Crônica de Honorato Ribeiro dos
Santos.
O que é ortografia? Vou lhes
dizer primeiro quem sou: Ortografia é a arte de escrever corretamente as
palavras de uma língua; faço parte da gramática que ensina essa bela arte de
escrever as palavras certas. Não tolero que alguém me use erroneamente. Sabe
por quê? Porque eu nasci de um hibridismo clássico: Meu pai nasceu na capital
do império romano, Roma, e ele se chama Verbo. A minha mãe nasceu na Grécia,
nos tempos dos grandes sábios e se chama Gramática. Então, eu nasci na Grécia,
educada em Roma e depois fui fazer faculdade em Portugal, muito antes de Luis
Camões, e o padre Antônio Vieira. Depois, Portugal fez várias colônias e em
cada uma dela ele me implantou tal qual como o sou. Sou muito exigente. Não
tenho regra a exigir de ninguém, porém, como o meu pai se chama Verbo e a minha
mãe se chama Gramática eles é que são os maestros e usa uma batuta em forma de
compasso binário. Nesse compasso quem não aprender bem a partitura e a
harmonia, sairá e não poderá ser componente dessa orquestra de Beethoven. Claro
que estou usando, aqui, para explicar melhor, uma metáfora; talvez uma parábola.
Mas a logística minha só existe uma: Ler, reler, viver lendo os bons
escritores: revistas, jornais, romances, e reparar em cada palavrinha como é
que sou escrita etimologicamente. Lembre-se que sou filha de dois complexos
pais: o Verbo e a Gramática. Todo mundo poderia escrever êzodo e não êxodo. O
som é o mesmo, mas a grafia, não. Você poderia escrever caza, mas ela se
escreve com “s”. E existem muitas palavras em português que é muito complicada
para se escrever corretamente. Veja essa como é escrita etimologicamente:
superstição. Mas a nova nomenclatura portuguesa você terá de estar consciente
ou a par de tudo gramaticalmente. Olha, agora mataram meu irmão caçula: O
trema. Sabia que não existe mais? Eu tenho uma porção de irmãos e todos são
complicados: ponto de exclamação, ponto e vírgula, ponto de interrogação, ponto
parágrafo, ponto final, acento agudo, acento circunflexo, acento grave, este é
complicado, pois só aparece para crasear o “a” e a regra da crase é outro “Deus
nos acuda”!... Derruba qualquer universitário; e minha complicada irmã vírgula.
É... ela é complicadíssima e muita gente tropeça nela; e quebra a cara, além de
o dedão do pé ficar inchado e a pessoa claudicar, quando for andar. Uns até usa
muleta. Ela, minha irmã vírgula, é pior do que eu, a Ortografia. Só que ela tem
regras e muitas, mas eu, não. Não tenho regra nenhuma, basta ser um leitor
amante da leitura e comer com apetite “O Navio Negreiro”, “Os Sertões”, “Gabriela
Cravo e Canela”, e fazer uma visita a Cecília Meireles e a Monteiro Lobato,
Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade, Venícius de Morais, Mário
Quintana, Manuel Bandeira, Guerra Junqueira, Fernando Sabino, Humberto de
Campos, Ruben Braga, Olavo Bilac, Gonçalves Dias, Jorge de Lima, Paulo Coelho,
Millôr Fernandes, padre Antônio Vieira e padre Antônio Tomás e as nossas
revistas e jornais. Então, somente assim você poderá escrever ortograficamente
bem e corretamente e ter de lado o Aurélio. Não se esqueça que eu sou a:
ORTOGRAFIA.
Um forte abraço da amiga de
sempre dos que gostam da boa leitura.
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