CONTO de Honorato Ribeiro.
Eu tinha apenas 14 anos de idade e
trabalhava na padaria de Gabriel Cardoso com meu irmão Domingão. Naquele tampo
não havia luz elétrica e usava o candeeiro para o trabalho noturno. Fizemos a
massa de pão e fomos assar. Domingos enfornou os pães e deixou assando e saiu
para à porta da rua e eu fiquei para tirá-los assim que estivessem todos pães
assados. Era mais ou menos oito horas da noite. Abri a porta do forno e comecei
a tirar os pães. Assim que terminei de tirar todos, fechei a porta do forno e
fui limpá-los um por um e colocar no tabuleiro. Eu ouvia Domingos e sua esposa,
Eudocha e outros conversando e sorrindo lá fora. Quando eu vi, a pá começou a
se movimentar como se estivesse alguém querendo tirar pão. A pá era grande de
uns três metros e meio e era bem fina. A ponta da pá ficava sobre a pilastra do
forno e o cabo, onde a gente segura estava sobre o braço do cavalete. Ela era
tão fina, que ficou flexivelmente balançando, quando, não sei quem, pegou como
se quisesse tirar pão. Eu fiquei
assustado com o movimento da pá e não vi ninguém. Não me importei pensando que
fosse algum gato que pulasse no cabo da pá e ela balançasse. Naquele mesmo
instante ela tornou fazer o mesmo movimento. Eu parei de limpar os pães e
fiquei assuntando o que seria!? Olhei por baixo do tabuleiro para ver se havia
gato. Não vi nada. Peguei o pão e comecei a limpar um por um, mas de olho na
pá. Quando eu vi, essa foi a terceira vez, a pá suspendeu sozinha e se dirigiu
para bater na minha cabeça. Eu abaixei e tirei um grito enorme. O pessoal que
estava lá fora correu para ver o que tinha havido comigo. Meu irmão, Eudocha,
dona Alzira e as filhas dela perguntaram-me: O que aconteceu? E eu contei o que
vi e fiquei trêmulo. Todos não tiveram resposta nenhum para explicar. Então,
Domigão disse sorrindo e debochando: “Foi o velho Patrício que veio lhe dá uma
surra. Ele me disse que viria um dia lhe dá uma surra”. E deu pra sorrir. Meu
pai havia falecido há dois anos.
Eu já tinha casado e morava na
casa de seo Bazileu vizinho de dona Carlota, na Praça da Matriz. Quando foi dia
de festa no Clube Cultural Recreativo Dois de Julho, assim que eu acabei de
tocar, pois eu era o regente da orquestra, dirigir-me para minha casa para
dormir. Era umas três horas da madrugada. Ao chegar, abri a porta e entrei.
Abri a porta do quarto e Carminha já estava dormindo. Fiz as minhas orações,
tranquei a porta e deitei, logo, agarrei no sono. De manhã, acordei e dirigir-me
para abrir a porta do quarto, mas não encontrei a chave nela. Acordei Carminha
e perguntei se ela teria tirado a chave da porta. Ela me disse que não. Então
eu lhe perguntei: E quem tirou, pois ela não está na fechadura como eu deixei!
Ficamos sem saber e sem solução a tomar, pois estávamos trancados, presos no
quarto sem poder sair. A nossa sorte é que havia uma janela para o beco –
chamado de Beco de Bazileu – e eu abri a janela, pulei e me dirigir para o
quintal. Saltei e me dirigi para a porta do fundo e estava fechada e a janela
também. Como a janela era trancada por uma taramela, eu a forcei com o ombro e
consegui abrir. Saltei a janela e penetrei na sala e vi a chave na porta. Destranquei
e Carminha saiu. Agora ficamos sem resposta... Como aquela chave, que estava
por dentro do quarto veio ficar na fechadura pelo lado contrário, onde era a
sala!? Você, caro leitor, tem a resposta? Acredita em alma do outro mundo? Quem
estava nos assustando? Primeiro foi a pá, agora, mais complicado: uma chave que
estava por dentro do quarto que foi trancada a porta por dentro, apareceu pelo
outro lado! Eu não encontrei a resposta até hoje! E você tem?
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