O BECO MAL ASSOMBRADO.
Aqui existe um beco que foi
apelidado de o Beco da Barrica. Nesse Beco havia uma barrica que rolava pelas
ruas da cidade, e muita gente correu assombrado ao deparar com ela. Ela saia sempre desse beco e corria atrás das
pessoas que encontrava solitário pelas ruas escuras. Sempre a barrica saia a
rolar fazendo muito barulho à meia noite de sexta-feira. Quem deparasse com ela,
corria assombrado com muito medo dela lhe pegar. Os comentários andavam de boca
em boca, na pequena cidade, mas ninguém tinha a coragem de se esconder, no dito
beco, para descobrir a verdade sobre essa barrica. Uns diziam que era fulano de
tal já havia falecido que era muito rico e deixou muitos bens dentro de uma
barrica. Outros diziam que era o caboclo d’água que saia do rio São Francisco
para pegar as pessoas e levar para o fundo do rio para comer. Era muitas estórias
que contavam as pessoas sobre essa barrica. Havia muitos que se encontraram com
ela saindo do beco, mas não tiveram coragem de enfrentá-la. Correram feito
louco fugindo dela. Até mesmo os cachorros uivavam, latiam e fugiam com o rabo
entre as pernas, quando deparavam com a tal barrica. As pessoas que moravam
perto desse beco, acordavam assustados ao ouvir o barulho da barrica rolando
pelos calçamentos com muito barulho. As crianças acordavam e saiam de suas
camas correndo para o quarto dos pais, quando ouviam o barulho dela passando à
porta de sua casa. Era mesmo uma visagem. Toda cidade comentava sobre a tal
barrica. Os rapazes, quando era dia de sexta-feira, não saiam à rua, não faziam
seresta e todos tinham medo dessa tal barrica mal assombrada. Os pais davam
conselhos aos filhos para que eles não saíssem à rua por causa da barrica.
Noite dessa, um ex-jagunço por
nome de Balbino, que lutou muito, nas rixas políticas dos coronéis, só andava
armado, e nunca teve medo de assombração, por não acreditar nela, ouvia falar
sempre nessa tal barrica, mas nunca se deparou com ela. Balbino tinha uma
amante numa rua distante da sua e resolveu ir à casa da amante, na noite de
sexta-feira, noite que diziam que a tal barrica saia e assombrava muita gente.
Pegou uma pistola e encheu de bala e dirigiu-se para a casa da amante. Ele
sempre passava por outra rua, que era mais perto, mas resolveu passar pelo Beco
da Barrica. Quando ele se aproximou do beco, ouviu o barulho da barrica e sacou
da arma e esperou que ela se aproximasse dele. A barrica sempre, quando via uma
pessoa, se dirigia a ela para que essa corresse assombrada. Enganou-se, pois o
ex-jagunço, Balbino já estava preparado, sacou da arma e deu dois tiros
certeiros na barrica. Quando o tiro acertou no alvo, ele escutou um forte
grito. O ex-jagunço Balbino correu para saber quem era a criatura. Ele estava
com uma lanterna na mão e focou na barrica e viu um homem saindo dela todo
lavado de sangue. Ele se aproximou cautelosamente e conheceu quem era. Era um
homem casado por nome de Faustino, pai de família, pescador e seu vizinho. Ele segurou
Faustino e levou-o para casa de um farmacêutico para fazer o curativo naquele
seu vizinho cheio de astúcia. A sua sorte é que a bala acertou nas nádegas e
saiu sem nenhuma gravidade. O farmacêutico deu uns pontos, dez o curativo e
perguntou:
-Andou brigando trocando tiro com
alguém, Faustino?
-Não. Não foi briga nenhum.
-E o que foi então?
-Invenção minha. Loucura de gente
que não tem juízo.
-Como assim?
-O senhor já ouviu falar numa tal
barrica que saia à meia noite de sexta-feira assombrando gente?
-Já sim. Mas, você não vai me
dizer que foi essa barrica que lhe fez esse estrago!
-Não. Foi esse meu amigo, o
Baldino que atirou em mim.
-Mas você brigou com ele?
-Não senhor. Eu era o cara da
barrica que assombrei muita gente, mas com ele foi diferente.
-Então, Fausto era você?! Só
rindo, só rindo mesmo. E agora, acabou-se com a misteriosa barrica, não é
senhor Fausto?
-Serviu-me de lição. Ele não tem
nenhum culpa por ter atirado em
mim. Em mim não, na barrica.
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