sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O homem que vendeu o rei.






O HOMEM QUE VENDEU O REI.
 Tempo quaresmal.
Texto de Honorato Ribeiro dos Santos.


No mundo cristão, e não cristão, contam que um dos discípulos de Jesus Cristo O traiu vendendo-O por trinta moedas de prata. Não digo que seria uma traição, pois, traição é um golpe de derrubar alguém e ganhar vantagem se promovendo. No caso de Judas, ele foi enganado pela sua ganância do dinheiro e, também, de ter pensado que o seu Mestre seria o rei como Davi, para libertar o povo judeu da escravidão do domínio do poderoso chefe político César, rei de Roma. Então ele, Judas, renegou ao Mestre, que é diferente de traição. Quando ele se sentiu que estava enganado com tal ideia, ele se arrependeu e foi desfazer-se do negócio. Quem trai alguém não se arrepende, pois, recebe a paga dos rivais grandes privilégios e tem lugar importante entre os que queriam destruir o homem que trouxera novas ideias de um novo Reino: “O Reino dos céus”. Mas Jesus Cristo veio resgatar Israel dos erros que cometeram os primeiros viventes, dando-lhes um novo “Mandamento do amor”; não aboliu a Lei dos profetas, mas interpretou destruindo as tradições e o fanatismo religioso dizendo: “Amai a Deus sobre todas as coisas, este é o primeiro mandamento, e o outro é semelhante a esse: “Amai o próximo como a ti mesmo.”  “Aí está a Lei e os profetas”. Não entenderam a sua mensagem e, por isso O condenaram à morte mais bárbara: a morte de cruz.
Bem, agora, vamos questionar quem é Judas Iscariotes. Esse nome de Iscariotes não se encontra nome de cidade nenhum do povo de Israel e nem tampouco sobrenome ou nome. O nome Judas existe, mas Iscariotes, não.  Não se sabe a etimologia da palavra Iscariotes.
Bem, agora citaremos o que diz a Bíblia sobre Judas. Mateus 27, 5-8 narra: Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e perguntou-lhes: “Que quereis dar-me e eu vo-lo entregarei.” Ajustaram com ele trinta moedas de prata. E desde aquele instante, procurava uma ocasião favorável para entregar Jesus.
Chegado a ocasião, Judas levou a Jesus uma multidão de gente armada de espadas e cacetes, enviada pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciões do povo. – multidão não se pode ler ao pé da letra, pois foram apenas alguns soldados e alguns dos religiosos - Certamente Judas O acompanhou. Mas, quando viu que eles iriam condenar o Mestre, cheio de remorso, foi devolver aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas de prata, dizendo-lhes: “Pequei, entregando o “sangue” de um justo”. Este foi o primeiro a afirmar que era o “sangue de um justo”. Judas reconheceu e confessou que Jesus era “justo”, isto é, não cometeu crime nenhum e nem tampouco cometeu pecado. Questionam os exegetas: “Como Judas entrou no Templo, onde estavam reunidos os príncipes dos sacerdotes e os anciões do povo reunidos em conselho para entregar Jesus à morte, pois era proibido entrar quem não era sacerdote? Somente eles, os religiosos podiam?” Na celebração da ceia Jesus anuncia: “Isto é o meu “sangue” que será derramado por todos em remissão dos pecados.” Judas estava presente, mas não compreendeu as palavras do Mestre: “Isto é o meu “sangue” que será derramado por todos em remissão dos pecados”.
Jesus nasceu e se encarnou como ser humano para humanizar todo ser humano. Nisso Judas estava fazendo parte da promessa que viria nascer o Emanuel, Deus conosco, para a salvação da humanidade. Judas foi um colaborador inconsciente da promessa de salvação. Após a santa ceia onde Jesus transforma o vinho em seu sangue para remir todos os pecadores, aqui, Judas fala que entregou o sangue de um “Justo”. Ao desfazer-se do negócio com os sumo sacerdotes, Judas, cheio de remorso afirma: “Pequei, entregando o sangue de um justo”. Na sentença da condenação a Jesus, Pilatos fez tudo para que Jesus não fosse condenado. Pilatos reconheceu a inocência de Jesus. Enquanto Pilatos estava sentado no tribunal, sua mulher lhe mandou dizer: “Nada faça a esse “justo”. Fui hoje atormentada por um sonho que lhe diz respeito”. Aqui, a mulher de Pilatos, como conta a tradição histórica, que muitas mulheres romanas da elite se posicionavam ao lado dos judeus; e muitas delas aderiram ao cristianismo. É mais uma lenda do que mesmo a interferência da esposa de Pilatos afirmando-lhe que tivera um sonho com o justo. Pilatos foi ameaçado de perder o poder político ao ouvir a chantagem que a multidão em grito disse-lhe: “Se o soltares, não és amigo do imperador, porque todo aquele que se faz rei se declara contra o imperador.“ E Pilatos afirma: “Queres condenar o teu rei?” E os sumos  sacerdotes responderam: “Não temos outro rei senão César!” Pilatos, então compreendeu que estava entre a cruz e a espada. Ou entregaria Jesus condenando-O à morte de cruz ou, se inocentasse, seria denunciado ao rei César e seria deposto do trono de governador. Vendo que Jesus era inocente, pediu uma bacia com água e disse: “Sou inocente do “sangue” deste homem”. Questionam os exegetas: “Sendo Pilatos um romano, como é que ele faz uma citação do livro do Deuteronômio?” (Dt. 21, 6-8). Aqui Mateus faz um paralelismo tirado do Antigo Testamento e colocado na boca de Pilatos. Terceira vez que é citado o nome de sangue. Há um dos evangelhos apócrifos que diz que Pôncio Pilatos se arrependeu e converteu ao cristianismo. Mas esses evangelhos não são oficiais. São apócrifos. Mas agora, várias igrejas cristãs estão aceitando esses evangelhos.
Há um trecho nos Atos dos Apóstolos que diz: que Judas adquirira um campo com o salário de seu crime. Depois, tombando para frente, arrebentou-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram.  Parece-nos que é lenda ou folclore esse trecho. “Papias escreveu que Judas saiu cheio de remorso e lhe atacou uma hidropisia inchou-se todo e caindo-o no chão se arrebentou todo morrendo.” Os cristãos rejeitaram Judas, para que fosse excluído do convívio da comunidade por ter vendido o Mestre. Com esse relato dá para se compreender que não houve enforcamento de Judas, mas um remorso de consciência que simbolicamente os trechos são antagônicos, mas dá um sentido de que ele ficou arruinado psiquicamente. “Um relato um pouco confuso, pois, ninguém cai debruço para se partir em duas partes. É impossível ter acontecido esse episódio.”
Os príncipes dos sacerdotes tomaram o dinheiro e disseram: “Não é permitido lançá-lo no tesouro sagrado, porque se trata de preço de “sangue”.   Mais uma vez é mencionada a palavra “sangue”. Sangue de quem? De Judas que se espatifou no chão e partiu-se em duas partes e se espalhou o seu sangue por toda local da queda? Ou o sangue derramado na cruz? Nesse episódio, Jesus não tinha sido ainda crucificado e derramado o seu sangue em remissão dos pecados da humanidade. Que sangue se refere os que tinham recebido de volta as trinta moedas de prata, que Judas, ao se arrepender, jogou no chão aos pés dos sacerdotes e anciãos? Eu acredito que se referiu ao sangue de Jesus, pois, para isso eles compraram por trinta moedas e não quiseram desfazer-se do negócio, mas não quiseram ficar com o dinheiro e, com as trinta moedas de prata compraram um campo para enterrar os estrangeiros. E esse campo do Oleiro significa: “Campo de sangue”. O profeta Jeremias predisse esse acontecimento. Parece-nos um paralelismo de Mateus citando o profeta Jeremias.
Como, então, podemos afirmar que Judas Iscariotes foi um traidor? Ele não tinha recebido o Espírito Santo ainda para entender a missão de Jesus ao si entregar à morte e sendo condenado a mais cruel: A de cruz. Com a morte de Jesus houve a morte da morte, isto é, Jesus destruiu a morte ressuscitando. Desceu a mansão dos mortos, isto é, a sepultura, primeiro e depois, gloriosamente ressuscitou. Após a sua ressurreição ele se apresentou aos apóstolos e comeu com eles e ficou ainda com eles cerca de quarenta dias. Quem nos conta essa passagem é Lucas no seu evangelho. (Lc. 24, 38-43). Após os quarenta dias Ele se ascendeu aos céus. Se Jesus não tivesse morrido, toda a humanidade estaria condenada à morte eterna. Por isso é que Ele ao ressuscitar, deu-nos vida eterna. Os cristãos do primeiro séculos até o quarto não assumiram a vida de cristão por causa dos milagres que Jesus operou, mas, sim, pela paixão, morte e ressurreição. Todos pediam para si a paixão e enfrentaram com coragem as perseguições, os maus tratos e muitos deram os seus próprios sangues em testemunho à paixão e morte do Cristo ressuscitado. Assim compreendemos que Judas fez parte do projeto de Deus, para que o seu Filho viesse se encarnar e mostrar a todos que Deus existe na pessoa humanizada de Jesus. Jesus e o Pai é uma só pessoa.
No evangelho de (Jo.1, 3. 1, 14) narra: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Tudo foi criado por ele, e sem ele nada foi feito. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, e a glória que o Filho único recebe de seu Pai, cheio de graça e de verdade.” Nenhum profeta, nem mesmo Moisés ou Elias viram Deus. Mas os apóstolos e discípulos viram o próprio Deus encarnado em Jesus Cristo. Hoje nós vimos Jesus através de nossa fé.
Houve uma profecia de Jesus que o Templo iria ser destruído. Nos anos setenta aconteceu que o exército romano entrou em Jerusalém e destruiu tudo. Anos depois desapareceram os escribas, fariseus, anciões do povo, sacerdotes e sumo sacerdotes e o Império Romano foi destruído e desapareceu.
Duas potências religiosas perpetuaram até os nossos dias: A Igreja Católica e o Judaísmo. O judaísmo é o império do povo de Deus. Povo escolhido para que dele nascesse o Messias. Mesmo os judeus sendo culpados pela morte de Jesus, mas Deus conserva-os até que eles se convertam no cristianismo. Essas duas religiões, cristã e judaísmo é povo eleito de Deus. Os judeus porque, entre todos os povos eram os únicos que adoravam um só Deus criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Eram monoteístas; enquanto os outros povos eram politeístas, adoravam vários deuses. Jesus e os apóstolos eram, também, judeus. A diferença entre cristãos e judeus é que eles esperavam a vida do Messias, que nasceria de uma virgem. Ele veio e foi rejeitado por eles e O condenaram à morte de cruz. Os cristãos aceitaram e muitos derramaram os seus sangues por amor à paixão e morte e ressurreição de Jesus. Para os cristãos Jesus já veio e deu a sua própria vida pela humanidade.
Os cristãos esperam a segunda vinda de Jesus, a parusia, e os judeus espera, ainda, a primeira, só que não será a primeira, mas a segunda para julgar os vivos e os mortos, então haverá a escatologia.
O nome de Barrabás é: Jesus Barrabás. Aí houve dois Jesus para serem condenados; um foi libertado e o outro, condenado. Para nós cristãos o Jesus que foi condenado inocente é o Filho de Deus e Deus verdadeiro gerado e não criado, conforme reza o credo.
“Quando Jesus disse: destruirei esse templo e o construirei em três dias”, Ele estava referindo, não o templo de seu corpo, mas o templo da Nova Aliança que tinha feito com o Pai para que, depois de sua ressurreição, todos os seus seguidores seriam: esse “novo templo”. São Paulo afirma: “Não sabeis que sois “Templo de Deus” e o Espírito Santo habita em vós?”  Todos nós que somos discípulos de Jesus somos templo, igreja fundada e inaugurada pela paixão e morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Houve uma profecia e está acontecendo até os nossos dias, quando os que estavam forçando a Pilatos para condenar Jesus à morte de cruz, eles disseram: “Cai sobre nós o seu “sangue” e sobre nossos filhos!” Podemos ver que os judeus, embora pertencessem o povo de Deus, no Antigo Testamento, esse povo está pagando um preço altíssimo do sangue inocente: Jesus Cristo. Milhões de judeus morreram no “Campo de Concentração” na guerra de 1940 a 1945, onde Adolfho Hitler queria eliminar todos os judeus. Mas até hoje eles sofrem perseguições e estão em luta até os nossos dias atuais. Estão pagando um preço alto sobre o que disseram: “Caia sobre nós o sangue e sobre os nossos filhos, isto é, toda a geração judaica”. Como sempre nunca negaram e continuam afirmando ser eles os responsáveis sobre a morte de Jesus. Mas, teologicamente falando, todos nós somos responsáveis pela morte de Jesus, pois Ele morreu pelos pecados de todos. Também quando cada um de nós não age como cristão e vive como se nada tivesse acontecido com a paixão, morte e ressurreição de Jesus e se transforma o Cristo como simplesmente uma personagem que só soubera realizar milagres e nada mais. A paixão,  morte e ressurreição de Jesus só ficou na história e na liturgia quaresmal da semana santa.
hagaribeiro.

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