terça-feira, 28 de dezembro de 2010

EQUIZOFRÊNICO CHIQUINHO.


EQUISOFRÊNICO CHIQUINHO.
Honorato Ribeiro dos Santos.

Chiquinho, jovem de família pobre, porém, muito querido na cidade, gostava de vestir-se bem qual um janota. Suas roupas preferidas eram feitas d e puro linho. O linho naquela época, era roupa de gente rica. Poucos pobres vestiam-se por ser bastante caro o tecido linho. Mas o Chiquinho, pobre que era, porém trabalhador juntava o seu dinheirinho e vestia-se à moda dos ricaços da cidade. Todos o consideravam um rapaz decente e que sabia bem se trajar.
Quando apareceram as primeiras bicicletas na cidade, de marca Monark, Chiquinho comprou logo uma e aprendeu depressa. À tarde, ele tomava banho, trocava-se de roupa de linho branco, montava na sua bicicleta e saia a passear pelas ruas da cidade, sempre contente e satisfeito da vida. Ninguém, jamais, vira Chiquinho de mau humor. Sempre alegre e satisfeito com a vida que levava como pobre que era. Gostava de jogar futebol na posição de ponta direita. Ainda me lembro, quando fizemos um amistoso: Rua de Baixo contra Rua de Cima. Sempre terminava em briga, mas Chiquinho ficava fora das brigas. Ele não gostava de confusão contra ninguém.
Depois que construíram a pista de pouso para avião bimotor, surgiram as linhas: Cruzeiro do Sul, a Nacional, a Sadia e a Varig. Essa pegava quarenta passageiros. Muita gente embarcava para Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Brasília e algumas cidades ribeirinhas do rio São Francisco como: Pirapora-MG, Januária-MG, Carinhanha-Ba, Bom Jesus da Lapa-Ba, Cidade da Barra-Ba, Xiquexique-Ba e Petrolina-Pe. Chiquinho, como muita gente da cidade, ia a campo assistir ao embarque e desembarque no avião da Varig. Chiquinho ia na sua bicicleta e nunca perdeu a chegada do pouso da Varig.
Um dia, belo dia! Dia bom no presente, porém, que futuro triste, para Chiquinho...Desceu uma linda moça, aeromoça, que se encantou aos olhos de todos que a viram. Todo mundo ficou encantado com a beleza da aeromoça. Era mesmo linda de enfeitiçar os olhos de qualquer jovem. Mas para Chiquinho, para os seus olhos, a coisa foi diferente: Amor a primeira vista. Ele falava o tempo todo sobre a beleza da aeromoça que ficou apaixonadamente, alucinadamente pela aeromoça, sem, pelo menos conversar com ela; bater um papo. Não sabia se ela era moça solteira ou casada. Para o coração de Chiquinho ela era a sua enamorada, a sua vida. Não pensava mais em outra coisa e sua mente só morava a figura encantadora da aeromoça. Todas as vezes que o avião roncava rasgando o céu da cidade de Carinhanha, Chiquinho montava em sua bicicleta e saia feito louco para ver a sua encantadora aeromoça. Seu coração disparava em taquicardia que parecia sair pela boca de tanta alegria de ver novamente a sua bela enamorada descer da escada do avião, vestida naquela fardamenta linda da Aeronáutica, sorridente e assistindo aos passageiros. Quando Chiquinho batia seus olhos para ela ele dizia: Rapaz, é linda demais, caramba! Não existe outra beleza igual a ela! Puxa vida! E falava o tempo todos e os olhos não saia dela.
O avião decolava e levava a sua encantadora aeromoça; e ele voltava para sua casa alegre, satisfeito.
Dia triste para Chiquinho, quando o avião da Varig pousou e não desceu a aeromoça. Mudou-se de rota. Foi substituído por uma outra aeromoça. Mas, sempre que o avião pousava o Chiquinho ia, na esperança de vê-la novamente. Mas ela não veio nunca mais. Então Chiquinho se entristeceu, ficou taciturno, não sorriu mais; não andou mais na sua bicicleta e se enlouqueceu. Não falou mais com ninguém e falava baixinho consigo mesmo e sorria. Ia para o mato e tirava gravetos, punha-se debaixo do braço e saia pela rua: sujo, cabeludo, descalço; mudou completamente de um janota para um mal trajado. Não perde uma solenidade na igreja, mas sempre com o feixe de vara debaixo do braço a conversar baixinho consigo mesmo e sorria. Muitas vezes falava com a gente e chamava pelo nome; mas raramente acontecia. Chegava à porta de um conhecido, pedia comida; comia ali mesmo, deixava o prato e ia embora. Quem o conheceu como trabalhador decente e vestia-se bem lamentava o que aconteceu com o Chiquinho. Todos começaram a lhe chamar de Chiquinho Doido. Mas o seu verdadeiro nome  era: Francisco Rodrigues Cerqueira, que morava com sua afim Roberta, que o zelou o tempo todo até quando Deus o chamou. Ele morava à rua  Ana Angélica. Faleceu, no dia 20 de maio de2006, e foi sepultado no Cemitério Senhora Santana, no Bairro Alto da Colina. Os repórteres da Pontal FM, Duacy Santos  e Jota Pinheiro, leram, no outro dia, essa mesma história, que oro narro, o que aconteceu com um jovem conterrâneo da cidade de Carinhanha, à margem esquerda do Velho Chico. Chiquinho partiu para a eternidade e deixou uma história comovente para todos que o conheceu e para quem lê, analisando psicologicamente como é a cabeça do ser humano. Acredito que há muitos Chiquinhos por esse mundo a fora.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

CHICO VAQUEIRO.


CHICO VAQUEIRO.

História contada por Honorato Ribeiro dos Santos.

Chico Vaqueiro, velho matuto, analfabeto, que só conhecia mesmo a labuta do dia-a-dia com seu gado e de sua propriedade. Era mesmo um jeca, mas homem honesto e querido por todos da cidade. Como não sabia ler e nem escrever; distante do mundo moderno, sem rádio para saber das novidades; nunca ouviu ninguém falar no progresso tecnológico de tais invenções. Era mesmo um desinformado de tudo no mundo.
Naquela época, na década de 1940, aqui, mal se ouvia, com o ouvido colado à fechadura da porta de seu Álvaro Telegrafista para escutar as notícias do rádio, que somente ele possuía. Muito orgulhoso, trancava a porta para evitar os curiosos; somente ele e sua mulher poderiam ouvir o Repórter Esso, e mais ninguém. Era maníaco o velho Álvaro Telegrafista.
Chico Vaqueiro ouviu falar do tal rádio, mas não tinha noção de como seria o tal aparelho moderno, que somente Álvaro o tinha. Também ouvia o povo falar em trem de ferro, avião, caminhão e bicicleta, mas nunca tinha visto nenhum deles nem mesmo pelo retrato. Entretanto, na sua perspectiva imaginária formavam imagens irreais e absurdas desses objetos modernos, na sua mente, cujos objetos já estavam surgindo, mas aqui não havia nenhum deles.
José de Oliveira Lisboa, prefeito municipal da pequena cidade, conhecido por Zuza Lisboa, era idealista e amava o progresso e o desenvolvimento de sua terra, resolveu comprar uma máquina a vapor para beneficiar algodão e arroz. Era a usina sonhada por ele e por todos., pois geraria emprego para muita gente. Assim aconteceu. Zuza Lisboa comprou a máquina e veio transportada em um caminhão FORD. Veio, também, um técnico alemão por nome Otta montar a usina e pô-la para funcionar. Houve realmente um grande progresso para a cidade. Muita gente se empregou e ganhou muito dinheiro. O algodão era o ouro branco daquela época. Saia fardos de algodão de 100 quilos para embarcar nos vapores até a cidade de Pirapora, em Minas Gerais.
A história verídica que ora contamos é muito engraçada. Não havendo lanchas e nem ponte, o gado, automóvel e caminhão atravessavam em ajouje. Assim aconteceu. O caminhão atravessou no ajouje, no pontal e seguiu para a cidade de Carinhanha à margem esquerda do Velho Chico. Como não havia estrada, pois o primeiro caminhão, que surgiu, era estrada cavaleira de areão. O caminhão com o peso da máquina teve de reduzir e fez muito barulho. Para quem nunca viu ou ouviu o ronco de um caminhão FORD rasgando areão, se espantaria à primeira vista. Foi o que aconteceu com seu Chico Vaqueiro. Ele, como de sempre, arriou o seu cavalo, pôs os alforjes cheios de ovos na garupa do cavalo, para vender na cidade. Era já de encomenda. Montou no cavalo e seguiu para pegar à marginal da estrada. Mas, quando ele saiu da vicinal e pegou a estrada principal, deparou-se com o caminhão com seus faróis acesos e o barulho do motor, a luz forte encandeou os olhos de Chico Vaqueiro e os do cavalo; que saíram loucos: cavalo e cavaleiro assombrados quebrando pau, rasgando estrada, até chegou à sua fazendo de olhos arregalados, sem fôlego e completamente assombrado. Não seria diferente mesmo, para quem nunca viu um caminhão e os faróis fortes e com tamanho barulho do motor é de se assombrar quem nunca viu. Chico Vaqueiro entrou na casa, trêmulo sem poder falar, pois, o coração disparou numa taquicardia a 180 batidas. Só faltou sair pela boca. Entalado, suando frio, com as calças toda borrada, arregalou os olhos para a esposa e disse-lhe: Defonsa, me dá água qui to assombrado, muié! Meu cavalo também tá!
-O qui foi, home de Deus!? Cê tá amarelo e tremeno?!
-Defonsa, eu vi um bichão tão horrive, cum os oião lumiento quinem fogo, cua claridade qui fiquei cego e surdo do ronco do bicho!...O bicho curria tanto, Defonsa, e zuano forte qui nunca vi em toda minha vida! Era mais veloz do que meu cavalo! Num to li dizeno, Defonsa?! O ronco do bicho sacudiu os matos e o chão. Ele era mais maior do que esta casa; num to li contando, muié?! Pode crê, Defonsa, pode crê!..
-Chico, num é um tar de camião de Zuza Lisboa qui o povo tá dizeno que vem aí, home?!
-Não era camiano não, Defonsa! O bicho era veloz demais. Curria, butecava o zoios ni mim queria me cumê, Defonsa! Se eu não fosse bom vaqueiro e meu cavalo não fosse bom, o bicho tinha me cumido eu e meu cavalo!
-Ô Chico, eu onte vi uma tar de bicicleta, quem sabe não foi a bicicleta qui cê viu?
-Não foi bicha queta nem nada, muié! Era um bichão inorme e corredor.
-Tô achano qui ocê tem razão, Chico. Eu vou fazer um chá de erva-cidreira pro cê tomar e acarmar. Depois deita um pouco e assossega. E os ovos, Chico?
-Quebou tudo, Defonsa.
-oito dúzia de ovo, quebrou tudo?! Minha Nossa Senhora! E agora, meu Deus?! Era de incumenda...
No outro dia Chico Vaqueiro foi com sua esposa à cidade e viram o caminhão e a máquina da usina em cima e muita gente curiosa em redor admirando da geringonça. Chico Vaqueiro, ainda assustada, foi chegando de mansinho para conhecer o tal bicho de ferro que o deixou assombrado. Então ele disse para sua mulher:
-É verdade, Defonsa, os home quer ser mais de que Deus! Cuma é, Defonsa, qui um montão de ferro desse, tem zoi de fogo qui clereia tudo e uma zuada danada tem tanta força?! Eu tô besta de vê cuma é qui o home inveta essa coisa de assombrar a gente!
-É, Chico, maió mermo é Deus e nada mais. Vamo imbora pra casa, Chico. Já vimo o bicho. Foi Deus qui li ajudou cê não morrê assombrado!. 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O AMOR DE MARIANA.


O AMOR DE MARIANA.
Do livro Carinhanha e sua história.
De Honorato Ribeiro. (Pag 56 a 59).

Capitão Rômulo Dias, um fazendeiro bastante rico, proprietário de várias terras, tinha vários filhos, os quais lhe obedeciam e sempre estavam ao lado do pai ajudando na labuta diária na fazenda. Ele tinha três filhas muito bonitas e prendadas. A educação e o respeito para com ele era bastante rígida. Todos teriam de lhe obedecer e nenhum fazia desgosto ao pai. A filha mais nova era simpática, elegante e educada. Todo habitante da pequena cidade gostava muito dela, pois era alegre e sorridente. Como sempre a mocinha quando chega a idade procura logo um namorado. Ela se chamava Mariana. Sempre estava sonhando um dia encontrar um jovem namorar e casar. Ser uma boa mãe de família era o sonho de Mariana.
Um dia ela se encontrou com um jovem da mesma cidade e se interessou nele. Ele era de família tradicional e bom rapaz. Ele se chamava Antônio José. O seu primeiro encontro foi para Mariana o sonho que mais sonhara, pois Antônio José era simpático e correspondeu ao amor de Mariana. Começaram a se encontrar as escondidas, pois seu pai era muito ciumento e não deixava suas filhas namorar sem o seu consentimento.   Se ele não fosse com a cara do rapaz, não tinha namoro e nem tampouco casamento. A sua palavra era de rei: não voltava atrás em suas decisões. E Mariana sabia como o pai era: severo. Mas Mariana estava disposta a enfrentá-lo tudo pelo grande amor que tinha para com o jovem Antônio José. Ela pretendia se casar com ele. Era o amor de sua vida. Ficou apaixonadamente por ele.
Um dia, ela resolveu falar com seu pai que estava gostando de Antônio José e queria se casar com ele. Pedia ao pai o seu consentimento. O coração quase saindo pela boca; tremendo e ansiosa para ouvir a resposta do seu pai. O Capitão Rômulo respondeu para a sua filha, o que ela não gostaria de ouvir: Não. Absolutamente não. Eu conheço aquele rapaz e com ele não deixarei você se casar. Pode acabar o seu namoro com ele hoje mesmo, está me ouvido? Ela ficou triste, chateada e começou a chorar loucamente, pois já estava apaixonado por Antônio José. Mas ela não desistiu e começou a se encontrar com Antônio José às escondidas. Seu amor era mais forte do que o não duro e seco do seu pai. Mas Mariana não desistiu e de quando em quando ela tornava a implorar ao pai para que ele deixasse ela se casar com Antônio José. Mas ele era firme, pois, era capitão de patente comprada da Guarda Nacional. Tinha que educar de sua maneira e não permitia desobediência nenhuma de qualquer filho que fosse: homem ou mulher. Ainda educava os filhos daqueles tempos que o pai era quem escolhia o rapaz para se casar com sua filha.
Antônio José também estava apaixonado por Mariana e queria se casar com ela ter muitos filhos. Quando soube que o pai de Mariana não consentiu nem mesmo o namoro ficou triste, mas aguardava com paciência o sim do pai de Mariana.
Um dia, o capitão Rômulo descobriu que sua filha não tinha desistido do namoro com o jovem Antônio José e resolveu levar a filha para a sua fazenda, a fim de esquecer o rapaz. Lá, na fazenda, de coração aflito e magoado, pois o seu pensamento só fixava no seu grande amor, seu príncipe encantado, seu Romeu, não conseguia dormir. O sonho sonhado era de olhos abertos vendo a imagem do seu grande amor; via o dia amanhecer e a alvorada dos pássaros cantando na copa do juazeiro à frente da fazenda. Cheia de coragem, na hora do café, ela pediu ao pai para que ela voltasse para a cidade, mas o pai não lhe atendeu. Ela ouviu novamente aquele não seco e autoritário. Mariana se recolheu em seu quarto chorou até que os soluços se transformaram em estresse. Louca de amor começou a imaginar coisas absurdas: A na cabeça rondava o leão rugindo querendo lhe devorar. Vieram-lhe tentações, tendências loucas, mas lutava na busca de dialogar com o pai e persistir pedindo-lhe o sim, fazendo-lhe feliz. O pai ignorava o que passava na cabeça da filha; o que é amor verdadeiro de uma jovem de apenas 18 anos de idade, quando se apaixona. Ele ignorava tudo com sua resposta de sempre não. Não dormiu a noite e levantou cedo; escovou os dentes, penteou os cabelos, sentou-se à mesa e tomou café com o pai, calmamente. Os olhos eram de ontem. Então ela resolveu, mais uma vez, mais sério conversar com o pai. Decidiu, pela  última vez, que o pediu para se casar com Antônio José. Seu pai já tinha acabado de tomar o café e deitou-se na rede, como de costume. Então, Mariana aproximou-se do pai e disse-lhe:
-Pai, pelo amor de Deus, eu lhe suplico, deixe-me casar com  Antônio José. Ele é um rapaz bom, de família boa...
-Não quero. Já lhe disse mais de mil vezes. Deixe de ser teimosa.
-Mas, pai, eu amo Antônio José... O senhor me entende? O senhor está fazendo-me  sofrer! E ser infeliz!
-Entendo, sim. Mas eu não quero e você sabe disso. Quando eu não quero uma coisa é ponto final.
-É a última palavra do senhor, meu pai?
-É a última, entendeu? A última e não me amole.
-Entendi, meu pai. Não vou mais lhe aperrear.
Mariana se recolheu no seu quarto e teria de se conformar ou escolher: Ou o amor que tinha para com Antônio José ou a sua vida não teria mais sentido de tê-la. Gostaria muito de viver ao lado daquele que ela amava loucamente, mas seria impossível, pois seu pai era o grande obstáculo entre ela e seu bem amado. Então ela resolveu escutar o lado esquerdo do cérebro: O mau, pois, dentro de cada um de nós existem dois mundos: O do mal e o do bem. Ela escolheu o do mal. Foi essa a sua opção. Então ela pegou um copo d’água e colocou dentro do copo com água veneno e disse consigo mesma: É, meu pai, prefiro morrer de que viver sem o amor que tenho por Antônio José. A vida para mim não tem mais sentido. Depois, levou o copo à boca e bebeu suicidando-se. Assim que acabara de beber caiu no chão para nunca mais ouvir do pai o “não” seco e autoritário.
O capitão Rômulo ouviu uma forte pancada de alguma coisa caindo no chão. Levantou-se da rede e correu às pressas para o quarto da filha. Quando ele entrou, viu a filha estendida no chão sem vida. Ele olhou para o lado, e viu um copo sobre a mesa e um pacote ao lado com algum resto de veneno. Compreendeu que a filha tinha se suicidado. Sua mente encheu-se de remorso, pois, ele foi o único culpado de não entender o que era amor no coração de uma jovem adolescente. O seu coração de pedra, fê-lo uma grande tragédia, pois, ele a amava muito por ser a caçula.
O capitão Rômulo trouxe o corpo da filha para a cidade. Toda cidade se chocou quando o povo soubera o porquê que Mariana tinha se suicidado. Foi horrível a notícia do suicídio de Mariana e todos lamentaram, pois, era jovem bonita e todos gostavam dela. Antônio José ficou chocado, revoltado contra o capitão. Mas não podia mais fazer nada. Perdeu seu grande amor por causa, simplesmente, de uma má compreensão da parte do pai de Mariana. Mariana não se matou, obrigara a si matar. O amor por alguém se torna uma paixão, uma loucura; é mais forte do que “Sansão”. Nessa história de Mariana, a Dalila foi quem morreu e não Sansão. Há muitas Marianas que se suicidaram por imposição daqueles que não souberam, não experimentaram o gosto de saber amar.

FIM.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A ISTÓRIA DE MOLEQUE SACY


A HISTÓRIA DO MOLEQUE SACY.
Conto de Honorato Ribeiro dos Santos.

Capítulo um.

Padre Silva, um padre jovem muito inteligente, servidor, da ala dos padres progressistas, atuou brilhantemente e realizou um trabalho autêntico, na comunidade, principalmente com a juventude.
Com a abertura da Igreja pós Concílio Ecumênico Vaticano II, saiu da sacristia e foi em busca das ovelhas perdidas; ensinando a todos a serem missionários e anunciar a Boa Nova como verdadeiros arautos da paz e libertação. De sandálias nos pés e vestes simples, padre Silva mostrou sua habilidade como o jovem de Assis. Na sua vocação de presbítero procurou, sem exceção, jovens de todas as camadas sociais. Fundou um grupo de teatro, um sindicato dos trabalhadores rurais, construiu salão de dar palestra, reconstruiu a igreja, construiu a casa paroquial e muitas obras foram realizadas por ele.
Nas suas homilias ele ensinava seus fieis a viverem como irmãos; tinha um dom de oratória maravilhoso.
No grupo de teatro, havia um jovem que se tornou amigo impecável do Moleque Sacy. Esse garoto era pretinho, magricela, de pouca leitura, filho de uma prostituta, que, além de sê-la era alcoólatra. O filho, o Moleque Sacy, era rejeitado por sua mãe. Não recebeu educação materna, nem afeto,  amor e carinho, não sabia o que era. A sua casa era a rua. Tornou-se um marginal e começou a roubar para sobreviver. Tornou-se um excluído pela sociedade, que o apelidou de Moleque Sacy. Todos os furtos, arrombamentos que aconteciam na cidade culpavam-no. Ele aprendeu a si defender da polícia. Era um garoto magro e alto, adolescente de apenas 17 anos de idade. Foi preso várias vezes, mas saia por razão de ser menor e cobertura de um grandalhão traficante.
Quem era o jovem seu amigo do que falei acima? Era um jovem professor de família média, que se chamava Thiago. O professor Thiago percebeu que o jovem Moleque Sacy não era mau como o povo dizia. Moleque Sacy gostaria de ter uma mãe boa, não cachaceira; um pai bom, ter um lar, uma boa educação, uma formação como um cidadão de bem; ser formado e ser gente respeitada dignamente como um ser humano. Somente o professor Thiago o compreendia. Então, o professor Thiago levou o Moleque Sacy ao padre Silva e contou-lhe toda a história e o porquê que o Moleque Sacy se tornou marginal. Teria que recuperá-lo com a ajuda do padre Silva e dele, o professor Thiago. O padre Silva o recebeu e começou a lhe mostrar outro mundo: ensinado por Jesus Cristo. Deu-lhe muitos conselhos para que ele fosse realmente um cidadão de valor: um cristão. O padre Silva sabia que era difícil a sua tarefa de recuperá-lo, pois a sociedade é hipócrita. Mas como padre, era a sua missão de servir e ensinar e abraçar os que estão no caminho errado. Assim começou a amizade com o padre Silva. Às escondidas ia sempre visitar o padre. Mas a polícia sempre estava em seu encalce. Não morava mais com a mãe, pois ela o expulsou de sua casa e o odiava. Ainda jogava praga no filho. Nenhuma autoridade tivera ideia de levá-lo para um internato, uma escola de recuperação de menor. Ninguém. Todos cantavam a canção de Chico Buarque: “Joga pedra na Geni”. (...).
Moleque Sacy só roubava; nunca esfaqueou e nem matou ninguém. Talvez roubasse para poder sobreviver. Ele aprendeu escrever e ler, pois, quando ainda garoto freqüentou a escola. Não sendo educado por sua mãe que nunca lhe dissera quem seria o pai, cresceu frustrado e o mundo só ensina coisas erradas e anti-sociais, o anti-religioso. Foi o que ele aprendeu: desassociar-se.
Moleque Sacy sabia de muitas coisas dos poderosos dos tráficos de drogas, que ficaram ricos e poderosos. Ele sabia o nome de cada um. Eles, os traficantes, também sabiam que o Moleque Sacy sabia quem eram eles, por isso. o ameaçava se abrisse a boca. Eles lhe agradavam com dinheiro e pediam para que ele não roubasse mais. Mas Moleque Sacy roubava por revolta de uma sociedade hipócrita, que só dava valor quem tem poder e dinheiro. Quando o Moleque Sacy se encontrava com o padre Silva e o professor Thiago, lhes contava tudo sobre os traficantes e a polícia.
O padre Silva construiu um salão para dar palestras e um palco para teatro. Mas Moleque Sacy não ia nesses encontros de palestras religiosas e nem ao teatro, pois era rejeitado e vigiado pela polícia. Só se encontrava com o padre e o professor às escondidas.
Um dia, a polícia foi chamada para prender o Moleque Sacy, que subiu no telhado de uma casa para roubar. A polícia chegou e começou a atirar nele. Ele, feito gato, correu por cima dos telhados de todo o quarteirão e fugiu. A polícia não o agarrou. Ele se escondeu num quintal de uma casa. Um amigo e irmão de um traficante, pegou o carro e foi dar cobertura ao Moleque Sacy. Pegou-o e o levou em seu carro e deu-lhe abrigo. A polícia soube, mas não foi em busca do Moleque Sacy. Fez de conta que não soubesse de nada.

CAPÍTULO DOIS.

AS DROGAS.

O Moleque Sacy sempre se encontrava com seus amigos: o padre Silva e o professor Thiago. O professor Thiago era muito inteligente, culto e explicava-lhe sobre a falsa sociedade e da falsa democracia. O Moleque Sacy aprendia muitas coisas com seu amigo professor: história do Brasil, a má política dos governantes, as corrupções, o tráfico de droga e dos traficantes. Moleque Sacy sabia quem era os traficantes, quem era os viciados; e sabia que a polícia também sabia, mas não prendia ninguém. Somente ele é que a polícia perseguia. Ele sonhava de um dia sair daqui e procurar outro lugar onde poderia lhe valorizar e poder arranjar um emprego e se sentir como gente. Aqui, só quem lhe entendia eram os dois amigos. O povo já estava censurando os dois por lhe darem apoio como pessoa humana. Davam-lhe conselhos, mas ele continuava revoltado e, quando ele achava uma brecha, furtava de quem era rico. Moleque Sacy aos 14 anos conviveu entre fortes traficantes, mas nunca viciou em droga e nunca cometeu crime. Todos os traficantes tinham medo de ele denunciá-los à polícia federal, pois, o professor era muito letrado e poderia ter lhe orientado como denunciar do grupo. Sabiam que o Moleque Sacy só roubava para sobreviver, pois, nem mesmo a sua mãe deixava-o  dormir, comer em sua casa. Também a coitada era alcoólatra e analfabeta e para sobreviver se prostituía.
São muitos os Moleques Sacys que vivem assim nesse país.
O craque, e a maconha entravam à reveria e havia bastantes jovens viciados; roubam para comprar drogas, mas a polícia só perseguia o Moleque Sacy. O motivo de a polícia prender o Moleque Sacy, era somente para intimidar os traficantes, pois o Moleque sabia, detalhadamente, quem era o chefão do tráfico. Mas para ficar de boca fechada, o chefão dava dinheiro para o Moleque ficar de boca calada. Também havia alguns soldados que recebiam ordens do chefão.





CAPÍTULO TRÊS.
O CONFRONTO CONTRA O DELEGADO.

Alguém foi avisar o delegado de polícia que o Moleque Sacy estava escondido na casa de um amigo e, que, naquela noite, ele tinha roubado no armazém daquele bairro. O denunciante foi a pé, pois não tinha telefone e era muito distante. Chegando lá, fez a denúncia. O delegado saiu às pressas em sua viatura, levando dois soldados com ele. A delegacia ficava bem distante do bairro, onde o denunciante dissera estar o Moleque Sacy. Quando o delegado chegou com a polícia cercaram a casa e deram voz de prisão para o Moleque Sacy se entregar. O Moleque Sacy saltou o moro. Deram vários tiros contra o Moleque. Nenhum tiro o alvejou. Ficaram em alerta com as armas em punho. O delegado estava em pé, no meio da rua, com o revólver em punho, quando sentiu alguém por detrás o agarrou, dando-lhe um golpe de mestre lutador e desarmou o delegado. O delegado tentou reagir, mas Moleque Sacy, ágil, deu-lhe uma capoeira jogando o delegado por terra e fugiu com a arma do próprio delegado, que era um sargento. Os dois soldados quando chegaram, viram, ainda o delegado no chão todo sujo de areia. Perguntaram-no o que havia acontecido e o delegado contou-lhes. Os soldados foram correndo para ver se ainda encontrariam o Moleque Sacy. Que engano! Moleque Sacy estava bem longe e armado. Mas ele não tinha o espírito de assassino, pois, se tivesse, teria matado o delegado. Nem sequer deu um tiro no delegado, na mão, por exemplo, ou o pé. Mas, não. Ele só queria mostrar que ele sabia se defender e não tinha medo da polícia e nem tampouco do delegado. Ele só tinha medo do chefão.
A rua ficou repleta de gente vendo, talvez assistindo a um filme de caw boy, sendo o mocinho o Moleque Sacy vencendo o xerife. Muitas histórias foram formando na imaginação dos que assistiram ao duelo entre o delegado e o Moleque Sacy: Davi e o gigante Golias, (...). O delegado foi ao suspeito chefão e lhe pediu que mandasse pedir ao Moleque Sacy a sua arma de volta. O Chefão mandou chamar o Moleque Sacy e ele o atendeu. Ao chegar, o chefão pediu-lhe o revólver do delegado. Ele o entregou e recebeu uma bolada. O chefão lhe pediu para não roubar mais e que ele daria uma mesada todos os meses. O Moleque respondeu: “Diga para a polícia, e esse delegadozinho de merda, que me deixe em paz”. Se continuarem a me perseguir continuarei furtando. Não é somente eu que rouba. Há muitos, aqui, que roubam, inclusive o senhor. Eu sei de tudo e de sua riqueza e poder. Sou pobre e sem família; o senhor sabe disso. Minha mãe que poderia gostar de mim, me odeia. O senhor só me dar apoio e dinheiro, porque eu sei tudo de sua vida suja.
No outro dia o delegado recebeu o revólver de volta. Mas, à noite houve uma festa da elite, no centro da cidade. Moleque Sacy foi e entrou, pois  o porteiro tinha medo dele; não o barrou. Avisaram a polícia que o Moleque Sacy estava na festa. A polícia e o delegado foram. A polícia chegou de vez e agarraram-no. Moleque Sacy, franzino que era, derribou os soldados e se escapou  em leso. Gente se espalhou por todos os cantos e a ruas encheram de gentes curiosas. Os soldados deram vários tiros na direção do Moleque Sacy, mas fugiu são e salvo. Mais uma decepção para a polícia. Moleque Sacy estava sendo herói de verdade. Os comentaram se espalharam como manchete do dia. “Moleque Sacy contra três soldados armados e o delegado, mas não o agarraram.” Tornou-se herói da pequena cidade com a penas quinze mil habitantes.
No outro dia, Moleque Sacy foi ao chefão reclamar que o combinado tinha quebrado. Ele agora iria furtar. Ficou revoltado e furioso com o chefão que lhe deu mais dinheiro.
De posse do dinheiro, que o chefão lhe dera, Moleque Sacy foi à fazenda de um amigo ficar lá uns dias, fugindo de tantas perseguições da polícia. Lá ele ficou sonhando ter uma vida digna de um cidadão. Sonhava sair daquela vida de roubar para sobreviver. Não achava ninguém que o ajudasse a sair daquela situação marginal. Pensava no amigo, professor Thiago e no padre Silva: os conselhos dos dois amigos. Por causa dele os dois eram criticados pela sociedade, que só sabia jogar pedra, mas não dava oportunidade de resgatar a vida de quem não tinha família. Sentia rejeitado pela mãe e a sociedade. Não sabia quem era seu pai biológico. Pô-lo no mundo e ficou uma pessoa marginalizada. Ele gostaria de conhecer o pai verdadeiro. Talvez ele não fosse ébrio ou ruim; pudesse aceitar como filho. Mas a imaginação de Moleque Sacy não tinha resposta. Todos os lados havia caminhos cheios de pedras; de espinhos e areia movediça. O professor Thiago contou-lhe a história de Zumbi. Zumbi, o herói dos negros africanos. Ele também era negro, mas não era herói como Zumbi, que morrera para libertar o seu povo negro. Moleque Sacy voltou para viver a mesma vida, pois não achou solução nenhuma.

CAPÍTULO QUATRO.

A JURA FOI QUEBRADA.

Quando Moleque Sacy voltou da fazenda do amigo, foi ao chefão pedir dinheiro, mas foi negado. “Não lhe darei mais dinheiro e nem apoio, pois corro perigo de a justiça descobri quem sou eu. Você continua a roubar. Pode roubar à vontade. Eu não me importo mais. E você fique calado, pois, poderá morrer.” Moleque Sacy saiu furioso com o chefão traficante e disse que iria abrir a boca. “Não abro, aqui. Abro bem longe. Sei o caminho aonde eu chegarei e o denunciarei. Vou acabar com você e seu bando”. Disse o Moleque Sacy. No outro dia a polícia prendeu o Moleque Sacy e o professor Thiago. A família do professor Thiago ficou revoltada. Não havia motivo para o prender. A polícia usou um álibi, afirmando que o professor Thiago era amigo de Moleque Sacy e dava-lhe apoio a um marginal. A família do professor contratou um advogado e esse entrou com um habeas-corpus e o soltou. Mas Moleque Sacy não precisou de advogado: foi solto, pois era menor de 17 anos. Mas o delegado estava providenciando para levar o Moleque Sacy para a FEBEM. Mas o Moleque Sacy sabia que a FEBEM não resgatava ninguém. Não há uma educação onde os menores possam ser resgatados e voltarem ser valorizados como pessoas dignamente humanas. Ele sempre fugia e não queria ir. “Educar alguém tem de amar. Nesse país ninguém ama quem é marginal.” Moleque Sacy sabia de tudo sobre essa entidade. “Seria melhor viver como vivo, mas livre. Mesmo apedrejado pela sociedade hipócrita, mas tenho liberdade de ir e vir, quando eu quiser.”
 

  CAPÍTULO CINCO.

A tarde estava linda, batia um vento fresco. O sol já estava se declinado e os pássaros cantando na copa das árvores. A cigarra cantava como sempre. Ao longe se ouvia o latido de cachorro e gorjeava o sabiá. Moleque Sacy estava sentado num tronco de árvore estendido no chão e começou a imaginar. Seu pensamento voava procurando a felicidade, que há muito tempo não sabia o que era. Começou a pensar melancolicamente: “Por que minha mãe não gosta de mim?! Quem é o meu pai? Eu não pedi a ninguém para vir ao mundo. Todo mundo tem uma família, uma casa para morar, um bom emprego... Há destino? Não acredito, pois, o padre Silva me ensinou que todos nós temos o direito de viver dignamente e respeitado como ser humano. O professor  disse-me que as terras do Brasil são dos índios, pois eles eram os verdadeiros donos dessa terra. Vieram os portugueses e os roubaram tudo: seus costumes, sua cultura e sua língua. Hoje os índios são até queimados, como aquele em Brasília. Milhões de índios foram mortos por não aceitar ser escravos dos brancos como os negros africanos. Os donos dessa terra hoje, os latifundiários, são os verdadeiros grileiros, pois, compraram na mão de quem? De quem era essa terra? Não era dos índios? Compraram na mão do índio? Toda riqueza, ouro, prata, diamante, etc, eram dos donos que moravam aqui há milhões de anos. Se voltarmos até os primeiros habitantes da terra, foi dado pelo criador gratuitamente. Inventaram os cartórios, as leis e registraram como se fosse deles. Agora, compraram na mão de quem? Isso tudo o professor Thiago me ensinava a verdadeira história que não é contada nas escolas e faculdade. Mas o povo sabe que essa é a verdadeira história da humanidade.” Naquele instante foi quebrada a imaginação, o pensamento e as imagens em perspectivas na mente do Moleque Sacy, quando se ouviu dois tiros. O povo saiu à porta da rua e viu um corpo estendido no chão. Era a do Moleque Sacy. Muita gente viu, saindo do mato dois soldados armados pegando o corpo de Moleque Sacy e o puseram no carro e partiram. Levaram ao hospital. Quando o médico o assistiu disse-lhes: “Está morto”. Os soldados mandaram que o médico desse o laudo afirmando que foram prendê-lo, mas ele reagiu. “Não tivemos outro jeito, senão quem seria morto éramos nós.” Só que os tiros foram pelas costas. Mataram-no covardemente. Todo mundo sabia que o Moleque Sacy não usava arma. Quem foi o mandante do crime? O povo sabe, mas: “Cala-te, boca”. “Em boca calada não entra mosca”. “Quem conversa muito dá bom dia a cavalo”.
Agora ninguém mais teve ódio de Moleque Sacy. “Coitadinho, morreu porque era preto e pobre.” “Porque a mãe jogou praga.” “Foi a sina.” “Tem gente que nasce sem sorte.” Foi essa a conversa, o casuísmo criado sem escrúpulo nenhum. Sempre é assim a sociedade. “Morreu que Deus o tenha.”
Na lousa, o amigo Thiago mandou escrever: “Aqui, jazem os restos mortais de um garoto de 17 anos, rejeitado pela sociedade e uma mãe alcoólatra e prostituta.”

Se houver uma história que alguém conheça igual a essa, é mera coincidência.
FIM.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Meus contos.


MEUS CONTOS.
Honorato Ribeiro dos Santos.

1º Um dia eu entrei na Catedral de Salvador e fiquei emocionado ao ver tanta beleza em arte de ouro: as paredes revestidas de ouro, o Altar Mó, anjos. Que beleza, mau Deus! Que riqueza!...Quando saí, deparei-me com um mendigo que estirou a mão para mim, pedindo-me uma esmola. Eu o dei. Foi então que a minha consciência disse-me: “Que felicidade!” Encontrei-me com Jesus à porta da Catedral!

2º Certa vez eu fui à Basílica de Nossa Senhora Aparecida e vi multidão de gente de todas as partes do mundo para: uns pagando promessas, outros agradecendo as graças recebidas e outros visitando a santa padroeira de Brasil. Eu, que sou devoto da mãe de Jesus e nossa mãe, ajoelhei-me e fiz a minha oração. Sempre fitando a imagem representativa simbolizando a Virgem de Nazaré. A santa estava com uma veste toda  ornada em ouro; e, em sua cabeça uma linda coroa de ouro. Foi então que a minha consciência disse-me: “Maria, a mãe de Jesus, usou vestimenta ornada de ouro?! E ela possuía em sua cabeça uma coroa de ouro? Ela não era a pobrezinha de Nazaré?”

3º  Um dia eu estava sentado num banco do jardim da capital mineiro, quando vi três homens discutindo entre si religião. Cada um citava em sua ideologia religiosa capítulo e versículos da Bíblia, mas nenhum convencia o outro. Ao lado deles estava um homem deitado enrolado em uns jornais. Foi então que a minha consciência disse-me: “Levanta-te, seja um samaritano.” Eu levantei-me e disse àqueles homens em polêmica: Ajude-me socorrer esse homem. Eles olharam para mim e se afastaram. Então eu o agarrei e pu-lo num carro e o levei à Casa de Misericórdia.

4º Numa grande praça, havia um lindo jardim com lindas flores multicor todas perfumadas. Olhei e vi cinco homens falando sobre Deus. Conversaram alegremente. Eram: Um judeu, um budista, um católico, um evangélico e um maometano. Depois despediram-se e cada um foi à sua igreja. Então a minha consciência disse-me: “Por que não constroem uma única igreja aqui, nesse jardim?” “Se Deus está aqui e não O viram!”

5º Um dia eu fui assistir a umas palestras de quatro padres teólogos. Um da ala conservadora, outro da ala carismática pentecostal, outro da ala progressista e outro da ala da teologia da libertação. O primeiro a falar foi o da ala conservadora: O pecado está crescendo gigantescamente e o inferno não vai caber tanta gente. As mulheres perderam o pudor e os homens perderam o caráter e a moral. Usou da palavra o da ala carismática pentecostal. Começou a entoar um hino em louvor a Maria e falou dos milagres de Jesus e a interseção de Maria. Usou da palavra o da ala progressista. Falou da importância e valorização dos jovens; na evangelização em massa para a transformação dum mundo melhor onde haja justiça e respeito ao ser humano. Usou da palavra o da ala da teologia da libertação. Cristo está decepcionado com os cristãos, principalmente, aos que assumiram o presbitério para anunciar a Boa Nova. Não está havendo mais a luta pela igualdade, dos direitos de ser pessoa humana e a espiritualidade está morrendo aos poucos e as injustiças se alardam impunemente. Eu prestei atenção a todos. Porém, a minha consciência disse-me: Dos quatro palestrantes quem se pareceu com Jesus?


6º Um dia, sentado em minha rede comecei a pensar: Que me dera eu tivesse um palacete, carros e muito dinheiro no banco, eu seria feliz. No outro dia, às mesmas horas, sentei-me na rede e pensei: Que me dera eu fosse um famoso astro com muito dinheiro, seria feliz. No outro dia, às mesmas horas, sentei-me na rede e pensei: Que me dera eu fosse um turista a viajar pelo mundo inteiro... Bem que eu seria feliz. Foi então que a minha consciência disse-me: “Você só será feliz se viver como o Mestre dos mestres, que mesmo pregado numa cruz, sendo maltratado, humilhado soubera perdoar os seus algozes”.

7º  Um amigo meu um dia me queixou: Meu filho está bastante doente e já o levei a muitos médicos e não sarou. Então eu fiz uma promessa ao Bom Jesus, se Ele sará o meu filho eu vou lhe ofertar uma novilha. Então eu lhe perguntei: E se seu filho não sará? Respondeu-me: não pagarei a promessa e não darei a novilha. Depois foi embora. Então a minha consciência disse-me: Que grande chantagista! Jesus curou tanta gente nunca cobrou de ninguém e continua a curar e não cobra.

8º Quando eu não sabia bem o que era ser religioso, convidei uns amigos para reconstruir uma igreja que estava preste a ruir. Começamos erguê-la achando que eu estaria fazendo a vontade de Deus. Mas, um dia, eu assistindo à missa do domingo, o padre em sua homilia explicava aos fieis: Quem é a igreja de Jesus Cristo? É igreja de pedra? Não, meus irmãos. A verdadeira igreja de Cristo somos todos nós. Somos templo de Deus vivo e Ele habita em nós. Por isso devemos valorizar essa igreja humana onde habita Deus. Então a minha consciência disse-me: “Quantas igrejas humanas estão em ruínas e você se preocupando com igreja de pedra!”

9º Um dia eu vi um jardineiro molhando um jardim público de uma cidadezinha do interior da Bahia. Ele era um homem forte, alto, cor branca, olhos azuis, cabelos loiros. Eu me aproximei dele e lhe perguntei: O senhor é daqui mesmo? Ele me respondeu sorridente: Sim. Como se chama? Respondeu-me: Eu me chamo Joel. Joel?! Sim senhor, respondeu-me. Então é o senhor que me disseram que fala inglês fluentemente? Sou eu mesmo, respondeu-me. Como foi que o senhor aprendeu falar fluentemente o inglês se é um simples jardineiro? É porque o meu pai era inglês e ele me educou primeiro falando inglês. E onde seu pai mora? Ele faleceu há muitos anos e minha mãe também, respondeu-me. E sua mãe também era da Inglaterra? Ele me respondeu: Não. A minha mãe nasceu aqui. Meu pai veio para o Brasil e acabou vindo para morar aqui. Ele era engenheiro. A única coisa que herdei de meu pai foi a cultura inglesa e seu idioma. E esta está pra morrer, pois não tem ninguém com que eu possa falar o inglês. Então a minha consciência disse-me. “Se este homem nascesse na Inglaterra seria um engenheiro e bem mais valorizado e falando o idioma ensinado por seu pai já que aqui ele não fala, embora saiba falar.”.

10º Um dia eu fui visitar a usina elétrica, na barragem de Correntina com uns amigos. O guia nos levou e nós descemos até o último andar onde fica a máquina geradora de energia. Ele nos explicou detalhadamente como funcionava tudo. Depois, subimos. Lá em cima havia um grande salão e um grande quadro que informava qualquer defeito que houvesse e onde fosse o defeito ali aparecia no quadro. Todos nós ficamos impressionados com o avanço tecnológico e com o operador eletricista. Foi então que a minha consciência disse-me: “A tecnologia mais perfeita foi a que Deus criou: O homem inventor. Sem o homem não haveria tecnologia; e sem Deus não poderia existir o ser humano”.

11º Lendo a história da evolução senti uma voz que me dizia: “Deus existe”. Mas Charles Darwin com a sua teoria de evolução vai de encontro ao livro do Gênesis. Mas Hugo De Vries com sua teoria das mutações chocou com a ideia de Darwin. E Theodor Schwann afirmou que tudo é formado de células, criando a teoria celular. Mas Louis Pasteur deu novo alento à bacteriologia, fazendo ver a todos que a vida só pode prover de um ser vivo. Com essa afirmação de Pasteur contraria a teoria da geração espontânea; é chamada a lei da biogêneses. Foram muitos filósofos cientistas que buscaram novas teorias da existência de seres animais na terra. Até que finalmente chegaram a afirmar que tudo que existe provém de um ser criador da vida. Então a minha consciência disse-me: “E esse criador da vida é Deus.”

12º Nada eu trouxe como pobre cheguei. Logo, recebi gratuitamente: o ar para eu respirar e viver, o sol para me aquecer, tudo da mãe natureza, que vem do campo, a inteligência, a luz dos olhos para enxerga o céu estrelado e o horizonte infinito. Percebi que sou rico, pois sou semelhança de Deus. Então, surgiram em mim dois mundos: O do bem e o do mal. Tive de escolher qual dos dois é melhor para mim. Luto para que em mim seja destruído o mundo do mal. Mas ele é forte, pois fomenta o acúmulo de riqueza, o egoísmo, a prepotência, a arrogância e o materialismo. Mas a minha consciência disse-me: “Você não vai agradecer a riqueza que recebeu gratuitamente do criador? O que você vai levar de volta para quem o criou? Calei-me e refleti e disse a mim mesmo: “Levarei o bem e o mal.” Deus queira que o bem que fiz praticando a caridade destrua todo o mal que fiz.”

13º Apareceu Hitler no campo de concentração: assassinou milhares de judeus e queria dominar o mundo com seu reinado à força. Não podendo dominar, suicidou-se. Mas seus comparsas quiseram continuar, mas veio a descoberta da bomba atônica e lá foram destruídas duas grandes cidades: Hiroshima e Nagasáki. Não parou o terror: destruíram as Torres Gêmeas matando milhares de pessoas inocentes. Veio a paz acompanhada de leis humanas: Os pais não podem mais educar com a pedagogia da palmatória, com essa ninguém morreu e nem se transformou em marginal. Retiraram das escolas a religião que fala em Deus. Expulsaram-No das escolas. Então a minha consciência disse-me: “Por que a Bíblia não tem mais valor pedagógico, que ensina a moral, a ética, o respeito e o amor?” E eu respondi-me: Porque mataram o AMOR crucificado numa cruz.

14º   Certa vez eu assistir à palestra de um padre teólogo que afirmava ao grupo de casais sobre o casamento. Dizia ele: “Há muitos casais que casaram no religioso e no civil e já vivem 40 anos, mas não estão casados.” Há também outros que estão casados há muitos anos no religioso e não estão casados. Há outros que estão casados somente no civil, muitos anos morando juntos, mas não estão casados. Existem muitos que não são casados nem no religioso, nem no civil e estão verdadeiramente casados. Porque se amam. Sem amar reciprocamente, doando um ao outro, não há casamento. Então a minha consciência disse-me: “Onde há amor e a caridade, Deus aí está”.

Honorato Ribeiro dos Santos.

FIM.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

OS JAGUNÇOS NOS TEMPOS DOS CORONEIS.


OS JAGUNÇOS NOS TEMPOS DOS CORONEIS.
Do livro  CARINHANHA DE ONTEM E DE HOJE
De Honorato Ribeiro dos Santos.

Quincas de Mariana, assim conhecido por todos, era um sujeito forte, de cor morena, sangue frio, cabelos lisos, medindo 1.68m de altura, de fala fina e plácida, dando as características de pessoa pacata e não violenta. Mas, que, na realidade, era perigosíssimo e de mau caráter ao extremo. Fui um dos tantos jagunços sanguinários, nos tempos do “Barulho do coronel João Duque”, aqui em Carinhanha, cidade ribeirinha do rio São Francisco, divisa de Minas com Bahia, pelo rio Carinhanha. Esse jagunço, Quincas de Mariana, tinha cometido vários crimes. Uma das vítimas dele foi Rodrigues que ele assassinou friamente e nada aconteceu contra ele. Depois de ter assassinado a Rodrigues ele assassinou a sua própria esposa. Quando descobriram esse crime absurdo, o coronel João Duque soubera do ocorrido mandou o prender. Mas o Quincas achou que ainda tinha prestígio junto ao coronel, mas se enganou evidentemente. Foi preso e condenado. Antes de ele assassinar a sua esposa, já havia assassinado a Pedro de Tila covardemente e fugiu para a cidade de Manga, em Minas Gerais. Deixou a viúva carregada de filhos, ainda menor de idade. Esse crime ficou em pune. Passado tempo depois, ele se integrou  ao grupo de jagunços no barulho de 1919. Tempos em que Carinhanha viveu a sua história mais negra entre os filhos de terra. Os que apoiaram o coronel João Duque ficaram; os contras fugiram e outros morreram. Era a política de ódio pelo poder político dos coroneis de patente comprada da “GUARDA NACIONAL”. Houve muitos espancamentos, prisões injustas, tudo era resolvido à bala. Quem não quisesse morrer teria de correr com a única roupa do corpo. Muitos dos filhos dessa terra não voltaram mais.
Havia outro jagunço por nome de Zé Baiano, que assistiu ao assassinato do Quincas contra a esposa do mesmo. Zé Baiano contou para a esposa do coronel João Duque e ela vestiu-se disfarçada de vaqueiro e montou no cavalo e saiu depressa para contar a seu marido, o coronel João Duque o que havia acontecido. Ao saber do assassinato, o coronel, imediatamente, mandou prendê-lo. Quando o Quincas chegou preso, pensou que o coronel iria lhe dar apoio; soltaria imediatamente, mas se enganou. Foi preso e enviado para Salvador. Decepcionado disse para o coronel: Pode esperar, coronel, que vou vingar de você. Mas não voltou mais a Carinhanha.
Chegou a Carinhanha, vindo de Itacarambi-MG e se aliou ao coronel João Duque, o Chico Meira, com a alcunha de Coaçu. Esse foi um dos jagunços muito perigoso. Com o apoio do coronel João Duque, fez Álvaro Oliveira, homem íntegro, coletor federal, expulsando-o. Esse Chico Meira foi à casa do coletor e disse-lhe: Álvaro, dou-lhe 24h para sumir daqui. Se caso não for embora daqui, será um homem morto. Álvaro, que já o conhecia muito bem, arrumou as malas e foi para Bom Jesus da Lapa.
Um tenente vindo de Salvador chegou aqui e foi dar ordem de prisão ao Chico Meira. Ele, imediatamente, sacou da arma e atirou para matar o tenente, por sorte do tenente a bala pegou na fivela do cinturão. Chico Meira correu e entrou na casa do coronel. O cabo Lalau, da esquina da igreja matriz, abriu fogo contra Chico Meira e ele respondia tirando casca na esquina, onde o cabo estava entrincheirado. Todo mundo tinha medo de Chico Meira, mas Gabriel Cardoso, telegrafista, partiu para Salvador e deu parte contra Chico Meira. Então enviaram dois agentes policiais e o prenderam, levando-o algemados para Salvador. Depois de ter cumprido a pena na cadeia da capital baiana, ele voltou a aprontar. Dessa vez ele assassinou o comandante do vapor, Barão de Cotegipe, Felipe de Barros. O crime ficou em pune. Tempos depois, dois adolescentes vingaram a morte do comandante Felipe Barroso , matando-o em Pirapora-MG.
Outro perigoso jagunço era Isidório Fumo. Ele tinha uma tia por nome de Teodora. Pobre trabalhadeira, que vivia a tirar lenha para o sustento da vida. Um dia, a velha sua tia, Teodora, tinha chegado com um feixe de lenha; ainda cansada do peso da lenha, quando ouviu os gritos do sobrinho, que invadiu a sua casa dizendo-lhe: Ó velha Teodora, fuxiquenta da peste. Saia para fora pra apanhar de chicote de cavalo para deixar de ser fuxiquenta, sua arengueira. Meu filho, eu nunca falei mal de você pra ninguém! Eu ando trabalhando e cuidando dos meus afazeres. Não cuido de vida de ninguém! Mentirosa, safada. Você vai apanhar de chicote até morrer pra respeitar homem de bem. O malvado deu de chicote na velha até a morte. Matou a própria tia e o crime ficou em pune. Lutou no barulho ao lado do coronel João Duque e fez muitas vítimas. Depois que veio a paz, ele mudou-se para Manga-MG. Tempos mais tarde Isidoro Fumo foi punido pela justiça Divina com um câncer na cabeça vindo a falecer.

Os jagunços mais perigosos do coronel João Correia Duque foram: Umbuzada, João Jacaré, Isidório Fumo, Simplício e Mateuzinho, estes dois foram os que assassinaram o segundo prefeito de Carinhanha, conhecido por seu Andrade. Os outros jagunços foram: Pabula, Barba Dura, Barba Grande, este dizia que tinha o corpo fechado, nem bala e nem faca tiraria a sua vida, mas morreu assassinado nas rixas políticas dos coronéis de Carinhanha e Santa Maria da Vitória.
Umbuzada estava limpando o seu fuzil, quando sua tia, Joana Pataca, ia passando e ele disse para os colegas: “Vou ver se este fuzil é bom de fogo.” Apontou para a tia, mirou e puxou o gatilho disparando o tiro certeiro contra a própria tia, que caiu, imediatamente, morta no chão. Como sabia que não iria lhe acontecer nada contra ele, ficou tranqüilo. Quem se apiedou da velha fez os funerários lamentando o ocorrido injusto.
Assim viveu por muitos anos o povo de Carinhanha. Hoje a cidade é de um povo deferente e, muitos sabem dessa negra história lendo os livros editados por mim e o padre Souza, que viveu muitos anos aqui como padre da Congregação Vicentina. Já faleceu, mas deixou-nos muitos livros de histórias pesquisadas e editadas por ele.

Honorato Ribeiro dos Santos, Rua Francisco Muniz nº 46 –Centro – Carinhanha-Ba. Tel. (77) 3485-2694. e-mail hagaribeiro@yahoo.com.br

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O TEMPO

O TEMPO.


Poesias de Honorato Ribeiro dos Santos.



O TEMPO.
Poesias de Honorato Ribeiro dos Santos.
Do livro: O TEMPO.

O tempo que Marca.
Todos possuem no braço
Três ponteiros que andam:
Você anda e ele em inércia,
Você corre atrás do tempo.

Agora está na hora exata:
A hora da ida,
A hora da volta,
A hora da chegada,
A hora da saída!

É hora de retornar:
Para se descansar...
Que descanso?
E o tempo deixa?
Ele não para, mas...
Eu tenho que parar!
Para que parar?
Para descansar.
Para refletir e sonhar;
O sono é leve e me espanto,
 O relógio do tempo despertou:
Fim de jornada. Adeus.
(14-11-2000)


A EDUCAÇÃO.

Educar é informar:
no tempo certo de aprender,
no tempo certo de ensinar,
no tempo certo de democratizar,
no tempo certo de “Freirelizar”.

Educar é ser informado:
no tempo certo de corrigir,
no tempo certo de refletir,
no tempo certo de dialogar,
no tempo certo de orientar.

Educar é dá liberdade:
no tempo certo de humanizar,
no tempo certo de  revolucionar,
no tempo certo de filosofar,
no tempo certo de se diplomar.

Educar é ser um democrata:
No tempo certo de se libertar,
No tempo certo de doutorar,
No tempo certo de saber amar.
(04-11-2000)..


E AGORA, JOSÉ?

Que tempo temos para chorar,
Se os nossos olhos não inda nasceram?
Que tempo temos para sorrir,
Se a nossa boca não enxerga?
Que tempo temos para ouvir,
Se não temos olfato para refletir?
Que tempo temos para amar,
Se nós não temos coração?
Que tempo temos para orar,
Se ainda não nascemos?
Que tempo temos para reclamar,
Se não temos ouvido para ouvir?
Que tempo temos para viver,
Se não aprendemos a morrer?
Que tempo temos para brincar,
Se não somos como criança?
Que tempo temos para aprender,
Se nós matamos o nosso Mestre?
Que tempo temos para ensinar,
Se nós não sabemos educar?
Que tempo temos para meditar,
Se nós não sabemos conscientizar?
O tempo já se findou: “E agora, José?”
(01-11-2000).

O TEMPO É CURTO.

Nós temos muito tempo:
para falar mal dos outros,
para defender a alienação,
para defender o capitalismo,
para defender o neoliberalismo,
para defender a dicotomia,
para defender quem não tem ética,
sem ter tempo para si transformar...

Nós temos muito tempo:
para ser corrupto e enriquecer,
para “ter vergonha de ser honesto”,
não temos tempo para se moralizar...

Nós não temos muito tempo:
para nos corrigir,
para nos refletir,
para  amar o outro,
para ter paz e ser feliz,
para no tempo certo partir
num adeus eternamente.

(01-11-2000).

domingo, 24 de outubro de 2010

DEPOIS DA MORTE DEVOLVEU OS BENS.






DEPOIS DA MORTE DEVOLVEU OS BENS.
(Do livro: História contadas por dona Gertrudes)
Por Honorato Ribeiro.



Houve em todo o Brasil uma fome arrasadora e muita gente morreu. Muita gente para não morrer de fome partiu a procura de trabalho. Muitos sertanejos saiam a cavalo, a maioria a pé, pois o transporte, naquela época, era muito difícil, na maioria viajava a pé. Viajavam para o Sul, Sudeste e norte em busca de vida melhor.
Havia um fazendeiro muito rico e de coração bondoso que mandava matar gado de sua fazenda para dar de comer os viajantes que passavam a pé famintos. Todos os dias passava muita gente e ele dava comida quem chegasse com fome. Era fartura. Muita fartura e ele não negava a ninguém.
Um dia, quando já havia dado muita comida a muitos que por ali passavam, depois de meio dia, chegou um homem cansado com sede e faminto e lhe pediu um prato de comida. Ele estava descansando na sua rede, não sei o que deu nele, zangado disse ao faminto:
Ah! Vai se danar com tanta gente a pedir comida! Não tem comida aqui pra ninguém mais não. Depois do desabafo deitou-se na rede e agarrou-se no sono. Quando foi mais tarde ele é acordado por um de seus empregados que lhe disse:
-Patrão, aquele homem que o senhor negou dar comida para ele, eis que nós o encontramos morto ali no curral.
-Não é possível! Meu Deus, o que eu fiz?! Vou dar-lhe um enterro digno.
Mandou fazer um caixão, comprou roupas, mandou fazer mortalha, capela e fez um enterro de gente rica. No outro dia enterram o homem. Todos os dias continuava a passar gente pedindo por comida e ele não a negava. Todos foram  dormir, mas, de manhã bem cedo, ele, o fazendeiro acordou e abriu a porta da varanda e encontrou toda roupa, a mortalha que ele tinha mandado fazer para o homem que morreu de fome. Ele ficou espantado e desenrolou as vestimentas e dentro estava um bilhete escrito:
“O que eu queria não me foi dado, devolvo-lhe o que não serve mais para mim.”

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

MINHA CRUZ É MUITO PESADA.







MINHA CRUZ É MUITO PESADA.
Do livro Histórias contadas por dona Gertrudes,
Por Honorato Ribeiro dos Santos.                          



Seu Antônio vivia se lamentando sobre a sua vida. Ele achava que tinha nascido sem sorte, pois tudo que ele realizava não dava certo. Achava que todo mundo tinha uma cruz para carregar, mas a sua era a mais pesada de todas. Era sem sorte até de sair da miséria. Fazia tudo para sair da situação em que se encontrava e não conseguia. Sofria o mal do pessimismo e já não tinha ânimo para nada. Até que achava que Deus tinha se esquecido dele. Então saiu vagando à toa para achar uma solução. Caminhou até encontrou com um velho. Conversou com o velho e contou a ele a sorte que não tinha e que a cruz dele era mais pesada do que a dos outros. O velho não concordou com ele e afirmou que a dele, em ralação às outras, era a  mais leve. Começou a conversa e seu Antônio não concordava com o velho. Então o velho disse a ele:
-Acompanha-me e eu lhe levarei a um lugar que vou provar que sua cruz é bem leve e que têm outras mais pesadas do que a sua.
Quero que o senhor me leve e me mostre, pois, só acreditarei quando eu vir com meus próprios olhos.

Seguiram um longo caminho até que chegou num casarão. O velho abriu a porta e disse para seu Antônio: Aí estão as cruzes de todo mundo. Jogue a sua no meio delas e escolha a mais leve para você. Ele jogou e começou a escolher a cruz mais leve que a dele. Escolheu, escolheu, até que pegou  numa e disse para o velho:
-Eu sabia que a minha cruz era a mais pesada! Aqui está a mais leve e vou levá-la. Somente assim eu serei o homem mais feliz. Pegou e pô-la nos ombros e ia se retirando. O velho disse-lhe:
-Você reparou a cruz que vai levando? Dê uma olhadinha e repare que cruz é esta.
Ele olhou e respondeu para o velho:
-Não pode ser!.. É a minha cruz que eu andava lamentando que fosse a mais pesada!?
-Pois é, seu Antônio. Carregue a sua cruz e não reclame, pois há cruz mais pesada do que a sua.

Assim somos todos nós com as cruzes do dia-a-dia. É preciso saber carregá-la sem reclamar.

sábado, 9 de outubro de 2010

A COMADRE MORTE


A COMADRE MORTE.
Do livro histórias contadas por dona Gertrudes.
Por Honorato Ribeiro dos Santos.

João tinha uma família muito grande, dez filhos, mas não tinha uma profissão sequer para viver melhor. Era tão pobre, que, quando um filho nascia, não achava ninguém para batizar. Todos recusavam de ser compadre e comadre dele. Era um homem bom, mas a miséria invadiu sua vida deixando à margem da sociedade.
Um dia ele levantou e se ajoelhou e disse: Meu Deus! Por que as pessoas não me têm como gente a ponto de recusar batizar os meus filhos?! Se a morte quiser batizar meus filhos eu darei com muita alegria e serei seu compadre. Quando ele acabou de fazer a jura, a morte se apresentou a ele e disse-lhe:
-Estou aqui com muito prazer e batizarei seu filho, pois ninguém gosta de mim. Todos me odeiam e foge de mim. Você foi o único a me valorizar.
-Pois bem. Batize um dos meus filhos e tornemo-los amigos.
De hoje em diante você sairá da miséria e se transformará num homem famoso e rico. Far-lhe-ei um acordo com você. É o seguinte acordo: Você será um curador. Quando houver uma pessoa doente você irá curá-la. Quando você entrar no quarto do enfermo e me ver sentada aos pés da cama pode fazer sua garrafada de remédio e dá ao doente que ele ficará bom. Porém, quando você entrar num quarto e eu estiver sentada na cabeceira da cama, pode falar com a família que esta pessoa não tem mais cura. E assim foi feito o acordo entre seu João e a comadre Morte.

Seu João tornou-se famoso e rico, pois tratava e curava todos os tipos de doença. A sua casa era cheia de gente o convidando para assistir os doentes, pois, quando ele entrava no quarto do doente sempre a comadre estava sentada aos pés da cama.

Quando foi um dia, apareceu-lhe a esposa de um homem rico cujo marido já estava desenganado dos médicos, para que ele o curasse. Daria muito dinheiro se ele conseguisse tratá-lo. Seu João aceitou. Mas quando entrou no quarto do homem rico a comadre estava sentado à cabeceira da cama. Ele então disse para a família do doente:
-Vamos mudar a posição da cama. Mudaram e ele foi fazer a garrafada, a meizinha de sempre. Quando ele chegava, a comadre estava sentada à cabeceira da cama. Ele mandava mudar a posição da cama sempre quando a comadre se encontrava à cabeceira dela. A sua teimosia era porque iria receber muito dinheiro; dinheiro que ele nunca viu em toda a sua vida. Então se esqueceu do combinado e foi para a mata arrancar raiz para fazer a garrafada. Quando ele estava cavando raiz a comadre se lhe apresentou e disse a ele:
-Compadre, como foi o combinado? Eu não lhe disse que, quando eu estivesse sentada à cabeceira da cama, o senhor diria aos familiares que não tinha mais remédio, não foi?
-É, comadre, mas é muito dinheiro que vou ganhar. A senhora dá um jeitinho...
-Não posso, compadre. O dia dele está chegado.
Mas a senhora poderá dar mais uns anos de vida para ele e eu, além de ganhar muito dinheiro, fico famoso e desafiarei os médicos.
-Compadre, não posso fazer isso. Então, acompanha-me, que eu vou lhe mostrar uma coisa e o senhor ficará sabendo que é impossível, para que ele tenha mais vida.
O João, famoso curador, acompanhou a comadre Morte mata à dentro. Caminharam até que avistaram um casarão. Chegando lá, a comadre abriu a porta e João viu um grande e incomensurável salão cheio de velas acesas. Então a comadre Morte disse a João:
-Olhe, você está vendo estas velas acesas? Cada uma delas representa a vida de cada um na face da terra. Agora eu vou lhe mostrar a do homem rico que você quer tratá-lo.
João viu a vela do homem findando, quase apagando. Então ele perguntou para a comadre:
-E a minha, comadre? Cadê?
-É esta aqui. Está enorme e você vai ter uma vida longa.
-Comadre, a gente pode trocar?
-Trocar como?!
-Pegue a vela dele e põe no lugar da minha, e a minha no lugar da dele.
-Bem, compadre, se você quiser posso trocar.
-Pode trocar, disse João.
A comadre trocou e ele foi fazer a garrafada. Quando ele entrou no quarto encontrou a comadre sentada aos pés da cama. Ele ficou alegre, pois sabia que o homem ficaria curado e ele iria ganhar bastante dinheiro e ficar famoso. Ele deu o remédio e o rico homem ficou curado. Deu bastante dinheiro ao João curador e ele foi se embora para sua casa. Mas, quando chegou lá, se lembrou que tinha trocado a sua vela pela do rico. Ele lembrou assombrado, pois a sua riqueza não iria valer nada, na certa iria morrer. Então ele disse para a sua esposa: Mulher, eu vou pelar o meu cabelo e fazer a minha barba. Quando eu chegar do barbeiro, vou deitar aqui no meio dos meninos. Quando a comadre chegar aqui me procurando, diz a ela que eu fiz uma viagem e não sabe quando voltarei e nem tampouco diz a ela para onde eu fui. Quando ele deitou no meio dos meninos, achando que a comadre não iria lhe reconhecer, se enganou. A comadre chegou e disse à sua esposa:
-Cadê compadre João, comadre?
-Ele fez uma viagem.
-Para onde, comadre?!
-Ele não me disse.
-Ora! O compadre não poderia fazer isso comigo, pois o nosso trato foi hoje e não poderá passar de hoje. Como é que o compadre faz uma desfeita desta comigo?! Olhe, comadre, eu vou entrar e levar um dos meninos no lugar dele. Pois trato é trato...
A Morte entrou e viu os meninos deitados todos juntinhos. Então a morte disse para a comadre:
-Olhe, comadre, como o compadre não está aqui, eu levarei este da cabeça pelada no lugar dele. Mal a Morte o tocou, João deu a alma ao criador.

Dinheiro não compra a morte e nem tampouco o céu.

Honorato Ribeiro dos Santos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

ESCRAVIDÃO AINDA EXISTE..


A ESCRAVIDÃO AINDA EXISTE.

Vou transcrever uma triste história da verdadeira escravidão, ainda acontecida em pleno século XX, já no final. Os nomes dos personagens são irreais, inclusive do protagonista que, auxiliado por Deus fugiu livrando-se dos carrascos o matarem, mas ficou calado, pois se tratava de uma grande fazenda de um político muito poderoso. Eu o entrevistei e publiquei em meu livro: A BIOGRAFIA DE CARINHANHA, No Médio São Francisco, Volume 3º, páginas 35, 36 e 37. Leia com atenção.

De vez em quando a gente assiste notícias nos jornais da Globo e outras TVs, que donos de terras enganam trabalhadores com belas vantagens para trabalhar em suas fazendas. A maioria deles são lavradores desempregados. Mas quando chegam à sua fazenda, transformam-nos em regime escravista. As notícias se alastram em jornais com fotos e entrevistas, mas não aparece nenhum coronel na cadeia. Fica sempre em pune.
No ano de 1962, em Minas Gerais, seu Zeca motorista, filho dessa terra baiana, me contou com lágrimas nos olhos, o que aconteceu com ele numa fazenda de um poderoso político. Zeca motorista, grande mecânico, criado e educado por um engenheiro agrônomo, aprendeu ser um verdadeiro cidadão honrado. Zeca fora, desde sua adolescência, muito inteligente e prestativo. Era casado com Júlia tiveram dois filhos: Um homem e uma mulher. Mas como em Carinhanha não houvesse trabalho, saiu para outras plagas, a fim de melhorar de vida. Chegando a Montes Claros, encontrou um gerente de uma fazenda que estava procurando trabalhadores para trabalhar lá na dita fazenda, onde ele era o gerente. Zeca motorista se apresentou com sua carteira de motorista e mostrou ao gerente, perguntando-o se havia trabalho para motorista. O gerente afirmou que sim e foi contratado imediatamente. Havia muito peão com sua família se inscrevendo para o trabalho na dita fazenda. O gerente pedia o documento de cada um, inclusive carteira de trabalho. Terminado as inscrições, todos subiram no pau-de-arara rumo a tal fazenda. Todos ficaram alegres, pois estavam empregados. Zeca motorista era filho de Salvador, (soteropolitano), menino peralta nas ruas e avenidas da cidade do Salvador, capital da Bahia. A sua mãe, com medo de ver o seu filho um dia ser atropelado, deu-o ao Dr Roberto Ribeiro, engenheiro, a fim de criar e educar, como fora realmente. O Dr Roberto Ribeiro veio com a sua família morar aqui em Carinhanha e trouxe o Zeca, já rapazola. Zeca foi enviado para Pirapora para estudar e tirar carteira de motorista e curso de mecânica. Veio e foi empregado na Comissão do Vale do São Francisco por muitos anos aqui em Carinhanha. O Doutor Roberto mudou-se para Belo Horizonte, mas Zeca ficou, pois já era casado. Foi desempregado e por isso foi obrigado a partir para outros lugares em busca de emprego.
O caminhão subia serra e descia serra, cortava areão, buracos e atalhos; era estrada de chão longe do asfalto até chegou à fazenda onde iriam trabalhar. Todos chegaram contentes sem saber o que iria acontecer. Desceram todos do caminhão. Era cerca de cinqüenta trabalhadores. Lá já existiam muitos morando lá em barracos sem conforto nenhum e sem condições de vida digna. Todos se reuniram à frete da casa da fazenda, quando apareceu o dono com voz autoritária de homem prepotente disse-lhes: “Aviso a todos como vai ser a vida de cada um a partir de agora. Prestem atenção: O pagamento só vai receber depois de seis meses; e não quero reclamação de ninguém. Ninguém vai embora daqui e nem tente a fugir. Se alguém tentar fugir iremos atrás e, se for pego, vai apanhar de chicote de cavalo de lá até aqui. E se reagir, morrerá. Para esse trabalho tenho homens que sabem fazer muito bem e são valentes. Portanto, estão todos avisados. Agora, cada um pega as suas coisas e vai para seu barraco. O que precisarem de alimento será comprado no armazém.”
O medo tomou conta de todos e se perguntava uns aos outros: Meu Deus, que absurdo! Ave Maria! Deus nos livre, pois fomos enganados. Mas um dia deram falta de uma família de três filhos menor de idade. Avisaram ao dono da fazenda que imediatamente mandou seus homens armados e com cachorros e se espalharam pela mata à dentro em busca dos fugitivos. Mas os homens voltaram da busca dizendo que não tinham encontrado. Ninguém soube como eles se escaparam. Pois, na mata, além do perigo de os jagunços pegarem, havia também o perigo de onça comê-los e a fazenda era cercada de serra difícil de subir e descer com crianças pequenas. Mas escaparam.
Zeca motorista encontrou um velho que morava ali naquela fazenda já havia bastante anos como escravo. Tornaram-se amigos íntimos. O velho se chamava Sebastião. Era nordestino. Deixou tudo lá no Ceará e, atrás de vida melhor, acabou ali sem poder mais voltar para sua terra e sua família. Ele jamais pensara que ainda existisse escravidão no Brasil. Hoje está muito pior, pois, naquele tempo era escravidão às vistas de todos e da imprensa. Os poetas como Castro Alves, advogados, padres, defendiam a escravidão. Hoje, que vivemos na democracia, tendo rádio e televisão, estamos aqui clandestinamente e não podemos denunciar, porque o homem é rico e poderoso.
Veja, Zeca, bem ali naquele capinzal, existe escondido um cemitério de gente trabalhadora que tentou fugir e acabou sendo morto. Eu já vi coisas absurdas aqui, meu amigo de assombrar qualquer ser humano. Agora eu vou viver aqui nessa prisão clandestina sem poder voltar para meus familiares. Agora, se você tiver coragem de fugir, vou lhe ensinar um jeitinho bom e ninguém vai lhe pegar. Preste bem atenção como é que você irá escapar daqui. Você está vendo aquela estrada de rodagem?  Todo dia, ali, passa um caminhão carregado de madeira indo para Montes Claro. Bem em frente há uma curva; você espera ele passar na curva, aí, você bate a mão para o motorista parar. Diz a ele que você também é motorista. Mostre a ele a sua carteira de motorista. Como os motoristas são unidos ele lhe levará. Tenho certeza. Conte a ele que você foi enganado. Na hora que a sineta bater para o almoço, você pega o seu e entra na mata; fique a espera do caminhão. Ninguém vai dar falta de você um bom tempo. Vai e que Deus lhe proteja.
Zeca fez tudo certinho como o velho tinha lhe orientado. Quando bateu a sineta ele pegou seu prato e dirigiu-se para a mata e sumiu até chegou ao ponto em que ele deveria esperar pelo caminhão. Mal ele chegou ouviu o barulho do caminhão. Era um FORD cheio de madeira. Zeca ficou à beira da estrada e deu sinal ao motorista para parar. O motorista parou e ele mostrou sua carteira pedindo-lhe uma carona; e contou a ele que tinha sido enganado e estava fugindo. O homem olhou para Zeca e disse-lhe: Colega, é um tanto arriscado para mim e você!...Se nos pegar eles acabarão com a gente. Mas... Vamos arriscar. Suba e fique escondido entre as madeiras e vamos embora. Seja lá o que Deus quiser.
Zeca subiu e o caminhão partiu para Montes Claros. O caminhão sobe ladeira, desce ladeira, curvas e mais curvas. Já bem distante, lá em cima da serra, Zeca olha para trás e vê a fazenda. Observou bem e tudo estava em paz. Os capangas e os peões estavam ainda almoçando. Até àquele momento não sabiam que ele estivesse bem longe fugindo num caminhão de transportar madeira. A sorte estava lhe protegendo. E ele ficou mais alegre quando avistou Montes Claros. Minutos depois o caminhão parou e ele desceu, dando um suspiro de alívio e agradecendo a Deus por ter escapado em leso. Como Zeca não tivesse dinheiro, nem mala, somente com a roupa do corpo, lembrou-se que havia ali a COMOSSÃO DO VALE DO SÃO FRANCISCO e seguiu para lá, a fim de pedir socorro aos companheiros, pois ele já forra empregado nela e conhecia amigos. Chegando lá, pediu ao engenheiro, para que o ajudasse com passagem para ele ir a Belo Horizonte, onde morava o Dr Roberto Ribeiro quem lhe criou. O engenheiro era colega de Dr. Roberto Ribeiro e deu-lhe a passagem. Chegando a Belo Horizonte foi se apresentar ao Dr. Roberto Ribeiro e lhe contou tudo sobre a tal fazenda. O Dr. Quando o viu, ficou bastante alegre, pois já havia muitos anos que não tinha notícia dela. Ficou uns dias com seu pai de criação e depois partiu para Carinhanha. Antes de ele ir trabalhar nessa maldita fazenda, ele já havia trabalhado em Mato Grosso, Paraná, mas não teve sucesso. Já havia oito anos que ele tinha deixado a sua família. Quando chegou de vapor, alguém o viu e correu para falar com sua esposa. Esta que acreditava de o marido ter morrido, pois não sabia do seu paradeiro, desmaiou-se com a notícia. Pagaram-na, deram um copo d` água com açúcar e ela voltou a si.
Esta história verídica que ora escrevi, embora triste, mas verdadeira. Ele faleceu, depois de muitos anos trabalhando como funcionário da prefeitura municipal de Carinhanha. Aposentou-se e viveu entre nós até o dia em que Deus o chamou.