terça-feira, 28 de dezembro de 2010

EQUIZOFRÊNICO CHIQUINHO.


EQUISOFRÊNICO CHIQUINHO.
Honorato Ribeiro dos Santos.

Chiquinho, jovem de família pobre, porém, muito querido na cidade, gostava de vestir-se bem qual um janota. Suas roupas preferidas eram feitas d e puro linho. O linho naquela época, era roupa de gente rica. Poucos pobres vestiam-se por ser bastante caro o tecido linho. Mas o Chiquinho, pobre que era, porém trabalhador juntava o seu dinheirinho e vestia-se à moda dos ricaços da cidade. Todos o consideravam um rapaz decente e que sabia bem se trajar.
Quando apareceram as primeiras bicicletas na cidade, de marca Monark, Chiquinho comprou logo uma e aprendeu depressa. À tarde, ele tomava banho, trocava-se de roupa de linho branco, montava na sua bicicleta e saia a passear pelas ruas da cidade, sempre contente e satisfeito da vida. Ninguém, jamais, vira Chiquinho de mau humor. Sempre alegre e satisfeito com a vida que levava como pobre que era. Gostava de jogar futebol na posição de ponta direita. Ainda me lembro, quando fizemos um amistoso: Rua de Baixo contra Rua de Cima. Sempre terminava em briga, mas Chiquinho ficava fora das brigas. Ele não gostava de confusão contra ninguém.
Depois que construíram a pista de pouso para avião bimotor, surgiram as linhas: Cruzeiro do Sul, a Nacional, a Sadia e a Varig. Essa pegava quarenta passageiros. Muita gente embarcava para Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Brasília e algumas cidades ribeirinhas do rio São Francisco como: Pirapora-MG, Januária-MG, Carinhanha-Ba, Bom Jesus da Lapa-Ba, Cidade da Barra-Ba, Xiquexique-Ba e Petrolina-Pe. Chiquinho, como muita gente da cidade, ia a campo assistir ao embarque e desembarque no avião da Varig. Chiquinho ia na sua bicicleta e nunca perdeu a chegada do pouso da Varig.
Um dia, belo dia! Dia bom no presente, porém, que futuro triste, para Chiquinho...Desceu uma linda moça, aeromoça, que se encantou aos olhos de todos que a viram. Todo mundo ficou encantado com a beleza da aeromoça. Era mesmo linda de enfeitiçar os olhos de qualquer jovem. Mas para Chiquinho, para os seus olhos, a coisa foi diferente: Amor a primeira vista. Ele falava o tempo todo sobre a beleza da aeromoça que ficou apaixonadamente, alucinadamente pela aeromoça, sem, pelo menos conversar com ela; bater um papo. Não sabia se ela era moça solteira ou casada. Para o coração de Chiquinho ela era a sua enamorada, a sua vida. Não pensava mais em outra coisa e sua mente só morava a figura encantadora da aeromoça. Todas as vezes que o avião roncava rasgando o céu da cidade de Carinhanha, Chiquinho montava em sua bicicleta e saia feito louco para ver a sua encantadora aeromoça. Seu coração disparava em taquicardia que parecia sair pela boca de tanta alegria de ver novamente a sua bela enamorada descer da escada do avião, vestida naquela fardamenta linda da Aeronáutica, sorridente e assistindo aos passageiros. Quando Chiquinho batia seus olhos para ela ele dizia: Rapaz, é linda demais, caramba! Não existe outra beleza igual a ela! Puxa vida! E falava o tempo todos e os olhos não saia dela.
O avião decolava e levava a sua encantadora aeromoça; e ele voltava para sua casa alegre, satisfeito.
Dia triste para Chiquinho, quando o avião da Varig pousou e não desceu a aeromoça. Mudou-se de rota. Foi substituído por uma outra aeromoça. Mas, sempre que o avião pousava o Chiquinho ia, na esperança de vê-la novamente. Mas ela não veio nunca mais. Então Chiquinho se entristeceu, ficou taciturno, não sorriu mais; não andou mais na sua bicicleta e se enlouqueceu. Não falou mais com ninguém e falava baixinho consigo mesmo e sorria. Ia para o mato e tirava gravetos, punha-se debaixo do braço e saia pela rua: sujo, cabeludo, descalço; mudou completamente de um janota para um mal trajado. Não perde uma solenidade na igreja, mas sempre com o feixe de vara debaixo do braço a conversar baixinho consigo mesmo e sorria. Muitas vezes falava com a gente e chamava pelo nome; mas raramente acontecia. Chegava à porta de um conhecido, pedia comida; comia ali mesmo, deixava o prato e ia embora. Quem o conheceu como trabalhador decente e vestia-se bem lamentava o que aconteceu com o Chiquinho. Todos começaram a lhe chamar de Chiquinho Doido. Mas o seu verdadeiro nome  era: Francisco Rodrigues Cerqueira, que morava com sua afim Roberta, que o zelou o tempo todo até quando Deus o chamou. Ele morava à rua  Ana Angélica. Faleceu, no dia 20 de maio de2006, e foi sepultado no Cemitério Senhora Santana, no Bairro Alto da Colina. Os repórteres da Pontal FM, Duacy Santos  e Jota Pinheiro, leram, no outro dia, essa mesma história, que oro narro, o que aconteceu com um jovem conterrâneo da cidade de Carinhanha, à margem esquerda do Velho Chico. Chiquinho partiu para a eternidade e deixou uma história comovente para todos que o conheceu e para quem lê, analisando psicologicamente como é a cabeça do ser humano. Acredito que há muitos Chiquinhos por esse mundo a fora.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

CHICO VAQUEIRO.


CHICO VAQUEIRO.

História contada por Honorato Ribeiro dos Santos.

Chico Vaqueiro, velho matuto, analfabeto, que só conhecia mesmo a labuta do dia-a-dia com seu gado e de sua propriedade. Era mesmo um jeca, mas homem honesto e querido por todos da cidade. Como não sabia ler e nem escrever; distante do mundo moderno, sem rádio para saber das novidades; nunca ouviu ninguém falar no progresso tecnológico de tais invenções. Era mesmo um desinformado de tudo no mundo.
Naquela época, na década de 1940, aqui, mal se ouvia, com o ouvido colado à fechadura da porta de seu Álvaro Telegrafista para escutar as notícias do rádio, que somente ele possuía. Muito orgulhoso, trancava a porta para evitar os curiosos; somente ele e sua mulher poderiam ouvir o Repórter Esso, e mais ninguém. Era maníaco o velho Álvaro Telegrafista.
Chico Vaqueiro ouviu falar do tal rádio, mas não tinha noção de como seria o tal aparelho moderno, que somente Álvaro o tinha. Também ouvia o povo falar em trem de ferro, avião, caminhão e bicicleta, mas nunca tinha visto nenhum deles nem mesmo pelo retrato. Entretanto, na sua perspectiva imaginária formavam imagens irreais e absurdas desses objetos modernos, na sua mente, cujos objetos já estavam surgindo, mas aqui não havia nenhum deles.
José de Oliveira Lisboa, prefeito municipal da pequena cidade, conhecido por Zuza Lisboa, era idealista e amava o progresso e o desenvolvimento de sua terra, resolveu comprar uma máquina a vapor para beneficiar algodão e arroz. Era a usina sonhada por ele e por todos., pois geraria emprego para muita gente. Assim aconteceu. Zuza Lisboa comprou a máquina e veio transportada em um caminhão FORD. Veio, também, um técnico alemão por nome Otta montar a usina e pô-la para funcionar. Houve realmente um grande progresso para a cidade. Muita gente se empregou e ganhou muito dinheiro. O algodão era o ouro branco daquela época. Saia fardos de algodão de 100 quilos para embarcar nos vapores até a cidade de Pirapora, em Minas Gerais.
A história verídica que ora contamos é muito engraçada. Não havendo lanchas e nem ponte, o gado, automóvel e caminhão atravessavam em ajouje. Assim aconteceu. O caminhão atravessou no ajouje, no pontal e seguiu para a cidade de Carinhanha à margem esquerda do Velho Chico. Como não havia estrada, pois o primeiro caminhão, que surgiu, era estrada cavaleira de areão. O caminhão com o peso da máquina teve de reduzir e fez muito barulho. Para quem nunca viu ou ouviu o ronco de um caminhão FORD rasgando areão, se espantaria à primeira vista. Foi o que aconteceu com seu Chico Vaqueiro. Ele, como de sempre, arriou o seu cavalo, pôs os alforjes cheios de ovos na garupa do cavalo, para vender na cidade. Era já de encomenda. Montou no cavalo e seguiu para pegar à marginal da estrada. Mas, quando ele saiu da vicinal e pegou a estrada principal, deparou-se com o caminhão com seus faróis acesos e o barulho do motor, a luz forte encandeou os olhos de Chico Vaqueiro e os do cavalo; que saíram loucos: cavalo e cavaleiro assombrados quebrando pau, rasgando estrada, até chegou à sua fazendo de olhos arregalados, sem fôlego e completamente assombrado. Não seria diferente mesmo, para quem nunca viu um caminhão e os faróis fortes e com tamanho barulho do motor é de se assombrar quem nunca viu. Chico Vaqueiro entrou na casa, trêmulo sem poder falar, pois, o coração disparou numa taquicardia a 180 batidas. Só faltou sair pela boca. Entalado, suando frio, com as calças toda borrada, arregalou os olhos para a esposa e disse-lhe: Defonsa, me dá água qui to assombrado, muié! Meu cavalo também tá!
-O qui foi, home de Deus!? Cê tá amarelo e tremeno?!
-Defonsa, eu vi um bichão tão horrive, cum os oião lumiento quinem fogo, cua claridade qui fiquei cego e surdo do ronco do bicho!...O bicho curria tanto, Defonsa, e zuano forte qui nunca vi em toda minha vida! Era mais veloz do que meu cavalo! Num to li dizeno, Defonsa?! O ronco do bicho sacudiu os matos e o chão. Ele era mais maior do que esta casa; num to li contando, muié?! Pode crê, Defonsa, pode crê!..
-Chico, num é um tar de camião de Zuza Lisboa qui o povo tá dizeno que vem aí, home?!
-Não era camiano não, Defonsa! O bicho era veloz demais. Curria, butecava o zoios ni mim queria me cumê, Defonsa! Se eu não fosse bom vaqueiro e meu cavalo não fosse bom, o bicho tinha me cumido eu e meu cavalo!
-Ô Chico, eu onte vi uma tar de bicicleta, quem sabe não foi a bicicleta qui cê viu?
-Não foi bicha queta nem nada, muié! Era um bichão inorme e corredor.
-Tô achano qui ocê tem razão, Chico. Eu vou fazer um chá de erva-cidreira pro cê tomar e acarmar. Depois deita um pouco e assossega. E os ovos, Chico?
-Quebou tudo, Defonsa.
-oito dúzia de ovo, quebrou tudo?! Minha Nossa Senhora! E agora, meu Deus?! Era de incumenda...
No outro dia Chico Vaqueiro foi com sua esposa à cidade e viram o caminhão e a máquina da usina em cima e muita gente curiosa em redor admirando da geringonça. Chico Vaqueiro, ainda assustada, foi chegando de mansinho para conhecer o tal bicho de ferro que o deixou assombrado. Então ele disse para sua mulher:
-É verdade, Defonsa, os home quer ser mais de que Deus! Cuma é, Defonsa, qui um montão de ferro desse, tem zoi de fogo qui clereia tudo e uma zuada danada tem tanta força?! Eu tô besta de vê cuma é qui o home inveta essa coisa de assombrar a gente!
-É, Chico, maió mermo é Deus e nada mais. Vamo imbora pra casa, Chico. Já vimo o bicho. Foi Deus qui li ajudou cê não morrê assombrado!. 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O AMOR DE MARIANA.


O AMOR DE MARIANA.
Do livro Carinhanha e sua história.
De Honorato Ribeiro. (Pag 56 a 59).

Capitão Rômulo Dias, um fazendeiro bastante rico, proprietário de várias terras, tinha vários filhos, os quais lhe obedeciam e sempre estavam ao lado do pai ajudando na labuta diária na fazenda. Ele tinha três filhas muito bonitas e prendadas. A educação e o respeito para com ele era bastante rígida. Todos teriam de lhe obedecer e nenhum fazia desgosto ao pai. A filha mais nova era simpática, elegante e educada. Todo habitante da pequena cidade gostava muito dela, pois era alegre e sorridente. Como sempre a mocinha quando chega a idade procura logo um namorado. Ela se chamava Mariana. Sempre estava sonhando um dia encontrar um jovem namorar e casar. Ser uma boa mãe de família era o sonho de Mariana.
Um dia ela se encontrou com um jovem da mesma cidade e se interessou nele. Ele era de família tradicional e bom rapaz. Ele se chamava Antônio José. O seu primeiro encontro foi para Mariana o sonho que mais sonhara, pois Antônio José era simpático e correspondeu ao amor de Mariana. Começaram a se encontrar as escondidas, pois seu pai era muito ciumento e não deixava suas filhas namorar sem o seu consentimento.   Se ele não fosse com a cara do rapaz, não tinha namoro e nem tampouco casamento. A sua palavra era de rei: não voltava atrás em suas decisões. E Mariana sabia como o pai era: severo. Mas Mariana estava disposta a enfrentá-lo tudo pelo grande amor que tinha para com o jovem Antônio José. Ela pretendia se casar com ele. Era o amor de sua vida. Ficou apaixonadamente por ele.
Um dia, ela resolveu falar com seu pai que estava gostando de Antônio José e queria se casar com ele. Pedia ao pai o seu consentimento. O coração quase saindo pela boca; tremendo e ansiosa para ouvir a resposta do seu pai. O Capitão Rômulo respondeu para a sua filha, o que ela não gostaria de ouvir: Não. Absolutamente não. Eu conheço aquele rapaz e com ele não deixarei você se casar. Pode acabar o seu namoro com ele hoje mesmo, está me ouvido? Ela ficou triste, chateada e começou a chorar loucamente, pois já estava apaixonado por Antônio José. Mas ela não desistiu e começou a se encontrar com Antônio José às escondidas. Seu amor era mais forte do que o não duro e seco do seu pai. Mas Mariana não desistiu e de quando em quando ela tornava a implorar ao pai para que ele deixasse ela se casar com Antônio José. Mas ele era firme, pois, era capitão de patente comprada da Guarda Nacional. Tinha que educar de sua maneira e não permitia desobediência nenhuma de qualquer filho que fosse: homem ou mulher. Ainda educava os filhos daqueles tempos que o pai era quem escolhia o rapaz para se casar com sua filha.
Antônio José também estava apaixonado por Mariana e queria se casar com ela ter muitos filhos. Quando soube que o pai de Mariana não consentiu nem mesmo o namoro ficou triste, mas aguardava com paciência o sim do pai de Mariana.
Um dia, o capitão Rômulo descobriu que sua filha não tinha desistido do namoro com o jovem Antônio José e resolveu levar a filha para a sua fazenda, a fim de esquecer o rapaz. Lá, na fazenda, de coração aflito e magoado, pois o seu pensamento só fixava no seu grande amor, seu príncipe encantado, seu Romeu, não conseguia dormir. O sonho sonhado era de olhos abertos vendo a imagem do seu grande amor; via o dia amanhecer e a alvorada dos pássaros cantando na copa do juazeiro à frente da fazenda. Cheia de coragem, na hora do café, ela pediu ao pai para que ela voltasse para a cidade, mas o pai não lhe atendeu. Ela ouviu novamente aquele não seco e autoritário. Mariana se recolheu em seu quarto chorou até que os soluços se transformaram em estresse. Louca de amor começou a imaginar coisas absurdas: A na cabeça rondava o leão rugindo querendo lhe devorar. Vieram-lhe tentações, tendências loucas, mas lutava na busca de dialogar com o pai e persistir pedindo-lhe o sim, fazendo-lhe feliz. O pai ignorava o que passava na cabeça da filha; o que é amor verdadeiro de uma jovem de apenas 18 anos de idade, quando se apaixona. Ele ignorava tudo com sua resposta de sempre não. Não dormiu a noite e levantou cedo; escovou os dentes, penteou os cabelos, sentou-se à mesa e tomou café com o pai, calmamente. Os olhos eram de ontem. Então ela resolveu, mais uma vez, mais sério conversar com o pai. Decidiu, pela  última vez, que o pediu para se casar com Antônio José. Seu pai já tinha acabado de tomar o café e deitou-se na rede, como de costume. Então, Mariana aproximou-se do pai e disse-lhe:
-Pai, pelo amor de Deus, eu lhe suplico, deixe-me casar com  Antônio José. Ele é um rapaz bom, de família boa...
-Não quero. Já lhe disse mais de mil vezes. Deixe de ser teimosa.
-Mas, pai, eu amo Antônio José... O senhor me entende? O senhor está fazendo-me  sofrer! E ser infeliz!
-Entendo, sim. Mas eu não quero e você sabe disso. Quando eu não quero uma coisa é ponto final.
-É a última palavra do senhor, meu pai?
-É a última, entendeu? A última e não me amole.
-Entendi, meu pai. Não vou mais lhe aperrear.
Mariana se recolheu no seu quarto e teria de se conformar ou escolher: Ou o amor que tinha para com Antônio José ou a sua vida não teria mais sentido de tê-la. Gostaria muito de viver ao lado daquele que ela amava loucamente, mas seria impossível, pois seu pai era o grande obstáculo entre ela e seu bem amado. Então ela resolveu escutar o lado esquerdo do cérebro: O mau, pois, dentro de cada um de nós existem dois mundos: O do mal e o do bem. Ela escolheu o do mal. Foi essa a sua opção. Então ela pegou um copo d’água e colocou dentro do copo com água veneno e disse consigo mesma: É, meu pai, prefiro morrer de que viver sem o amor que tenho por Antônio José. A vida para mim não tem mais sentido. Depois, levou o copo à boca e bebeu suicidando-se. Assim que acabara de beber caiu no chão para nunca mais ouvir do pai o “não” seco e autoritário.
O capitão Rômulo ouviu uma forte pancada de alguma coisa caindo no chão. Levantou-se da rede e correu às pressas para o quarto da filha. Quando ele entrou, viu a filha estendida no chão sem vida. Ele olhou para o lado, e viu um copo sobre a mesa e um pacote ao lado com algum resto de veneno. Compreendeu que a filha tinha se suicidado. Sua mente encheu-se de remorso, pois, ele foi o único culpado de não entender o que era amor no coração de uma jovem adolescente. O seu coração de pedra, fê-lo uma grande tragédia, pois, ele a amava muito por ser a caçula.
O capitão Rômulo trouxe o corpo da filha para a cidade. Toda cidade se chocou quando o povo soubera o porquê que Mariana tinha se suicidado. Foi horrível a notícia do suicídio de Mariana e todos lamentaram, pois, era jovem bonita e todos gostavam dela. Antônio José ficou chocado, revoltado contra o capitão. Mas não podia mais fazer nada. Perdeu seu grande amor por causa, simplesmente, de uma má compreensão da parte do pai de Mariana. Mariana não se matou, obrigara a si matar. O amor por alguém se torna uma paixão, uma loucura; é mais forte do que “Sansão”. Nessa história de Mariana, a Dalila foi quem morreu e não Sansão. Há muitas Marianas que se suicidaram por imposição daqueles que não souberam, não experimentaram o gosto de saber amar.

FIM.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A ISTÓRIA DE MOLEQUE SACY


A HISTÓRIA DO MOLEQUE SACY.
Conto de Honorato Ribeiro dos Santos.

Capítulo um.

Padre Silva, um padre jovem muito inteligente, servidor, da ala dos padres progressistas, atuou brilhantemente e realizou um trabalho autêntico, na comunidade, principalmente com a juventude.
Com a abertura da Igreja pós Concílio Ecumênico Vaticano II, saiu da sacristia e foi em busca das ovelhas perdidas; ensinando a todos a serem missionários e anunciar a Boa Nova como verdadeiros arautos da paz e libertação. De sandálias nos pés e vestes simples, padre Silva mostrou sua habilidade como o jovem de Assis. Na sua vocação de presbítero procurou, sem exceção, jovens de todas as camadas sociais. Fundou um grupo de teatro, um sindicato dos trabalhadores rurais, construiu salão de dar palestra, reconstruiu a igreja, construiu a casa paroquial e muitas obras foram realizadas por ele.
Nas suas homilias ele ensinava seus fieis a viverem como irmãos; tinha um dom de oratória maravilhoso.
No grupo de teatro, havia um jovem que se tornou amigo impecável do Moleque Sacy. Esse garoto era pretinho, magricela, de pouca leitura, filho de uma prostituta, que, além de sê-la era alcoólatra. O filho, o Moleque Sacy, era rejeitado por sua mãe. Não recebeu educação materna, nem afeto,  amor e carinho, não sabia o que era. A sua casa era a rua. Tornou-se um marginal e começou a roubar para sobreviver. Tornou-se um excluído pela sociedade, que o apelidou de Moleque Sacy. Todos os furtos, arrombamentos que aconteciam na cidade culpavam-no. Ele aprendeu a si defender da polícia. Era um garoto magro e alto, adolescente de apenas 17 anos de idade. Foi preso várias vezes, mas saia por razão de ser menor e cobertura de um grandalhão traficante.
Quem era o jovem seu amigo do que falei acima? Era um jovem professor de família média, que se chamava Thiago. O professor Thiago percebeu que o jovem Moleque Sacy não era mau como o povo dizia. Moleque Sacy gostaria de ter uma mãe boa, não cachaceira; um pai bom, ter um lar, uma boa educação, uma formação como um cidadão de bem; ser formado e ser gente respeitada dignamente como um ser humano. Somente o professor Thiago o compreendia. Então, o professor Thiago levou o Moleque Sacy ao padre Silva e contou-lhe toda a história e o porquê que o Moleque Sacy se tornou marginal. Teria que recuperá-lo com a ajuda do padre Silva e dele, o professor Thiago. O padre Silva o recebeu e começou a lhe mostrar outro mundo: ensinado por Jesus Cristo. Deu-lhe muitos conselhos para que ele fosse realmente um cidadão de valor: um cristão. O padre Silva sabia que era difícil a sua tarefa de recuperá-lo, pois a sociedade é hipócrita. Mas como padre, era a sua missão de servir e ensinar e abraçar os que estão no caminho errado. Assim começou a amizade com o padre Silva. Às escondidas ia sempre visitar o padre. Mas a polícia sempre estava em seu encalce. Não morava mais com a mãe, pois ela o expulsou de sua casa e o odiava. Ainda jogava praga no filho. Nenhuma autoridade tivera ideia de levá-lo para um internato, uma escola de recuperação de menor. Ninguém. Todos cantavam a canção de Chico Buarque: “Joga pedra na Geni”. (...).
Moleque Sacy só roubava; nunca esfaqueou e nem matou ninguém. Talvez roubasse para poder sobreviver. Ele aprendeu escrever e ler, pois, quando ainda garoto freqüentou a escola. Não sendo educado por sua mãe que nunca lhe dissera quem seria o pai, cresceu frustrado e o mundo só ensina coisas erradas e anti-sociais, o anti-religioso. Foi o que ele aprendeu: desassociar-se.
Moleque Sacy sabia de muitas coisas dos poderosos dos tráficos de drogas, que ficaram ricos e poderosos. Ele sabia o nome de cada um. Eles, os traficantes, também sabiam que o Moleque Sacy sabia quem eram eles, por isso. o ameaçava se abrisse a boca. Eles lhe agradavam com dinheiro e pediam para que ele não roubasse mais. Mas Moleque Sacy roubava por revolta de uma sociedade hipócrita, que só dava valor quem tem poder e dinheiro. Quando o Moleque Sacy se encontrava com o padre Silva e o professor Thiago, lhes contava tudo sobre os traficantes e a polícia.
O padre Silva construiu um salão para dar palestras e um palco para teatro. Mas Moleque Sacy não ia nesses encontros de palestras religiosas e nem ao teatro, pois era rejeitado e vigiado pela polícia. Só se encontrava com o padre e o professor às escondidas.
Um dia, a polícia foi chamada para prender o Moleque Sacy, que subiu no telhado de uma casa para roubar. A polícia chegou e começou a atirar nele. Ele, feito gato, correu por cima dos telhados de todo o quarteirão e fugiu. A polícia não o agarrou. Ele se escondeu num quintal de uma casa. Um amigo e irmão de um traficante, pegou o carro e foi dar cobertura ao Moleque Sacy. Pegou-o e o levou em seu carro e deu-lhe abrigo. A polícia soube, mas não foi em busca do Moleque Sacy. Fez de conta que não soubesse de nada.

CAPÍTULO DOIS.

AS DROGAS.

O Moleque Sacy sempre se encontrava com seus amigos: o padre Silva e o professor Thiago. O professor Thiago era muito inteligente, culto e explicava-lhe sobre a falsa sociedade e da falsa democracia. O Moleque Sacy aprendia muitas coisas com seu amigo professor: história do Brasil, a má política dos governantes, as corrupções, o tráfico de droga e dos traficantes. Moleque Sacy sabia quem era os traficantes, quem era os viciados; e sabia que a polícia também sabia, mas não prendia ninguém. Somente ele é que a polícia perseguia. Ele sonhava de um dia sair daqui e procurar outro lugar onde poderia lhe valorizar e poder arranjar um emprego e se sentir como gente. Aqui, só quem lhe entendia eram os dois amigos. O povo já estava censurando os dois por lhe darem apoio como pessoa humana. Davam-lhe conselhos, mas ele continuava revoltado e, quando ele achava uma brecha, furtava de quem era rico. Moleque Sacy aos 14 anos conviveu entre fortes traficantes, mas nunca viciou em droga e nunca cometeu crime. Todos os traficantes tinham medo de ele denunciá-los à polícia federal, pois, o professor era muito letrado e poderia ter lhe orientado como denunciar do grupo. Sabiam que o Moleque Sacy só roubava para sobreviver, pois, nem mesmo a sua mãe deixava-o  dormir, comer em sua casa. Também a coitada era alcoólatra e analfabeta e para sobreviver se prostituía.
São muitos os Moleques Sacys que vivem assim nesse país.
O craque, e a maconha entravam à reveria e havia bastantes jovens viciados; roubam para comprar drogas, mas a polícia só perseguia o Moleque Sacy. O motivo de a polícia prender o Moleque Sacy, era somente para intimidar os traficantes, pois o Moleque sabia, detalhadamente, quem era o chefão do tráfico. Mas para ficar de boca fechada, o chefão dava dinheiro para o Moleque ficar de boca calada. Também havia alguns soldados que recebiam ordens do chefão.





CAPÍTULO TRÊS.
O CONFRONTO CONTRA O DELEGADO.

Alguém foi avisar o delegado de polícia que o Moleque Sacy estava escondido na casa de um amigo e, que, naquela noite, ele tinha roubado no armazém daquele bairro. O denunciante foi a pé, pois não tinha telefone e era muito distante. Chegando lá, fez a denúncia. O delegado saiu às pressas em sua viatura, levando dois soldados com ele. A delegacia ficava bem distante do bairro, onde o denunciante dissera estar o Moleque Sacy. Quando o delegado chegou com a polícia cercaram a casa e deram voz de prisão para o Moleque Sacy se entregar. O Moleque Sacy saltou o moro. Deram vários tiros contra o Moleque. Nenhum tiro o alvejou. Ficaram em alerta com as armas em punho. O delegado estava em pé, no meio da rua, com o revólver em punho, quando sentiu alguém por detrás o agarrou, dando-lhe um golpe de mestre lutador e desarmou o delegado. O delegado tentou reagir, mas Moleque Sacy, ágil, deu-lhe uma capoeira jogando o delegado por terra e fugiu com a arma do próprio delegado, que era um sargento. Os dois soldados quando chegaram, viram, ainda o delegado no chão todo sujo de areia. Perguntaram-no o que havia acontecido e o delegado contou-lhes. Os soldados foram correndo para ver se ainda encontrariam o Moleque Sacy. Que engano! Moleque Sacy estava bem longe e armado. Mas ele não tinha o espírito de assassino, pois, se tivesse, teria matado o delegado. Nem sequer deu um tiro no delegado, na mão, por exemplo, ou o pé. Mas, não. Ele só queria mostrar que ele sabia se defender e não tinha medo da polícia e nem tampouco do delegado. Ele só tinha medo do chefão.
A rua ficou repleta de gente vendo, talvez assistindo a um filme de caw boy, sendo o mocinho o Moleque Sacy vencendo o xerife. Muitas histórias foram formando na imaginação dos que assistiram ao duelo entre o delegado e o Moleque Sacy: Davi e o gigante Golias, (...). O delegado foi ao suspeito chefão e lhe pediu que mandasse pedir ao Moleque Sacy a sua arma de volta. O Chefão mandou chamar o Moleque Sacy e ele o atendeu. Ao chegar, o chefão pediu-lhe o revólver do delegado. Ele o entregou e recebeu uma bolada. O chefão lhe pediu para não roubar mais e que ele daria uma mesada todos os meses. O Moleque respondeu: “Diga para a polícia, e esse delegadozinho de merda, que me deixe em paz”. Se continuarem a me perseguir continuarei furtando. Não é somente eu que rouba. Há muitos, aqui, que roubam, inclusive o senhor. Eu sei de tudo e de sua riqueza e poder. Sou pobre e sem família; o senhor sabe disso. Minha mãe que poderia gostar de mim, me odeia. O senhor só me dar apoio e dinheiro, porque eu sei tudo de sua vida suja.
No outro dia o delegado recebeu o revólver de volta. Mas, à noite houve uma festa da elite, no centro da cidade. Moleque Sacy foi e entrou, pois  o porteiro tinha medo dele; não o barrou. Avisaram a polícia que o Moleque Sacy estava na festa. A polícia e o delegado foram. A polícia chegou de vez e agarraram-no. Moleque Sacy, franzino que era, derribou os soldados e se escapou  em leso. Gente se espalhou por todos os cantos e a ruas encheram de gentes curiosas. Os soldados deram vários tiros na direção do Moleque Sacy, mas fugiu são e salvo. Mais uma decepção para a polícia. Moleque Sacy estava sendo herói de verdade. Os comentaram se espalharam como manchete do dia. “Moleque Sacy contra três soldados armados e o delegado, mas não o agarraram.” Tornou-se herói da pequena cidade com a penas quinze mil habitantes.
No outro dia, Moleque Sacy foi ao chefão reclamar que o combinado tinha quebrado. Ele agora iria furtar. Ficou revoltado e furioso com o chefão que lhe deu mais dinheiro.
De posse do dinheiro, que o chefão lhe dera, Moleque Sacy foi à fazenda de um amigo ficar lá uns dias, fugindo de tantas perseguições da polícia. Lá ele ficou sonhando ter uma vida digna de um cidadão. Sonhava sair daquela vida de roubar para sobreviver. Não achava ninguém que o ajudasse a sair daquela situação marginal. Pensava no amigo, professor Thiago e no padre Silva: os conselhos dos dois amigos. Por causa dele os dois eram criticados pela sociedade, que só sabia jogar pedra, mas não dava oportunidade de resgatar a vida de quem não tinha família. Sentia rejeitado pela mãe e a sociedade. Não sabia quem era seu pai biológico. Pô-lo no mundo e ficou uma pessoa marginalizada. Ele gostaria de conhecer o pai verdadeiro. Talvez ele não fosse ébrio ou ruim; pudesse aceitar como filho. Mas a imaginação de Moleque Sacy não tinha resposta. Todos os lados havia caminhos cheios de pedras; de espinhos e areia movediça. O professor Thiago contou-lhe a história de Zumbi. Zumbi, o herói dos negros africanos. Ele também era negro, mas não era herói como Zumbi, que morrera para libertar o seu povo negro. Moleque Sacy voltou para viver a mesma vida, pois não achou solução nenhuma.

CAPÍTULO QUATRO.

A JURA FOI QUEBRADA.

Quando Moleque Sacy voltou da fazenda do amigo, foi ao chefão pedir dinheiro, mas foi negado. “Não lhe darei mais dinheiro e nem apoio, pois corro perigo de a justiça descobri quem sou eu. Você continua a roubar. Pode roubar à vontade. Eu não me importo mais. E você fique calado, pois, poderá morrer.” Moleque Sacy saiu furioso com o chefão traficante e disse que iria abrir a boca. “Não abro, aqui. Abro bem longe. Sei o caminho aonde eu chegarei e o denunciarei. Vou acabar com você e seu bando”. Disse o Moleque Sacy. No outro dia a polícia prendeu o Moleque Sacy e o professor Thiago. A família do professor Thiago ficou revoltada. Não havia motivo para o prender. A polícia usou um álibi, afirmando que o professor Thiago era amigo de Moleque Sacy e dava-lhe apoio a um marginal. A família do professor contratou um advogado e esse entrou com um habeas-corpus e o soltou. Mas Moleque Sacy não precisou de advogado: foi solto, pois era menor de 17 anos. Mas o delegado estava providenciando para levar o Moleque Sacy para a FEBEM. Mas o Moleque Sacy sabia que a FEBEM não resgatava ninguém. Não há uma educação onde os menores possam ser resgatados e voltarem ser valorizados como pessoas dignamente humanas. Ele sempre fugia e não queria ir. “Educar alguém tem de amar. Nesse país ninguém ama quem é marginal.” Moleque Sacy sabia de tudo sobre essa entidade. “Seria melhor viver como vivo, mas livre. Mesmo apedrejado pela sociedade hipócrita, mas tenho liberdade de ir e vir, quando eu quiser.”
 

  CAPÍTULO CINCO.

A tarde estava linda, batia um vento fresco. O sol já estava se declinado e os pássaros cantando na copa das árvores. A cigarra cantava como sempre. Ao longe se ouvia o latido de cachorro e gorjeava o sabiá. Moleque Sacy estava sentado num tronco de árvore estendido no chão e começou a imaginar. Seu pensamento voava procurando a felicidade, que há muito tempo não sabia o que era. Começou a pensar melancolicamente: “Por que minha mãe não gosta de mim?! Quem é o meu pai? Eu não pedi a ninguém para vir ao mundo. Todo mundo tem uma família, uma casa para morar, um bom emprego... Há destino? Não acredito, pois, o padre Silva me ensinou que todos nós temos o direito de viver dignamente e respeitado como ser humano. O professor  disse-me que as terras do Brasil são dos índios, pois eles eram os verdadeiros donos dessa terra. Vieram os portugueses e os roubaram tudo: seus costumes, sua cultura e sua língua. Hoje os índios são até queimados, como aquele em Brasília. Milhões de índios foram mortos por não aceitar ser escravos dos brancos como os negros africanos. Os donos dessa terra hoje, os latifundiários, são os verdadeiros grileiros, pois, compraram na mão de quem? De quem era essa terra? Não era dos índios? Compraram na mão do índio? Toda riqueza, ouro, prata, diamante, etc, eram dos donos que moravam aqui há milhões de anos. Se voltarmos até os primeiros habitantes da terra, foi dado pelo criador gratuitamente. Inventaram os cartórios, as leis e registraram como se fosse deles. Agora, compraram na mão de quem? Isso tudo o professor Thiago me ensinava a verdadeira história que não é contada nas escolas e faculdade. Mas o povo sabe que essa é a verdadeira história da humanidade.” Naquele instante foi quebrada a imaginação, o pensamento e as imagens em perspectivas na mente do Moleque Sacy, quando se ouviu dois tiros. O povo saiu à porta da rua e viu um corpo estendido no chão. Era a do Moleque Sacy. Muita gente viu, saindo do mato dois soldados armados pegando o corpo de Moleque Sacy e o puseram no carro e partiram. Levaram ao hospital. Quando o médico o assistiu disse-lhes: “Está morto”. Os soldados mandaram que o médico desse o laudo afirmando que foram prendê-lo, mas ele reagiu. “Não tivemos outro jeito, senão quem seria morto éramos nós.” Só que os tiros foram pelas costas. Mataram-no covardemente. Todo mundo sabia que o Moleque Sacy não usava arma. Quem foi o mandante do crime? O povo sabe, mas: “Cala-te, boca”. “Em boca calada não entra mosca”. “Quem conversa muito dá bom dia a cavalo”.
Agora ninguém mais teve ódio de Moleque Sacy. “Coitadinho, morreu porque era preto e pobre.” “Porque a mãe jogou praga.” “Foi a sina.” “Tem gente que nasce sem sorte.” Foi essa a conversa, o casuísmo criado sem escrúpulo nenhum. Sempre é assim a sociedade. “Morreu que Deus o tenha.”
Na lousa, o amigo Thiago mandou escrever: “Aqui, jazem os restos mortais de um garoto de 17 anos, rejeitado pela sociedade e uma mãe alcoólatra e prostituta.”

Se houver uma história que alguém conheça igual a essa, é mera coincidência.
FIM.