gostar demais. É um bolero. Eu fiquei em pé a olhar emocionadamente, pois ele tinha um sopro muito bonito. Para a minha surpresa era o meu bolero que eu tinha lhe enviado a partitura. Não suportei e nem controlei a minha emoção: chorei. Poucos dias ele partiu regressando para a grande Guarulhos. Ele era empregado numa empresa e ganhava muito bem. Construiu uma casa muito boa e grande. (continuação...)

quarta-feira, 13 de maio de 2015

O MAIOR PROBLEMA DE ONTEM E DE HOJE


Um pequeno conto por Honorato Ribeiro dos Santos. (13/05/15).

Casei-me com uma loira sábia, mas não deu certo, divorciei-me;
encontrei-me com uma jovem estudante de faculdade, era morena e linda. Mas  poucos anos fracassei e divorciei-me;
Viajei para a Itália. Lá gostei bastante de uma italiana. Ficamos noivos. Casamos, mas não deu certo o nosso casamento e divorciei-me;
Fui para a Alemanha e lá gostei de uma jovem muito bonita. Ficamos juntos muitos anos. Depois nos casamos. Mas não deu certo e acabamos divorciando-nos;
Voltei para o Brasil. Chegando aqui na minha terra querida, encontrei com uma mulata e nós ficamos noivos. Com toda as minhas experiências do passado e dos fracassos que tive, procurei fazer tudo para que pudéssemos viver e ter filhos. O tempo foi passado até que um dia cheguei do trabalho em casa, e não a encontrei.
Tempos depois, eu já chegando à idade da velhice, sozinho, triste, disse comigo mesmo: De todas as mulheres que casei, somente a velhice me amou.

sábado, 9 de maio de 2015

AS MÃOS DA MINHA MÃE.



AS MÃOS QUE ME EMBALARAM.
Texto de Honorato Ribeiro dos Santos
(Dia das mães).
Quando nasci duas mãos me pegaram e cortaram meu umbigo.  Quando cresci eu a chamei de mãe Telvina. Mas ela não me acalentou, não me dormitou, não me amamentou, foram as mãos de minha mãe. As mãos de minha mãe cuidaram de mim dando-me banho, trocando-me fraldas; dando-me o peito para eu alimentar; cuidando de mim nos seus braços durante as noites frias a me aquecer e perdeu sono e mais sono até que aquelas mãos souberam fazer-me caminhar, engatinhando, caindo, e as mãos me seguravam, para que eu não me machucasse. Mas aquelas mãos sempre me levantavam até que cresci; puderam minhas pequenas pernas andar; e equilibrarem o meu corpanzil de criança. Mesmo assim as mãos de minha mãe me cariciavam, me punham no colo e eu dormia placidamente sono seguro e tranqüilo. Ela cantava canções de ninar, enquanto as mãos dela passavam no meu corpo como se estivessem massageando levemente como se estivesse passando algum creme. Mas não, era o carinho, afeto do amor maternal, que tinha pelo seu filho caçula. Quando me tornei jovem, minha mãe fazia com suas mãos cozido gostoso: o feijão com ossos dentro da panela e o bom tempero, que até hoje, sinto um grande desejo de saborear àquela comida tão gostosa, que era de sua sabedoria sem saber culinária. Aquelas mãos, depois que aprendi a ler, o livro que as suas mãos me deram foi a Bíblia, pois ela era analfabeta e queria ouvi de seu filho a palavra de Deus. Foi a minha primeira catequista. Ensinou-me ser cidadão, com todas as letras. Minha mãe segurava-me com suas mãos e colocava-me em seu colo a contar fábulas, estórias cantadas da onça e do gato, do coelho e a onça, de Zé do Vale e eu dormia e ela me pegava, colocava-me na cama e me cobria para que eu dormisse. Eu já tinha sete anos de idade, Lembro-me muito do aconchego, do carinho e afeto que ela me dava. Os conselhos da minha mãe eram de uma sabedoria, de uma luz impressionante, que parecia de um profeta, pois tudo que ela me falava, que havia de acontecer ao Velho Chico, agora magricela, (está acontecendo), que podia a gente passar de um lado para o outro a pé enxuto, mas hoje estou vendo. As mãos da minha mãe sabiam fiar no fuso, ora na roda, a fabricar grande bola de linha para depois sentar ao lado da almofada a fabricar lindas rendas e vendia para nos ajudar na economia da família. Eu ainda pequeno via as mãos de minha mãe posta a rezar ajoelhada à frente do seu oratório. Todas as ladainhas e contemplações do terço, bem como o Ofício da Mãe de Deus, ela sabia de cor e várias passagens da Bíblia sem saber ler. É que, dizia-me que o pai dela lia muito a Bíblia em família e explicava para os filhos e ela decorou. Quando se casou com meu pai, ele lia sempre a Bíblia para todos nós e ela aprendia mais ainda. Mas eu quero falar das mãos de minha mãe, que costurava as minhas roupas com a agulha e  muitos pensavam ser costurada à máquina. Ninguém acreditava, porque era bem costurada, bem trabalhada que ficava perfeita. As saias dela, aquelas mãos costuravam com perfeição com a linha que ela mesma fiava no fuso ora na roda de fiar. As mãos de minha mãe eram calosas, pois era do uso do machado a cortar lenha para abastecer a casa que, naquele tempo se cozinhava a fogão de lenha. Não havia forno a gás naquele tempo. As mãos da minha mãe lavavam as louças, panelas, as nossas roupas, passavam e punham na mala para dia de domingo a gente ir à missa. Quantas coisas bonitas eu via as mãos de minha mãe fazerem! Não tenho conta das vezes que aquelas mãos faziam: beiju de tapioca ora de massa, cuscuz, torresmos pisado no pilão com faria que as mãos dela seguravam: a mão de pilão para pisar; além do milho pisado para o cuscuz do café da manhã. Como as mãos de minha mãe tratavam peixes! Tratavam um peixe tão bem, que qualquer criança poderia comer sem encontrar sequer uma espinha. Eu distante dela não a vi partir para a morada eterna! Tudo era difícil, naquele tempo: transporte, telefone, estrada asfaltada como hoje, ônibus de linha... Nada havia e por isso não a vi partir daqui dessa estada nossa, onde somos apenas inquilinos; iremos pagar o aluguel ao grande proprietário dessa casa a MÃE TERRA, que um dia nós iremos dormir horizontalmente em seu seio; enquanto o meu “eu” ascende-se ao encontro Daquele que me criou à sua semelhança. A maior tristeza minha é que não tenho sequer uma foto dela! Tempos idos que tudo era difícil, mas o bom era onde minha mãe contava casos, cantava cânticos folclóricos e dava-nos bons conselhos. Saudade das mãos de minha mãe. Mater et Magistra.
(Requiescat in pace).
FIM.