quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

EU SOU O VERBO.



Crônica de Honorato Ribeiro dos Santos.

Assim começa a gramática a dizer-lhe quem o sou: “Verbos são palavras que indicam ação, estado ou fenômeno da natureza.” Que complicação a gramática faz comigo! E mais complicado ela diz: “Os verbos estão distribuídos em três conjugações: os da primeira conjugação em ar; os da segunda conjugação em er; e o da terceira conjugação em ir. Que complicação a gramática faz comigo é uma loucura! Se sou uma só pessoa ela me divide em várias? Não é para deixar as pessoas loucas? Veja a mais complicação que ela faz: “O verbo muda de forma para indicar a pessoa, o número, o tempo e o modo”. Já pensou que complicação louca? É de arder a cuca do estudante e dos sábios. Eu sou uma pessoa por nome de batismo e registrado em cartório: Verbo. Eu não sou Deus para ser tão místico assim. Depois ela, a gramática, diz: “O verbo varia em número e pessoa: Eu, tu, ele; nós, vós eles”. E “você” onde fica nessa história de regras? “Você” também não é pessoa? Aparece o aluno inteligente e pergunta: E por que a gente usa mais você de que tu? Então ela vem com aquela história arcaica e explica: Você é o antigo vosmicê, que hoje é vós e não mais vosmicê. O aluno pergunta: E por que não usamos vós no plural ou tu, que é o singular de vós, ao invés de usar você? Ela responde: É difícil a flexão do verbo na segunda pessoa do plural: vós. É mais fácil usar você que vai para a terceira do singular, embora você seja da segunda pessoa do plural, mas o verbo fica na terceira pessoa do singular. Agora, dona gramática você complicou tudo! Eu vou mudar para Portugal, pois lá não há essa complicação toda. Lá é: Eu que falo para ti (tu), eu e tu falamos dele. (de+ele=dele), terceira pessoa. Não fala você no lugar de ele. Bem, gostaria de que eu não fosse tão com plicado assim. Mas sou complicado mesmo. Nasci assim e assim serei para ser usado no meu lugar devido. Agora, vem a mais complicação. Tempo do verbo que são três: Presente, passado e futuro. Vem mais outra complicação: O pretérito divide-se em três: Pretérito perfeito, pretérito imperfeito e pretérito mais que perfeito. Entendeu? Eu, não! Como posso entender se a minha professora primária não existe mais? Expulsaram-na das escolas. Vai aprender sabatina agora com quem? E o beabá do ceacá ceocó... Um bê com a beabá? E quem irá ensinar tudo isso na íntegra das flexões verbais dos verbos regulares, irregulares, anômulos; os transitivos e os intransitivos? E os verbos auxiliares e os verbos de ligações? Por isso é que eu sou uma pessoa muito difícil de usar-me e colocar-me no meu devido lugar, pois eu sou complicado. Sabe por quê? Eu é que determino o sujeito. Nós somos irmãos gêmeos. Às vezes eu não apareço e fico escondido em zeugma. Agora vem outra complicação. Veja o que diz a gramática: O futuro divide-se em futuro presente e futuro do pretérito. Não complicou mais ainda? Se é futuro é aquele que ainda virá; é o porvir. Agora ela diz que é pretérito, isto é, passado do futuro!? Que coisa mais complicada! Depois ela diz que existem modos. Que modos são esses, meu Deus?! É de rachar a cuca. Aí ele explica: Os modos dos verbos são: Indicativo, subjuntivo e imperativo. E não para com a loucura dela. Sabe o que ela diz: O imperativo pode ser: afirmativo ou negativo. Dá para você entender? É ou não é ou deixa de ser. Ou você é o meio do campo ou lateral direita, mas tem que fazer gol e não levar de sete a um. Ainda ela vem novamente a complicar: Formas nominais do verbo: Infinitivo pessoal e impessoal; gerúndio e particípio. Está louca, dona gramática! Quer deixar a gente louca? Eu sou uma pessoa tão simples, que o Mestre dos mestres afirmou que Ele é o Verbo de Deus. Eu sou uma pessoa divina e respeitada. Não sou assim tão complicado como a senhora, dona gramática quer fazer-me de místico. Não, não o sou. Sou apenas o verbo que comunica, que aviso, que sempre estou na boca de todos sem exceção. Sem mim nada poderá fazer. Todos sem mim ficam mudos e surdos. Agora, direi a verdade: Eu sou complicado; e, muitas vezes sem saber me usar, me assassina sem perdão. E isso é muito ruim para o desenvolvimento econômico de um País como o nosso. Opa! Esqueci-me de uma coisa mais complicada ainda que a dona gramática explica, mas não explica. Sabe o que é? Você se lembra que ela disse que os verbos têm três conjugações? E eles terminam em ar, er ir? Lembra que ela afirmou? Mas onde fica o verbo por e seus derivados, pois não existe conjugação de or! Ela não é complicada de mais? Agora alguém inteligente lhe perguntou: E o verbo por, dona gramática, donde é que ele apareceu? E ela, com a cara de pau, vai, lá ao baú do século XIX, e retira para explicar. E diz bem calma e erudita: Havia um verbo que era o poer, da segunda conjugação. Por não usá-lo mais, se tornou arcaico e se abreviou em por. Por é da segunda conjugação, entendeu? Puxa, dona gramática, agora eu estou satisfeito com a sua explicação. Mas nas escolas existe uma professora como a senhora? Existia nos meus tempos do latim. Mas hoje virou sucata a escola em todo país, e faz de conta que eu ensino e faz de conta que eu aprendo; e adeus verbo, nem quero saber quem o é.
Agora, “estudante do Brasil, tua missão é a maior lição”... Quer aprender sem mim, fica difícil se comunicar com o mundo de hoje: Mão de obra boa para aprender e ensinar. Boas escolas e bons professores como a dona gramática.
Um forte abraço desse seu amigo: O VERBO.

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