VIGÉSIMA SEGUNDA.
O preconceito social.
Havia, aqui, em Carinhanha, uma
jovem de família rica, a moça mais linda que houve aqui. Quando havia uma peça
teatral ela fazia parte e gostava de cantar. Tinha uma voz muito linda e era
ritmada. Ela tinha cinco irmãs e um irmão. Era a prenda da cidade. Quando ela
saia a passear com a irmã caçula, se vestia muito bem, os olhos dos jovens se
encantavam pela beleza natural da donzela. As festas da elite ela frequentava e
todos os jovens queriam dançar com ela. Além de bonita, dançava divinamente
bem.
Chegou aqui a companhia para a
construção do aeroporto. Muitos operários, mestre de obras e um engenheiro.
Esse era galã e conquistador das mocinhas. Mas a mais linda era a jovem Suzana.
[Mas não era a do livro de Daniel]. Essa era carinhanhense. Esse engenheiro deu
pra o lado dela a conquistar. Jovem ainda adolescente, caiu na armadilha do
conquistador, que já era casado. Suzana caiu nas más línguas do povo, que nunca
tinha acontecido, era sempre respeitada e adorada por sua beleza de nascença,
ficou enamorado do cujo sedutor. Como as línguas ferviam em comentários, até o
irmão, saiu armado para pegá-los em flagrante, mas eles fugiram de avião para
outras plagas. Passados tempos sem a notícia dela, veio, um pouco tardia, que o
dito engenheiro sedutor havia abandonado nas ruas das amarguras. Sofreu, pois,
foi preciso viver em prostíbulo para poder manter a sua beleza e a sua vida
econômica. Apareceu um anjo da guarda, engenheiro rábula, muito rico, e a
convidou para viver com ela. Suzana naquela altura de má vida, aceitou a nova
aventura sem pensar nas desventuras, mas arriscou novamente. Ele tinha aviões e
era rico, mas extravagante qual o “filho pródigo”. Viajava constantemente de
avião com ela para a cidade mineira, Belo Horizonte e outros lugares
encantados. Parecia os dois amantes do romance de Willian Shakespeare, Romeu e
Julieta. Mas é como disse da narração do evangelho de João: O filho pródigo,
tal qual aconteceu: Dinheiro foi acabando, foi vendendo o avião e mais outro,
carro e ficou pobre até do seu grande amor de Suzana. Suzana, que mantinha a
sua beleza impecável voltou à casa dos pais. Assim que chegou, os comentários
se alardearam de boca em
boca. As festas dançantes ela era barrada. O preconceito
social era tão grande que, quando ela saiu à rua com sua irmã, as janelas se
abriam e apareciam nelas os olhares curiosos e a “matraca” a soar, como se
fosse a da semana santa nas mãos de dona Aniceta. Sofreu humilhações atrozes
dos próprios conterrâneos. E a pior eu vou narrar: Domingo ia haver uma partida
de jogo de voleibol em disputa de campeonato e toda a família carinhanhense
iria. Então a mulher do prefeito, a primeira dama soube que a Suzana iria.
Então ela falou com o esposo para impedi-la de ela ir a esse evento esportivo.
Então, o prefeito mandou chamar o sargento, cujo sargento era o delegado.
Chegando lá o prefeito disse-lhe: Mandei lhe chamar, porque hoje à tarde vai
haver um jogo de voleibol e toda a família irá. Mas você irá impedir a
prostituta Suzana para que ela não vá a esse evento familiar. Vá à sua casa e
avise a ela para ela não ir. E se ela teimar ou desobedecer as suas ordens,
pode prendê-la. O sargento saiu imediatamente sem saber em que balaio de gato
ele estava mergulhando. Chegando lá, bateu palmas e ela foi atender. Ao chegar
o sargento deu-lhe as ordens até ameaçadora. Quando o irmão do coronel de
Salvador, cujo coronel era irmão de
Samuel, o padrasto de Suzana ouviu aquele desaforo e disse com voz forte
e segura como a maior autoridade e respondeu nas alturas:
-“Sargento, eu lhe afirmo com
toda certeza que ela irá e o senhor não irá impedi-la.”
-Respondeu o sargento: “Se ela me
desobedecer eu a prenderei.”
-Não vai não, sargento. Sabe com
quem o senhor está conversando? O senhor conhece o coronel, fulano de tal?
[Disse o nome do irmão do dele e padrasto de Suzana].
-Conheço. Ele é o meu chefe.
-Pois, fique sabendo que ele é o
meu irmão. Se o senhor impedi-la de ir a esse evento eu comunicarei ao meu
irmão, seu superior imediatamente e o senhor, sargento, irá embora daqui
imediatamente e será punido.
-Puxa! Eu não sabia, seu Samuel,
me perdoa. O senhor sabe como é o interior. O prefeito mandou e eu tinha que
cumprir, mas eu vou avisar a ele e ela poderá ir tranquilamente.
-Pois, dê o recado para esse
prefeito quem manda aqui, se é ele ou eu. Porque ela irá.
O sargento saiu e foi avisar o
prefeito, que quando ouviu, chamou a esposa e disse o recado do seu Samuel.
Então a madame disse ao marido: Então você vai avisar os jogadores que não irá
mais haver o jogo. Quero vê-la ir. O prefeito mandou o sargento suspender o
jogo; e não houve mais o campeonato.
Mas a madame não satisfeita,
quando viu Suzana passeado no jardim da Praça da Matriz com sua irmã, ela
mandou todas as moças e jovens saírem do jardim e passear na rua fora do
passeio do jardim e sua ordem foi cumprida. Era noite de domingo e o jardim
estava repleto de moças e rapazes. Foi o maior absurdo que eu já vi em toda a
minha vida. Preconceito social? Machismo? Nem um, nem outro, mas desrespeito à
pessoa humana. Graças a Deus que nunca mais houve e não haverá uma baixaria
dessa em nossa terra.
Mas a sorte de Suzana estava para
chegar e chegou. Um jovem jornalista e professor, quando chegou aqui do Rio de
Janeiro e botou os olhos em Suzana ficou louco de amor. Fez poesias, fez
seresta, mandou cartas e mais cartas até que “Davi” derrotou o gigante Golias.
Casou-se com ela e ela deu à luz um filho e depois outro, mas outros e vivem
bem como Romeu e Julieta. Colou-se a hipócrita da sociedade, bem como a madame
a boca na “botija” e o prefeito também. Todos, hoje, têm Suzana como uma
senhora de bem, honrada e bem casada. Não importa o passado, mas o presente sem
queixumes do pretérito.
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