DIÁLOGO COM UM
AMIGO.
Crônica de
Honorato Ribeiro dos Santos.
Um dia meus
pais me apresentaram a um amigo deles. Eu era ainda pequeno tinha apenas três
anos de idade. Ele me deu a sua mão e eu a segurei e nós dois sorrimos um para
o outro. Daquele dia em diante, nós nos tornemos amigos. Cresci, estudei,
formei-me em professor, estudei filosofia, e muitos livros de bons autores, fiz
curso bíblico, relações humanas, liturgia e teologia. Depois que fiz teologia,
cristologia, exegese, é que fui saber quem era aquele amigo, que os meus pais
me apresentaram. É claro que eu nunca deixei de amá-lo e de encontrá-lo, interiormente
nos meus pensamentos e falava sempre com ele silenciosamente dentro do meu
quarto. Mas eu tive um sonho como numa visão e que repetiu três vezes
sucessivamente. Vi-o chegando e entrou no meu quarto, dirigiu-se para mim e me
disse:
Boa noite,
Honorato.
-Boa noite!
Lembra-me de
mim?
-Sim, pois
nunca lhe esqueci, e você é o meu maior amigo.
-Mas você me
entendeu como sou muito exigente?
-Entendi, sim.
E como é difícil lhe entender, amigo!
-Quando foi
que você percebeu que sou exigente?
-Quando eu li
as bem-aventuranças, principalmente os versículos dez e onze e o Pai nosso.
-Por que você
achou difícil?
-Achei difícil
viver, principalmente essa frase: “Seja feita a vossa vontade!” Ele desapareceu
e eu acordei. Foi esse o primeiro sonho que tive.
O segundo
sonho ele me apareceu muito triste. Não sorriu para mim. E eu lhe perguntei:
-Por que está
triste e não sorriu para mim!? O que houve entre mim e você?
-Porque há
muitos anos que você reza o Pai nosso e não vive. Eu ensinei foi para você
viver tudo que nele está escrito.
-Mas é muito
difícil fazer à sua vontade! O mundo é muito atraente... Embora eu seja
pecador, faço tudo para ser menos. Rezo dia e noite o Pai nosso e leio sempre as
bem-avanturanças... Mas... “Bem aventurados quando eu for perseguido,
caluniado, maltratado”, é dose dura, não vou lhe negar.
-Mas leia e
leia que eu estarei lhe ajudando a compreender e a viver.
-Mas vai
demorar, pois eu me esforço todos os dias a fazer a sua vontade. Mas lhe
pergunto: Que vontade é essa tão difícil?
-Ele me disse:
É ganhar o Reino dos céus! O Reino do céu não tem dois pesos e duas medidas;
não há dois caminhos, porque o caminho sou eu mesmo.
-Posso lhe
perguntar uma coisa? Mas ele desapareceu rapidamente e eu acordei.
Como sempre eu
rezo o terço antes de eu me deitar, depois do credo, rezo o Pai nosso e medito
sempre, reflito profundamente bem para compreender como viver o que nele
contém, não consigo viver as palavras contidas nele e acabo deitando logo e
pego no sono. Assim que dormi vi, numa visão, - esse foi o terceiro sonho - ele
me apareceu mais alegre e sorridente e disse-me:
-Entendeu as
bem-aventuranças?
-Entendi, mas
viver é bem difícil aceitar as aprovações. Estou me esforçando, mas lhe
confesso: viver tudo o que nela contém, é muito difícil.
-Continue a si
esforçar. O Reino dos céus sofre violências e somente os justos entrarão nele.
Poucos são os escolhidos, pois não forço a ninguém viver as bem-aventuranças,
tampouco o Pai nosso. Somente os justos acham fácil viverem as bem-aventuranças
e o Pai nosso, são os convertidos ao Reino dos céus.
-Quem são os
justos!?
-Os que
aceitam receber os cravos de minhas mãos e dos meus pés. E os santos aceitaram.
Leia o livro das revelações que você irá saber que são os justos e assinalados;
escritos no livro da vida. Todos receberam as minhas vestes brancas e banharam-nas
com o meu sangue. Eis as bem-aventuranças.
-Mas eu ouço
muitas pessoas que dizem ser seus amigos, porque você os ajudou a terem bons
empregos, curou-lhes as dores que sentiam e outros passaram no vestibular,
curou seus filhos, seus parentes, e fez milagres para eles; hoje muitos deles afirmam
que mudaram de vida financeira e se tornaram empresários... O que tem a me dizer
sobre essas pessoas suas amigas.
-Só tenho a lhe
dizer que ainda faltam-lhes muito a serem meus amigos e me conhecerem. Sabem o
meu nome de cor. O meu nome, mas não vivem as bem-aventuranças.
-Mas por que lhes
falta muito!?
É preciso que
todos sejam justos e viverem as bem-aventuranças e o Pai nosso. Basta isso para
saber quem eu sou e aceitarem os pregos de minhas mãos e pés.
-Puxa! Até eu
que sou seu amigo desde os meus três anos de idade, tenho que receber esses
cravos nas mãos e nos pés!? Viver as bem-aventuranças e o Pai nosso!?
-Honorato, não
seja fundamentalista, pois eu não tolero; considero como cego errante. Você não
estudou teologia?
-Sim, entendi
e continuo a estudar. Mas o Pai nosso... As bem-aventuranças!..
-Entender,
Honorato, é viver. Os pregos das minhas mãos e dos meus pés são as bem-aventuranças
e viver o que o Pai nosso relata até o fim, sem deixar sequer uma vírgula.
-Não acha que
é muito exigente?
-Mas toda a
minha vida foi essa: Fazendo a vontade de meu Pai. E, quando chegou a minha
hora e lhe pedi para que afastasse aquele cálice, ele não afastou. Sabe por
quê?
-Diga-me,
estou a lhe ouvir.
-Porque as
bem-aventuranças e o Pai nosso pede: “Seja feita a vossa vontade” E eu
fiz, não fiz? Eu fui obediente ao meu
Pai, até nas maiores barbaridades que fizeram comigo.
-Fez sim em
toda a sua vida a vontade de seu Pai. E não foi predestinado ao sofrer tudo
isso, não é mesmo?
-Pois é. É
assim que eu quero que você viva; como eu vivi perante o meu Pai. E o seja
feito a sua vontade que diz o Pai nosso, foi isso que fiz em toda a minha vida.
-Mas... o que
eu ganho com isso?
-Ganhará o
Reino dos céus como justo e sentará num trono para julgar os que não quiseram e
os que não querem ser justos. Eu dei aos meus apóstolos e discípulos e lhe
darei também. Pois quem fizer a vontade do meu Pai, saberá amar, perdoar e
denunciar as injustiças, aí é que você irá entender as bem-aventuranças e o Pai
nosso, quando viver de verdade. Como você estudou tanto sobre mim, saberá que
eu sou o único caminho que levará ao Reino dos céus. Você quer ir, viva como eu
vivi perante o meu Pai. Quem disser, Honorato, que me conhece e é meu amigo,
mas não aceita os cravos de minhas mãos e dos meus pés, está longe de eu ser
seu amigo.
Ele
desapareceu e eu acordei e disse: Como é difícil seguir o meu amigo! Mas durante a minha estada aqui, tentarei ser
seu amigo longe de hipocrisia e de ideologias religiosas. Basta viver como
cristão primitivamente.