sábado, 17 de janeiro de 2015

EU SOU A ORTOGRAFIA.



Crônica de Honorato Ribeiro dos Santos.

O que é ortografia? Vou lhes dizer primeiro quem sou: Ortografia é a arte de escrever corretamente as palavras de uma língua; faço parte da gramática que ensina essa bela arte de escrever as palavras certas. Não tolero que alguém me use erroneamente. Sabe por quê? Porque eu nasci de um hibridismo clássico: Meu pai nasceu na capital do império romano, Roma, e ele se chama Verbo. A minha mãe nasceu na Grécia, nos tempos dos grandes sábios e se chama Gramática. Então, eu nasci na Grécia, educada em Roma e depois fui fazer faculdade em Portugal, muito antes de Luis Camões, e o padre Antônio Vieira. Depois, Portugal fez várias colônias e em cada uma dela ele me implantou tal qual como o sou. Sou muito exigente. Não tenho regra a exigir de ninguém, porém, como o meu pai se chama Verbo e a minha mãe se chama Gramática eles é que são os maestros e usa uma batuta em forma de compasso binário. Nesse compasso quem não aprender bem a partitura e a harmonia, sairá e não poderá ser componente dessa orquestra de Beethoven. Claro que estou usando, aqui, para explicar melhor, uma metáfora; talvez uma parábola. Mas a logística minha só existe uma: Ler, reler, viver lendo os bons escritores: revistas, jornais, romances, e reparar em cada palavrinha como é que sou escrita etimologicamente. Lembre-se que sou filha de dois complexos pais: o Verbo e a Gramática. Todo mundo poderia escrever êzodo e não êxodo. O som é o mesmo, mas a grafia, não. Você poderia escrever caza, mas ela se escreve com “s”. E existem muitas palavras em português que é muito complicada para se escrever corretamente. Veja essa como é escrita etimologicamente: superstição. Mas a nova nomenclatura portuguesa você terá de estar consciente ou a par de tudo gramaticalmente. Olha, agora mataram meu irmão caçula: O trema. Sabia que não existe mais? Eu tenho uma porção de irmãos e todos são complicados: ponto de exclamação, ponto e vírgula, ponto de interrogação, ponto parágrafo, ponto final, acento agudo, acento circunflexo, acento grave, este é complicado, pois só aparece para crasear o “a” e a regra da crase é outro “Deus nos acuda”!... Derruba qualquer universitário; e minha complicada irmã vírgula. É... ela é complicadíssima e muita gente tropeça nela; e quebra a cara, além de o dedão do pé ficar inchado e a pessoa claudicar, quando for andar. Uns até usa muleta. Ela, minha irmã vírgula, é pior do que eu, a Ortografia. Só que ela tem regras e muitas, mas eu, não. Não tenho regra nenhuma, basta ser um leitor amante da leitura e comer com apetite “O Navio Negreiro”, “Os Sertões”, “Gabriela Cravo e Canela”, e fazer uma visita a Cecília Meireles e a Monteiro Lobato, Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade, Venícius de Morais, Mário Quintana, Manuel Bandeira, Guerra Junqueira, Fernando Sabino, Humberto de Campos, Ruben Braga, Olavo Bilac, Gonçalves Dias, Jorge de Lima, Paulo Coelho, Millôr Fernandes, padre Antônio Vieira e padre Antônio Tomás e as nossas revistas e jornais. Então, somente assim você poderá escrever ortograficamente bem e corretamente e ter de lado o Aurélio. Não se esqueça que eu sou a: ORTOGRAFIA.

Um forte abraço da amiga de sempre dos que gostam da boa leitura.     

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

EU SOU O VERBO.



Crônica de Honorato Ribeiro dos Santos.

Assim começa a gramática a dizer-lhe quem o sou: “Verbos são palavras que indicam ação, estado ou fenômeno da natureza.” Que complicação a gramática faz comigo! E mais complicado ela diz: “Os verbos estão distribuídos em três conjugações: os da primeira conjugação em ar; os da segunda conjugação em er; e o da terceira conjugação em ir. Que complicação a gramática faz comigo é uma loucura! Se sou uma só pessoa ela me divide em várias? Não é para deixar as pessoas loucas? Veja a mais complicação que ela faz: “O verbo muda de forma para indicar a pessoa, o número, o tempo e o modo”. Já pensou que complicação louca? É de arder a cuca do estudante e dos sábios. Eu sou uma pessoa por nome de batismo e registrado em cartório: Verbo. Eu não sou Deus para ser tão místico assim. Depois ela, a gramática, diz: “O verbo varia em número e pessoa: Eu, tu, ele; nós, vós eles”. E “você” onde fica nessa história de regras? “Você” também não é pessoa? Aparece o aluno inteligente e pergunta: E por que a gente usa mais você de que tu? Então ela vem com aquela história arcaica e explica: Você é o antigo vosmicê, que hoje é vós e não mais vosmicê. O aluno pergunta: E por que não usamos vós no plural ou tu, que é o singular de vós, ao invés de usar você? Ela responde: É difícil a flexão do verbo na segunda pessoa do plural: vós. É mais fácil usar você que vai para a terceira do singular, embora você seja da segunda pessoa do plural, mas o verbo fica na terceira pessoa do singular. Agora, dona gramática você complicou tudo! Eu vou mudar para Portugal, pois lá não há essa complicação toda. Lá é: Eu que falo para ti (tu), eu e tu falamos dele. (de+ele=dele), terceira pessoa. Não fala você no lugar de ele. Bem, gostaria de que eu não fosse tão com plicado assim. Mas sou complicado mesmo. Nasci assim e assim serei para ser usado no meu lugar devido. Agora, vem a mais complicação. Tempo do verbo que são três: Presente, passado e futuro. Vem mais outra complicação: O pretérito divide-se em três: Pretérito perfeito, pretérito imperfeito e pretérito mais que perfeito. Entendeu? Eu, não! Como posso entender se a minha professora primária não existe mais? Expulsaram-na das escolas. Vai aprender sabatina agora com quem? E o beabá do ceacá ceocó... Um bê com a beabá? E quem irá ensinar tudo isso na íntegra das flexões verbais dos verbos regulares, irregulares, anômulos; os transitivos e os intransitivos? E os verbos auxiliares e os verbos de ligações? Por isso é que eu sou uma pessoa muito difícil de usar-me e colocar-me no meu devido lugar, pois eu sou complicado. Sabe por quê? Eu é que determino o sujeito. Nós somos irmãos gêmeos. Às vezes eu não apareço e fico escondido em zeugma. Agora vem outra complicação. Veja o que diz a gramática: O futuro divide-se em futuro presente e futuro do pretérito. Não complicou mais ainda? Se é futuro é aquele que ainda virá; é o porvir. Agora ela diz que é pretérito, isto é, passado do futuro!? Que coisa mais complicada! Depois ela diz que existem modos. Que modos são esses, meu Deus?! É de rachar a cuca. Aí ele explica: Os modos dos verbos são: Indicativo, subjuntivo e imperativo. E não para com a loucura dela. Sabe o que ela diz: O imperativo pode ser: afirmativo ou negativo. Dá para você entender? É ou não é ou deixa de ser. Ou você é o meio do campo ou lateral direita, mas tem que fazer gol e não levar de sete a um. Ainda ela vem novamente a complicar: Formas nominais do verbo: Infinitivo pessoal e impessoal; gerúndio e particípio. Está louca, dona gramática! Quer deixar a gente louca? Eu sou uma pessoa tão simples, que o Mestre dos mestres afirmou que Ele é o Verbo de Deus. Eu sou uma pessoa divina e respeitada. Não sou assim tão complicado como a senhora, dona gramática quer fazer-me de místico. Não, não o sou. Sou apenas o verbo que comunica, que aviso, que sempre estou na boca de todos sem exceção. Sem mim nada poderá fazer. Todos sem mim ficam mudos e surdos. Agora, direi a verdade: Eu sou complicado; e, muitas vezes sem saber me usar, me assassina sem perdão. E isso é muito ruim para o desenvolvimento econômico de um País como o nosso. Opa! Esqueci-me de uma coisa mais complicada ainda que a dona gramática explica, mas não explica. Sabe o que é? Você se lembra que ela disse que os verbos têm três conjugações? E eles terminam em ar, er ir? Lembra que ela afirmou? Mas onde fica o verbo por e seus derivados, pois não existe conjugação de or! Ela não é complicada de mais? Agora alguém inteligente lhe perguntou: E o verbo por, dona gramática, donde é que ele apareceu? E ela, com a cara de pau, vai, lá ao baú do século XIX, e retira para explicar. E diz bem calma e erudita: Havia um verbo que era o poer, da segunda conjugação. Por não usá-lo mais, se tornou arcaico e se abreviou em por. Por é da segunda conjugação, entendeu? Puxa, dona gramática, agora eu estou satisfeito com a sua explicação. Mas nas escolas existe uma professora como a senhora? Existia nos meus tempos do latim. Mas hoje virou sucata a escola em todo país, e faz de conta que eu ensino e faz de conta que eu aprendo; e adeus verbo, nem quero saber quem o é.
Agora, “estudante do Brasil, tua missão é a maior lição”... Quer aprender sem mim, fica difícil se comunicar com o mundo de hoje: Mão de obra boa para aprender e ensinar. Boas escolas e bons professores como a dona gramática.
Um forte abraço desse seu amigo: O VERBO.