sábado, 27 de junho de 2015

AMOR ASSASSINO



PRIMEIRA PARTE.
Do livro de Honorato Ribeiro - PRINCESA SANFRANCISCANA.

A AMANTE DE EDGAR TENTOU MATÁ-LO.

Edgar era um jovem de família rica e bastante querido em toda cidade. Era filho do telegrafista José Venâncio Lima, conhecido por Zeca Lima. Edgar tinha um bar de sociedade com seu irmão Arnaldo. Por causa dessa união empresarial, ele pôs o nome desse bar de: Bar Dois Irmãos. Foi o melhor bar que já houve aqui até hoje. Nele havia bailes, matinês, dramas, jogos de bilhar e sinuca. Era sempre cheio de gente para tomar a cerveja geladinha. Era, nesse bar, o encontro dos amigos e jovens para se entreter. Nele havia um serviço de alto falante que passava as músicas de sucesso dos grandes cantores da época. Foi nesse dito bar, Dois Irmãos, que dois marinheiros de um vapor entraram e começaram a jogar sinuca. Jogaram várias partidas e, quando acabaram de jogar, não quiseram pagar as partidas e as cervejas que havia tomado. Começou a discutir com o dono do bar sonegando-lhe o que era de direito pagar. Foi, exatamente, naquele instante, que entrou o soldado Abel, amigo do proprietário do Bar Dois Irmãos, que havia chegado de viagem que fizera a cavalo à cidade de Cocos, quando entrou e viu os dois marinheiros discutindo com seu amigo, Calos Lima, irmão dos proprietários do bar, a não querer pagar as partidas de sinuca e a cerveja que tinham tomado. O soldado Abel entrou e pegou o chicote de cavalo e meteu no lombo dos dois homenzarrões marinheiros; colocou-os à frente e surrou-os com chicotadas até o cais, onde o vapor estava ancorado. Os curiosos saíram à rua, olhando admirados ao assistir à surra que o soldado estava dando nos dois marinheiros fortes, porém, medrosos por não reagirem contra seu algoz. O soldado Abel era um homem calmo, tinha a fala fina, era magro de boa estatura, mas não aguentava injustiça e nem desaforo. O soldado Abel chicoteou os malandros sonegadores das despesas feitas no Bar Dois Irmãos, descendo a Rua Duque de Caxias e só parou de bater nos dois marinheiros, quando chegaram ao cais, onde o navio estava ancorado. Os dois marinheiros embarcaram no seu navio com as costas rasgadas das chicotadas que levaram no lombo, por não pagar as cervejas que tomaram e as partidas de sinuca. Entraram no navio, onde os mesmos eram tripulantes e funcionários da Marinha Fluvial do rio São Francisco. Nenhum dos tripulantes, comandante, contra mestre, autoridades da marinha, protestou ou defendeu os marinheiros, quando soube da história e de o porquê das chicotadas feitas pelo soldado Abel. Tiveram que tomar um banho de sal grosso para aliviar as dores das chicotadas que receberam no lombo.
Bem, agora vou narrar a história do meu amigo, Edgar, que eu o chamava de “Cravu”.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O REINO DO CÉU SOFRE VIOLÊNCIA.




ONDE ENCONTRAMOS JESUS?
Por Honorato Ribeiro.

 Mateus começa no capítulo cinco e termina no capítulo sete, as bem aventuranças. Ele faz uma analogia no capítulo 25. Neste capítulo Jesus, afirmativamente, fala que o Reino do céu é somente para quem praticar as obras de misericórdia. E ele assume o lugar dos que precisam ser assistido imediatamente pelo bom samaritano. Ele faz seis citações: Eu estava com fome, com sede; eu estava peregrino, eu estava nu, eu estava enfermo, eu estava na prisão. Estas seis citações são de natureza santificadora e Jesus igualando-se a si próprio sendo assistido pelos que querem possuir o Reino do céu.  Fazendo-se uma exegese de cada citação: A primeira ele diz: Eu, - Jesus, o protagonista - estive com fome e você me deu de comer. Mas vou mais adiante. Existe muito tipo de faminto pelo mundo à fora: Fome do saber, fome de justiça, fome por um mundo melhor e mais humano. A segunda ele afirma: eu – Jesus – estive com sede e você me deu de beber. Mas a palavra é breve. Não explica que tipo de sede ele está sentindo. Então, direi que seja: sede de justiça, sede de sair do analfabetismo, sede de ser valorizado como ser humano; sede de ser cristianizado, e, por fim, sede de água potável, pois sem ela não há vida. A terceira: eu – Jesus – diz: eu estava peregrino e você me acolheu. Aqui, nessa breve citação vou mais longe: Abrigar alguém na sua casa ou no seu país, pois o evangelho não há fronteira. Colocá-lo num abrigo e cuidá-lo com cuidado e dedicação, servindo-lhe com acolhimento saudável sem troca do benefício feito. A quarta citação é mais breve e bem sutil de alguém excluído, alguém de uma vida miserável; está sem roupa. Eu estive nu e você me vestiu. Esta citação de nudez, Jesus volta ao paraíso e ouve a voz de Adão quando caiu no pecado. Deus chamando a Adão, este ouvindo os passos de Deus esconde-se. E Deus pergunta-lhe: Por que você se esconde, Adão? Ele responde: Porque estou nu. E Deus lhe pergunta: Por que sabe que está nu? (!...). Aqui faço uma exegese deste diálogo de Deus ao homem, Adão. Nascemos com a lei natural, os mandamentos da lei. O homem já nasceu como ser social, político e religioso, pois não poderá viver sozinho e nem caminhar com seus próprios pés. Ele precisa do outro para viver em sociedade. O homem nasceu com inteligência e razão. Quando o homem faz algo errado, ele sabe se errou e a consciência o acusa. Foi o que aconteceu a Adão: a nudez de violar a lei e ficou nu sem a graça de Deus. A lei não tem força para o homem evitar a praticar o mal ou o bem; mas a graça tem, pois vem gratuitamente de Deus e toca no coração. E o homem ao perder a graça fica completamente nu. Poderá fazer uma avaliação, também, que há muita gente sem roupa e sem agasalho e Jesus fica a espera de quem é misericordioso para lhe ofertar roupar, não da sobra, mas roupa nova para dar-lhe vida e alegria. A quinta citação Jesus diz: Eu estive enfermo e você me visitou. Mas a visita é ter o cuidado de saber se ele está sendo bem atendido, medicado; se ele aguarda na fila à míngua sem assistência nenhum. E outros morrendo na fila e alguém que vê, naquele enfermo o próprio Jesus, socorre imediatamente. É o bom samaritano que cuidou daquele que estava semimorto na estrada e ele o socorreu. Mas a sexta é mais complicada e difícil, pois o eu, - Jesus – afirma que estive encarcerado e você me visitou. Que custa uma visita a um prisioneiro qualquer? Nada, absolutamente nada. Mas a citação é breve e não explica nada de que se trata esta visita. Ela é breve e não explica coisa nenhuma. Mas fazendo uma boa exegese ela é riquíssima; uma história carcerária no nosso país, onde o preso nunca é recuperado socialmente e nem educado. Sai mais marginalizado e desumanizado, por não ter feito uma reforma autêntica da política carcerária no Brasil. Há cela que foi feita para prisão de vinte prisioneiros e está cheia, abarrotada de mais de quarenta presos sem classificação nenhuma. Outros milhares já pagaram a pena e estão lá cumprindo mais do dobro da que foi condenado; e por falta de cuidado da justiça ele fica encarcerado esperando por justiça. Esta citação que Jesus afirma: Eu estive na prisão e você me visitou é a mais profunda, pois há muita polêmica e interpretação. Profunda e melindrosa que Jesus cita que estava na prisão e alguém o visitou vendo nele o próprio Jesus. Jesus na prisão como bandido?! E eu tenho que fazer alguma coisa por ele!? Como devemos compreender a misericórdia de Deus! Portanto, o Reino do céu pertence a essas pessoas que usam a sua misericórdia a servir com amor os que sofrem nesse mundo cão. E alguém foi visitá-lo e viu a desumanidade, a falta de educação e de recuperação para que ele possa viver em sociedade, quando estiver em liberdade. Estas seis citações que Jesus se apresenta como abandonado, estrangeiro para muitos, não é fácil alcançar o Reino dos céus. Quem quiser ser cristão, veja essas pessoas citadas como sendo o próprio Jesus Cristo e tenham a mesma ação do bom samaritano.    

domingo, 21 de junho de 2015

O MESTRE DOS MESTRES.



O HOMEM DA DE NAZARÉ.
TEXTO DE Honorato Ribeiro dos Santos.

Quem foi esse Homem que se tornou famoso na história da humanidade? Como era a sua fisionomia, a cor dos seus olhos, sua altura, sua cor, seus cabelos, que cor era? Onde morava, e sua casa como era? Um palácio como a dos reis? E por que o chamam de rei se ele não morava em palácio, não usava coroa e não era rico? Não é uma controvérsia em chamá-lo de rei? Rei mora em palácio luxuoso e é um forte político e não anda no meio de pobre, excluídos, doentes e famintos. O homem de Nazaré morava na zona rural, pois Nazaré fazia parte da Galileia. Seus discursos atraíram gente de toda região e todas as camadas sociais; ricos, pobres, prostitutas, ébrios, cobradores de impostos, tidos como ladrões; aleijados, leprosos, cegos, coxos, e pessoas excluídas da sociedade política, social e religiosa. Ele escolheu essas pessoas para resgatar a dignidade de ser humano e transformá-los em pessoas perfeitas e justas. Um dos maiores ensinamentos dele são as Bem Aventuranças, ou Sermão da Montanha, que começa no capítulo cinco e vai até o capítulo sete. É uma verdadeira biografia sua vida, não de vida do reino deste mundo, mas de vida do Reino dos céus. E este Reino que ele anunciou, há três palavras essenciais: “Amar, perdoar e fazer justiça”. Numas das suas parábolas, ele encaixa estas três coisas essenciais: a do filho pródigo, a do samaritano e a do rico avarento. Nesta última ele não dá o nome do rico, mas do pobre ele dá: “O pobre Lázaro”.  A primeira ele nos apresenta uma metáfora, que representa cada um de nós, que recebe a riqueza celestial para ser perfeito, nega; prefere viver à imperfeição. Com o dinheiro ilícito que ele recebe do pai misericordioso, o filho gasta tudo na urgia, vida sexual desregrada, esbanjando o que recebeu gratuitamente até se transformou num grande miserável: figura de um esbanjador, que usa a riqueza indevida e castiga a si mesmo, fica na miséria e se arrepende. Que maravilhosa parábola de um grande ensinamento para aprender a amar, perdoar e viver como justo! A segunda parábola ele cria uma história da humanidade: O justo e o pecador. O justo é chamado de samaritano. O pecador há três personagens: O primeiro é o assaltante ladrão; os outros dois são religiosos: o sacerdote e o levita. Estes dois são mais pecadores, pois representam homens da lei e violam; o outro é um ladrão, que talvez não conhecesse a lei e por circunstância de ser excluído da vida social, vivia a roubar. A última é a vítima, um judeu e inimigo do samaritano. Aí, então, entram as três coisas mais importantes nessa narração: o amor, o perdão e a justiça a se transformarem em misericórdia.
Não há diferença entre os personagens dessa história com a história política, religiosa e social de hoje. A última parábola ele conta a má riqueza de um avarento a viver na opulência e não ser misericordioso, como fora o samaritano, para com o pobre Lázaro. Primeiro: Quem é esse rico avarento? São muitos no mundo de hoje em várias camadas sociais. E quem é esse pobre Lázaro? Representa milhares de famintos e excluídos no mundo inteiro. Veja o que está acontecendo de tanta gente fugindo de seu país e enfrentando perigo de morrer no mar, com o objetivo de procurar refúgio em outros países em busca de uma vida melhor nos países ricos. Já morreram muita gente e transformou o mar em cemitério humano.
O Homem de Nazaré, um Deus encarnado numa mulher santa para nos ensinar a viver como ele viveu. Ele não ensinou a anunciar o seu nome sem viver os valores da sua perfeição. Segui-lo é bem diferente de ser propagador de seu nome sem viver o que ele fora em toda sua vida. Alguém disse: “Eu admiro Jesus Cristo, mas os cristãos não; porque não se parece com ele.” Disse a pura verdade. É como disse São Paulo: Tu, que ensinas os outros...  - Aqui ele dá uma reticência – não te ensina a ti mesmo! O que Paulo queria dizer mais sobre estes que apresentam ser o dono da verdade e não são justos! A América Latina está cheia destes que pregam, falam mais de mil vezes o nome do Homem de Nazaré. Entretanto, não vivem como ele viveu nem ensinam a viver perfeitos como o Pai do céu. Adulteram tudo das bem aventuranças e fogem da perfeição a que foram chamados. Fogem de ser o bom samaritano para agirem como o rico a desprezar tantos Lázaros excluídos e transformados como trapos humanos. Lembro-me da poesia de Carlos Drummond de Andrade: “E agora, José?” E a poesia de Manoel Bandeira: O BICHO. Ambas falam dos excluídos pelos que dizem ser cristãos e outros a representar como sendo pastores do Homem de Nazaré. Ele sofre ainda os cravos da cruz ao ver tantas hipocrisias! Quem sou eu? Escrevi e me pergunto: Quem sou eu nesta história do Homem de Nazaré? (...).

A MÃE DE JESUS



MARIA DE NAZARÉ.
Texto de Honorato Ribeiro dos Santos.

No pequeno povoado da Galileia, nasceu uma criança pobre de pais religiosos que ensinaram a filha, desde sua terra idade, a se dedicar toda a sua vida contemplando e louvando a Deus. Assim cresceu Maria, serena, alegre, dedicada aos fazeres da casa ajudando a sua mãe. Todos daquele pequeno povoado admiravam aquela jovem menina por ser sempre servidora e com sorriso alegre saudava todos sem exceção com a saudação de quem era judia verdadeira filha de Deus. Sempre estava a orar e ler a Sagrada Escritura, bem como os salmos. Seus pais acompanhavam-na com olhos fitos e admirados da sabedoria da filha a querer mais se aperfeiçoar nas coisas tangentes de santidade e de pureza diante de Deus. Maria era a mais lida jovem de Nazaré. Os jovens daquele lugarejo sentiam atraídos pela beleza, pela simplicidade e humildade de Maria. Mas ela não era para ser escolhida a ser noiva e se casar com um daqueles jovens adolescentes como ela. José, um jovem do mesmo povoado, simples operário e dedicado bastante a adorar a Deus em espírito e reto aos mandamentos da Torá. Encantou-se por Maria e pediu aos pais dela para se esposar de Maria. Os pais de Maria conheciam bem o jovem José e consentiram o noivado. Conforme a tradição os pais de Maria se chamavam Ana e Joaquim os quais já conheciam o comportamento daquele justo jovem operário e ficaram alegres. Era o costume e cultura dos judeus, que ao noivar-se era considerado como um casamento. Era uma aliança matrimonial. Nenhum poderia violar a aliança do noivado ou praticar adultério.
Um belo dia, Maria estando em oração, entrou um jovem vestido com uma veste branca que iluminou todo o quarto onde ela estava a orar. Ficou assustada, mas o jovem a tranqüilizou e lhe disse: “Venho lhe comunicar que suas orações agradaram a Deus e você, entre todas as mulheres de Israel, foi escolhida para dar à luz o Messias. Aquele que todos esperam para resgatar Israel e todo o povo. Maria respondeu ao jovem: Eu sou apenas noiva de José. Não casamos ainda e ele não me conhece e nem eu a ele. Somos virgens e justos aos olhos de Deus. Maria, não importa, respondeu o jovem, pois para Deus não há obstáculo ou coisas impossível perante o seu poder. Você já se acha grávida nesse momento do filho de Deus. Maria, emocionada, e os olhos cheios de lágrimas, disse para o jovem: Bendito seja, meu Senhor, que me escolheu sendo uma simples jovem para ser a mãe do filho de Deus! Ao dizer essas palavras, o jovem desapareceu de sua frente.
O noivo José, passara alguns meses no campo trabalhando, quando foi à casa de Maria tratar logo do casamento. Mas ao chegar, viu que ela estava grávida e se espantou. Maria foi ao seu encontro, abraçou-o e fitou os seus olhos, viu lágrimas rolando e descendo placidamente até caírem no chão. Apertou a mão de Maria e se afastou. Maria, porém, ficou em silêncio profundo, todavia confiou em Deus que mandaria alguma mensagem para José e ele iria compreender e voltaria para seus braços. Pelo caminho dizia José consigo mesmo: Não creio que Maria seja infiel para comigo! Não acredito, mas ela está grávida!... De quem, meu Deus! Ajuda-me a não fazer juízo temerário contra Maria, pois sei que ela é virgem e pura! José deitou e não conseguiu dormir. Naquele momento o seu quarto ficou iluminado e veio uma voz e disse-lhe: Calma, José, não se perturba, pois a sua querida noiva Maria, irá dar à luz o Messias. Quando a criança nascer você coloque o nome nele de Jesus. Vá dormir sossegado. Amanhã, volte lá e acerte o casamento com ela e sejam felizes.
José ajoelhou-se, baixou a cabeça em sentido de oração e agradecimento a Deus. Amanheceu, o sol brilhando mais lindo e diferente de céu azul. José dirigiu-se à casa de Maria e entrando disse-lhe: Salve, ó minha santa Senhora, sempre serei  seu servo e guarda zelador dessa linda e santa Mulher e bendita entre todas de Israel, pois, do céu veio-me a voz daquele que sempre é verdadeiro para quem é justo diante de seus olhos. Sei que você está grávida do Santo Espírito de Deus que desceu sobre minha santa e bendita esposa. Amanhã iremos nos casar, e esse menino será sempre o meu Deus e Senhor. José abraçou a sua noiva e chorou de alegria; agora as lágrimas foram bem diferentes: lágrimas de satisfação e de euforia, pois a sua alma encheu-se de júbilo ao saber que a sua querida Maria foi escolhida para ser a mãe do tão esperado Emanuel, o Messias. José casou-se com Maria e viveram alegremente como dois justos santos e perfeitos perante Deus.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

EU ERA FELIZ E NÃO SABIA.



MINHAS REMINISCÊNCIAS.
Conto de Honorato Ribeiro dos Santos.

Nós éramos uma pequena família pobre de sete pessoas que vivíamos harmoniosamente muito felizes. O caçula era eu, embora traquino, criei eventos em miniaturas, mas cheguei tardio, depois de três anos, de ter nascido Celino; a minha mãe não esperava mais ter filho. Mas o que quero contar e a nossa convivência, costume e educação. Meu pai comprou um couro de boi bem curtido, e este era a nossa cama. Eu e Celino dormíamos nele, ao invés de deitar na esteira. Pela manhã bem cedo, o sol nem havia apontado lá na Ilha, por detrás das mangueiras, o meu pai nos acordava para vender pão da padaria de Zé Padeiro, um grande violonista, casado com Alvina. Foi com ele que Domigão aprendeu a tocar violão, vendo-o trabalhar nos bordões dando acordes perfeito para acompanhar os choros e sambas. Mas Domigão, meu irmão mais velho, tornou-se o melhor violonista daqui. Eu saia com o balaio cheio de pão a cantar e acordar os fregueses:  Ei o pão quente com manteiga dentro; padaria nova, chega no pão, minha gente. É o pão da freguesia, traga o dinheiro e a vasilha. E assim caminhava com o balaio às costas nas ruas e avenidas da pequena cidade. Ganhava o meu tostão de porcentagem. Quando os vapores chegavam, eu corria para a casa da quitandeira, dona Joaninha de Zequinha, para pegar as quitandas e vendia para os nordestinos que subiam nos vapores. Quando chegava à hora do almoço, almoço gostoso que a minha mãe fazia; cozinhava o feijão com osso dentro, arroz de pilão, batata doce; feijão temperado com cebola verde, malvão, pimentão, pitadinha de pimenta do reino, alho, sal e tudo cozido nas panelas de ferro no fogão a lenha; punha a nossa comida numa gamela, que meu pai fabricou para a gente comer juntos: Eu, Celino, Sulina, Maria. A gente punha farinha dentro e mexia a comida, cada um com a mão a fazer o bolo e punha na boca. Não usávamos colher e nem garfo. Era com a mão e isso dava um sabor delicioso! Oh, que saudade que tenho da comida tão gostosa da minha mãe! A civilidade, e o progresso destruíram esses costumes e cultura da gente. Dentro do feijão, - como a gente costumava falar – com tora dentro, cada um pegava aquele osso para bater numa pedra e tirava o tutano. Que gostosura!  Minha mãe tinha esta pedra polida em formato de rim, bem grande, onde a gente batia o osso para tirar o tutano e misturava na comida. Minha mãe nos dizia que aquela pedra era herança da mãe dela.
À tarde a gente ia brincar de bola de pano feita de meia, na Praça J J Seabra. Não havia ainda o jardim. À noite, lua clara no céu todo azul e estrelado, a gente ia brincar de Lampião, de corre coxia, de boca de fogo, de chicotinho queimado de bacondê. Às vezes, as nossas brincadeiras eram: brincar com boi de osso; os ossos de pernis de boi e de porco, que se transformavam em vaca, boi, bezerro e cachorro; a gente fazia o curral tudo de miniatura. Não é que a gente se tornava fazendeiros?! Quantas noites eu e os colegas com as meninas moças brincávamos de roda! Cada um de nós jogava versos cantados e bem entoados! Mas o melhor que eu mais gostava era de subir nos pés de mangubas para brincar de pega-pega. Havia muitos meninos hábeis que pareciam com macaco nos galhos da mangubeira. A gente não pegava os danados ágeis. Era muita brincadeira: Jogar pião, pular macaco, jogar bolinha de vidro, saltar vara até de um metro e vinte centímetros. Tomar banho na Lagoa da Tereza brincando de galinha cheia; também brincava de futrica com a bola de pano que equilibrava, mas a bola no pé sem deixar cair. O campeão daqui era Mané Chimbinha, irmão de Chiquinha de Pedro. Quando caia chuva grossa, a gente corria pelas ruas a tomar banho de chuva e a gritar alegremente. É como disse Ataulfo Alves com a sua composição: “Eu era feliz e não sabia”.
FIM.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

QUERER É PODER.



CONTO de Honorato Ribeiro dos Santos.

Dia desse eu recebi uma visita de um amigo conterrâneo e, naquela oportunidade, eu lhe pedi que me contasse toda a sua vida, sua luta, seu sonho. Ele sentou e eu do seu lado ouvindo atentamente. Foi mesmo uma entrevista, pois comecei a lhe perguntar e ele me respondendo calmamente. E a primeira foi esta:
-Onde você fez o primário?
-Lá mesmo na roça. Um professor leigo alfabetizou-me e depois eu me matriculei no grupo escolar. Todavia, como eu era pobre, trabalhava de servente de pedreiro, a fim de ganhar dinheiro e comprar livros, cadernos e outros pertences da escola.
-E, quando você fez o primário, foi estudar onde?
-Eu vim morar aqui, na casa de amigos, a fim de matricular-me ao ginásio. Para isso teria que submeter ao curso de Admissão. Estudei um ano e passei bem e me matriculei ao primeiro ano ginasial.
-Você concluiu o curso ginasial?
-Sim. Foi a minha primeira vitória que alcancei.
-E depois, você foi para onde?
-Fui para São Paulo com a cara e a coragem. Ao chegar lá, comecei a procurar trabalho, pois o meu sonho era formar-me à advocacia.
-Conseguiu achar?
-Sim, mas fiz um concurso público de enfermagem. Comprei as apostilhas e comecei a estudar. No dia do concurso fi-lo e passei. Fui trabalhar como enfermeiro num grande hospital.
-E como conseguiu fazer vestibular para realizar o seu sonho de bacharel em direito?
-Trabalhava durante o dia e à noite estudava. Preparei bem e submeti ao vestibular e passei.
-Continuou a trabalhar de enfermeiro?
Sim, pois teria que pagar a faculdade. E assim foi toda a minha vida: trabalhando e estudando, até que chegou o dia de bacharelar-me em direito.
-E depois que você se bacharelou, foi para onde?
-Submeti ao concurso da OAB para poder-me advogar.
-E quando passou, você ficou lá em São Paulo?
-Não. Voltei para a minha terra.
-E o que aconteceu com você? Houve sucesso?
-Houve alegria de minha família e meus amigos, mas dos políticos não.
-Por quê?
-Preconceito racial e social. Vou lhe contar: Mandaram me matar, pagando um pistoleiro de aluguel. Eu não havia ganhado dinheiro para comprar um carro; adquirir uma bicicleta, que era o meu veículo. Numa daquelas minhas andanças, um pistoleiro entrincheirado apontou a arma para tirar-me a vida. Mas não conseguiu; desistiu.
-Como assim? Ele não havia recebido dinheiro para lhe matar?!
-Sim, mas, segundo o mesmo, dias depois do ocorrido, encontrou comigo e me contou: “Pagaram-me para lhe matar. Eu me entrincheirei, quando você passou na bicicleta. Eu apontei a arma, mirei bem. Depois, eu abaixei a arma; arrependido, voltei e devolvi o dinheiro.” (Sic).
-Puxa vida! Meu Deus, seu anjo da guarda é forte!
-Tenho mais para lhe contar.
-Conte-me. (Aguarde a continuação desta história).

QUERER É PODER.
Conto de Honorato Ribeiro dos Santos. (Continuação).
-Mandaram a polícia tomar a minha carteira de advogado, meus documentos e queriam me prender.
-O que fez você?
-Foi a Salvador dei parte no Tribunal Regional, comuniquei a OAB do estado. Imediatamente me devolveram.
-O que aconteceu com a polícia que lhe fez essa injustiça?
-Apenas mudaram para outra cidade. Não foram punidas. Estávamos em plena ditadura do golpe Militar.
-Depois dessa, o que lhe aconteceu depois.
-Eu já era juiz da quarta vara. Peguei o meu carro e fui para Salvador. No meio do caminho havia uma blitz; havia muitos carros parados sendo revistados. Eu parei meu corro e veio um soldado mais outro. Pediram-me minha carteira e lhe mostrei a de juiz. Ele pegou, olhou e disse-me: “Carteira falsa, hei?” (preconceito racial).
-O que você respondeu?
-Nada. Esperei ele me dar ordem de prisão. Mas um sargento viu e aproximou do meu carro. Quando me viu disse: Doutor, você aqui?! Que alegria! Há quanto tempo não o vejo. Ele estendeu a mão e eu estendo a minha num aperto de mãos, e o soldado me devolveu a minha carteira e segui viagem.
-Você não disse nada para o sargento?
-Não. Para quê. Nessa mesma viagem eu passei à frente de uma casa e ouvi o som de engenho moendo cana. Parei à porta daquela casa para comprar uns litros de garapa de cana, que adoro demais. Saiu uma senhora. Eu desci do carro com um galão de cinco litros. Entrei e pedi para que ela me vendesse cinco litros de garapa de cana. Naquele exato momento, entrou o marido e foi dizendo para a mulher: “O que este homem está fazendo aqui?” Era mais ou menos umas 20h. Ela lhe respondeu: “Ele quer comprar cinco litros de cana.” Ele respondeu-me: “Não vendo cana pro senhor. Vai embora, suma daqui.”
-E você, sendo juiz de direito, não reagiu!
-Não. Pra quê? Entrei no meu carro e foi embora com água na boca. Mas vou lhe contar o que aconteceu: Houve uma audiência de briga de terra. Quando eu olhei para o povo que iria assistir à audiência, havia muita gente e veja quem eu vi?
-Quem foi, doutor?
-O dito cujo, que me expulsou da sua casa e não me vendeu a garapa de cana.
-O que aconteceu com ele?
-Depois da audiência, ele sendo o dono da terra que alguém estava em demanda com ele. Ele ganhou a questão. Mas, quando ele ia saindo do fórum, eu o chamei e lhe disse: O senhor já me viu em algum lugar?
-Não senhor.
-Olha bem para a minha cara. Agora já sabe quem o sou.
-Não senhor. Nunca lhe vi.
-Pois vou lhe dizer quem eu sou sem querer lhe humilhar. Sou aquele senhor que entrou na sua casa para comprar cinco litros de garapa de cana, e o senhor me expulsou de sua casa. Lembra agora?
-E aí, doutor, o que o homem lhe respondeu? Pediu desculpa?
-Não. Saiu cabisbaixo, envergonhado. Depois eu soube que ele falou: “Que vergonha que passei! Não ponho mais os meus pés naquele lugar.”
-Doutor, que história triste e alegre esta sua. Que humildade! Poucos são os que procedem assim no poder como Juiz. Tão grande o poder e como autoridade como a sua. Fiquei emocionado ao ouvi a sua luta, a sua vitória e a sua alma como cristão que é. Parabéns, doutor. Lembrei de um texto bíblico do grande Salomão que orou para Deus e disse: “Senhor, não quero riqueza e nem que castigue os meus inimigos. Dai-me inteligência para eu saber governar bem meu povo”.
FIM.