quarta-feira, 10 de novembro de 2010

OS JAGUNÇOS NOS TEMPOS DOS CORONEIS.


OS JAGUNÇOS NOS TEMPOS DOS CORONEIS.
Do livro  CARINHANHA DE ONTEM E DE HOJE
De Honorato Ribeiro dos Santos.

Quincas de Mariana, assim conhecido por todos, era um sujeito forte, de cor morena, sangue frio, cabelos lisos, medindo 1.68m de altura, de fala fina e plácida, dando as características de pessoa pacata e não violenta. Mas, que, na realidade, era perigosíssimo e de mau caráter ao extremo. Fui um dos tantos jagunços sanguinários, nos tempos do “Barulho do coronel João Duque”, aqui em Carinhanha, cidade ribeirinha do rio São Francisco, divisa de Minas com Bahia, pelo rio Carinhanha. Esse jagunço, Quincas de Mariana, tinha cometido vários crimes. Uma das vítimas dele foi Rodrigues que ele assassinou friamente e nada aconteceu contra ele. Depois de ter assassinado a Rodrigues ele assassinou a sua própria esposa. Quando descobriram esse crime absurdo, o coronel João Duque soubera do ocorrido mandou o prender. Mas o Quincas achou que ainda tinha prestígio junto ao coronel, mas se enganou evidentemente. Foi preso e condenado. Antes de ele assassinar a sua esposa, já havia assassinado a Pedro de Tila covardemente e fugiu para a cidade de Manga, em Minas Gerais. Deixou a viúva carregada de filhos, ainda menor de idade. Esse crime ficou em pune. Passado tempo depois, ele se integrou  ao grupo de jagunços no barulho de 1919. Tempos em que Carinhanha viveu a sua história mais negra entre os filhos de terra. Os que apoiaram o coronel João Duque ficaram; os contras fugiram e outros morreram. Era a política de ódio pelo poder político dos coroneis de patente comprada da “GUARDA NACIONAL”. Houve muitos espancamentos, prisões injustas, tudo era resolvido à bala. Quem não quisesse morrer teria de correr com a única roupa do corpo. Muitos dos filhos dessa terra não voltaram mais.
Havia outro jagunço por nome de Zé Baiano, que assistiu ao assassinato do Quincas contra a esposa do mesmo. Zé Baiano contou para a esposa do coronel João Duque e ela vestiu-se disfarçada de vaqueiro e montou no cavalo e saiu depressa para contar a seu marido, o coronel João Duque o que havia acontecido. Ao saber do assassinato, o coronel, imediatamente, mandou prendê-lo. Quando o Quincas chegou preso, pensou que o coronel iria lhe dar apoio; soltaria imediatamente, mas se enganou. Foi preso e enviado para Salvador. Decepcionado disse para o coronel: Pode esperar, coronel, que vou vingar de você. Mas não voltou mais a Carinhanha.
Chegou a Carinhanha, vindo de Itacarambi-MG e se aliou ao coronel João Duque, o Chico Meira, com a alcunha de Coaçu. Esse foi um dos jagunços muito perigoso. Com o apoio do coronel João Duque, fez Álvaro Oliveira, homem íntegro, coletor federal, expulsando-o. Esse Chico Meira foi à casa do coletor e disse-lhe: Álvaro, dou-lhe 24h para sumir daqui. Se caso não for embora daqui, será um homem morto. Álvaro, que já o conhecia muito bem, arrumou as malas e foi para Bom Jesus da Lapa.
Um tenente vindo de Salvador chegou aqui e foi dar ordem de prisão ao Chico Meira. Ele, imediatamente, sacou da arma e atirou para matar o tenente, por sorte do tenente a bala pegou na fivela do cinturão. Chico Meira correu e entrou na casa do coronel. O cabo Lalau, da esquina da igreja matriz, abriu fogo contra Chico Meira e ele respondia tirando casca na esquina, onde o cabo estava entrincheirado. Todo mundo tinha medo de Chico Meira, mas Gabriel Cardoso, telegrafista, partiu para Salvador e deu parte contra Chico Meira. Então enviaram dois agentes policiais e o prenderam, levando-o algemados para Salvador. Depois de ter cumprido a pena na cadeia da capital baiana, ele voltou a aprontar. Dessa vez ele assassinou o comandante do vapor, Barão de Cotegipe, Felipe de Barros. O crime ficou em pune. Tempos depois, dois adolescentes vingaram a morte do comandante Felipe Barroso , matando-o em Pirapora-MG.
Outro perigoso jagunço era Isidório Fumo. Ele tinha uma tia por nome de Teodora. Pobre trabalhadeira, que vivia a tirar lenha para o sustento da vida. Um dia, a velha sua tia, Teodora, tinha chegado com um feixe de lenha; ainda cansada do peso da lenha, quando ouviu os gritos do sobrinho, que invadiu a sua casa dizendo-lhe: Ó velha Teodora, fuxiquenta da peste. Saia para fora pra apanhar de chicote de cavalo para deixar de ser fuxiquenta, sua arengueira. Meu filho, eu nunca falei mal de você pra ninguém! Eu ando trabalhando e cuidando dos meus afazeres. Não cuido de vida de ninguém! Mentirosa, safada. Você vai apanhar de chicote até morrer pra respeitar homem de bem. O malvado deu de chicote na velha até a morte. Matou a própria tia e o crime ficou em pune. Lutou no barulho ao lado do coronel João Duque e fez muitas vítimas. Depois que veio a paz, ele mudou-se para Manga-MG. Tempos mais tarde Isidoro Fumo foi punido pela justiça Divina com um câncer na cabeça vindo a falecer.

Os jagunços mais perigosos do coronel João Correia Duque foram: Umbuzada, João Jacaré, Isidório Fumo, Simplício e Mateuzinho, estes dois foram os que assassinaram o segundo prefeito de Carinhanha, conhecido por seu Andrade. Os outros jagunços foram: Pabula, Barba Dura, Barba Grande, este dizia que tinha o corpo fechado, nem bala e nem faca tiraria a sua vida, mas morreu assassinado nas rixas políticas dos coronéis de Carinhanha e Santa Maria da Vitória.
Umbuzada estava limpando o seu fuzil, quando sua tia, Joana Pataca, ia passando e ele disse para os colegas: “Vou ver se este fuzil é bom de fogo.” Apontou para a tia, mirou e puxou o gatilho disparando o tiro certeiro contra a própria tia, que caiu, imediatamente, morta no chão. Como sabia que não iria lhe acontecer nada contra ele, ficou tranqüilo. Quem se apiedou da velha fez os funerários lamentando o ocorrido injusto.
Assim viveu por muitos anos o povo de Carinhanha. Hoje a cidade é de um povo deferente e, muitos sabem dessa negra história lendo os livros editados por mim e o padre Souza, que viveu muitos anos aqui como padre da Congregação Vicentina. Já faleceu, mas deixou-nos muitos livros de histórias pesquisadas e editadas por ele.

Honorato Ribeiro dos Santos, Rua Francisco Muniz nº 46 –Centro – Carinhanha-Ba. Tel. (77) 3485-2694. e-mail hagaribeiro@yahoo.com.br

5 comentários:

  1. Não me resta dúvidas, Honorato, de que você é um grande escritor. Gosto desse seu jeito de narrar, até pareço ouvir-lhe contando suas histórias. Seus textos são realmente profundos, tocantes e não o digo pelo lado espiritual, não, que esse não o tenho, mas digo pelo lado literário. Ao mesmo tempo que usa de simplicidade, usa dos sentimentos e abusa do talento. Grande abraço! E parabéns pelo Blog!

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  2. Engraçado a forma como você conta a história do meu bisavô...

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  3. Parabéns, Honorato, pela grande herança que estais a deixar para o povo de Carinhanha _ o relato de suas raízes.

    Silvana Ferreira Mendes (Profª de História _ Brasília de Minas _ MG)

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  4. Li o texto e bem parecido com que meu avô contava meu avô foi um morador de Carinhanha o nome Geraldo Souza Santos mais conhecido como Geraldo Garapa

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