segunda-feira, 12 de novembro de 2012



VIGÉSIMA SEGUNDA.

O preconceito social.

Havia, aqui, em Carinhanha, uma jovem de família rica, a moça mais linda que houve aqui. Quando havia uma peça teatral ela fazia parte e gostava de cantar. Tinha uma voz muito linda e era ritmada. Ela tinha cinco irmãs e um irmão. Era a prenda da cidade. Quando ela saia a passear com a irmã caçula, se vestia muito bem, os olhos dos jovens se encantavam pela beleza natural da donzela. As festas da elite ela frequentava e todos os jovens queriam dançar com ela. Além de bonita, dançava divinamente bem.
Chegou aqui a companhia para a construção do aeroporto. Muitos operários, mestre de obras e um engenheiro. Esse era galã e conquistador das mocinhas. Mas a mais linda era a jovem Suzana. [Mas não era a do livro de Daniel]. Essa era carinhanhense. Esse engenheiro deu pra o lado dela a conquistar. Jovem ainda adolescente, caiu na armadilha do conquistador, que já era casado. Suzana caiu nas más línguas do povo, que nunca tinha acontecido, era sempre respeitada e adorada por sua beleza de nascença, ficou enamorado do cujo sedutor. Como as línguas ferviam em comentários, até o irmão, saiu armado para pegá-los em flagrante, mas eles fugiram de avião para outras plagas. Passados tempos sem a notícia dela, veio, um pouco tardia, que o dito engenheiro sedutor havia abandonado nas ruas das amarguras. Sofreu, pois, foi preciso viver em prostíbulo para poder manter a sua beleza e a sua vida econômica. Apareceu um anjo da guarda, engenheiro rábula, muito rico, e a convidou para viver com ela. Suzana naquela altura de má vida, aceitou a nova aventura sem pensar nas desventuras, mas arriscou novamente. Ele tinha aviões e era rico, mas extravagante qual o “filho pródigo”. Viajava constantemente de avião com ela para a cidade mineira, Belo Horizonte e outros lugares encantados. Parecia os dois amantes do romance de Willian Shakespeare, Romeu e Julieta. Mas é como disse da narração do evangelho de João: O filho pródigo, tal qual aconteceu: Dinheiro foi acabando, foi vendendo o avião e mais outro, carro e ficou pobre até do seu grande amor de Suzana. Suzana, que mantinha a sua beleza impecável voltou à casa dos pais. Assim que chegou, os comentários se alardearam de boca em boca. As festas dançantes ela era barrada. O preconceito social era tão grande que, quando ela saiu à rua com sua irmã, as janelas se abriam e apareciam nelas os olhares curiosos e a “matraca” a soar, como se fosse a da semana santa nas mãos de dona Aniceta. Sofreu humilhações atrozes dos próprios conterrâneos. E a pior eu vou narrar: Domingo ia haver uma partida de jogo de voleibol em disputa de campeonato e toda a família carinhanhense iria. Então a mulher do prefeito, a primeira dama soube que a Suzana iria. Então ela falou com o esposo para impedi-la de ela ir a esse evento esportivo. Então, o prefeito mandou chamar o sargento, cujo sargento era o delegado. Chegando lá o prefeito disse-lhe: Mandei lhe chamar, porque hoje à tarde vai haver um jogo de voleibol e toda a família irá. Mas você irá impedir a prostituta Suzana para que ela não vá a esse evento familiar. Vá à sua casa e avise a ela para ela não ir. E se ela teimar ou desobedecer as suas ordens, pode prendê-la. O sargento saiu imediatamente sem saber em que balaio de gato ele estava mergulhando. Chegando lá, bateu palmas e ela foi atender. Ao chegar o sargento deu-lhe as ordens até ameaçadora. Quando o irmão do coronel de Salvador, cujo coronel era irmão de  Samuel, o padrasto de Suzana ouviu aquele desaforo e disse com voz forte e segura como a maior autoridade e respondeu nas alturas:
-“Sargento, eu lhe afirmo com toda certeza que ela irá e o senhor não irá impedi-la.”
-Respondeu o sargento: “Se ela me desobedecer eu a prenderei.” 
-Não vai não, sargento. Sabe com quem o senhor está conversando? O senhor conhece o coronel, fulano de tal? [Disse o nome do irmão do dele e padrasto de Suzana].
-Conheço. Ele é o meu chefe.
-Pois, fique sabendo que ele é o meu irmão. Se o senhor impedi-la de ir a esse evento eu comunicarei ao meu irmão, seu superior imediatamente e o senhor, sargento, irá embora daqui imediatamente e será punido.
-Puxa! Eu não sabia, seu Samuel, me perdoa. O senhor sabe como é o interior. O prefeito mandou e eu tinha que cumprir, mas eu vou avisar a ele e ela poderá ir tranquilamente.
-Pois, dê o recado para esse prefeito quem manda aqui, se é ele ou eu. Porque ela irá.
O sargento saiu e foi avisar o prefeito, que quando ouviu, chamou a esposa e disse o recado do seu Samuel. Então a madame disse ao marido: Então você vai avisar os jogadores que não irá mais haver o jogo. Quero vê-la ir. O prefeito mandou o sargento suspender o jogo; e não houve mais o campeonato.
Mas a madame não satisfeita, quando viu Suzana passeado no jardim da Praça da Matriz com sua irmã, ela mandou todas as moças e jovens saírem do jardim e passear na rua fora do passeio do jardim e sua ordem foi cumprida. Era noite de domingo e o jardim estava repleto de moças e rapazes. Foi o maior absurdo que eu já vi em toda a minha vida. Preconceito social? Machismo? Nem um, nem outro, mas desrespeito à pessoa humana. Graças a Deus que nunca mais houve e não haverá uma baixaria dessa em nossa terra.
Mas a sorte de Suzana estava para chegar e chegou. Um jovem jornalista e professor, quando chegou aqui do Rio de Janeiro e botou os olhos em Suzana ficou louco de amor. Fez poesias, fez seresta, mandou cartas e mais cartas até que “Davi” derrotou o gigante Golias. Casou-se com ela e ela deu à luz um filho e depois outro, mas outros e vivem bem como Romeu e Julieta. Colou-se a hipócrita da sociedade, bem como a madame a boca na “botija” e o prefeito também. Todos, hoje, têm Suzana como uma senhora de bem, honrada e bem casada. Não importa o passado, mas o presente sem queixumes do pretérito. 

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