terça-feira, 21 de setembro de 2010

APÓLOGO DO VIOLÃO E O FUZIL.



Do livro, 1º volume, da história de Carinhanha de Honorato Ribeiro dos Santos.

Essa é uma história dos tempos dos coronéis que, desde 1912 a 1930, que conta a verdadeira intriga e rixas políticas, onde a arma para o combate era o fuzil. Depois  veio a paz. Com a chegada da paz apareceram os grandes músicos de violão, sendo o primeiro o mestre João Viana solista de violão clássico. Apareceram os grandes violonistas seresteiros: Zé Padeiro, Domingão, Eduardo Jacu, Zé de Patrício, Augustinho, Vavá, seu irmão, Bráulio, e seu irmão Paulo Barral, Marquinho e Eidinho.

Certa vez, um violão com saudade das belas serestas foi convidar seus companheiros para se alegrar um pouco e aproveitar o lindo céu estrelado de lua cheia para a alegria de quem gosta de ouvir, do seu leito, as lindas melodias. Convidou: o cavaquinho, Bandolim e o pandeiro para se alegrar um pouco pelas ruas da cidade. Mas, quando ia passando pelo “Beco do Pega” levou um susto danado, logo se tranqüilizando, quando reconheceu quem era. Chegando perto disse: Boa noite, meu amigo fuzil!...Que faz aí nesse recanto, tão triste e taciturno?!
-Só posso ficar triste e taciturno, solitário, pois em toda minha vida nunca fiz o bem a ninguém; pelo contrário: matei muita gente e escorracei muitas pessoas filhos dessa terra.
-Ora, meu amigo, se você ficar aí e não aproveitar esse luar tão lindo continuará sempre triste. Por que não vem comigo alegrar um pouco?
-Não posso, meu amigo. Quisera eu, mas o castigo me persegue e minha consciência é muito pesada cheia de remorso. A ferrugem me invade todo o meu corpo; comendo-me como um câncer.
-Por que deixou que a ferrugem lhe atacasse assim?
-Fui um instrumento do mal. O que poderia vir para mim senão o mal?...Você tem razão de viver alegre, pois sempre fizera aos outros sentirem alegria. Eu, pelo contrário, só pratiquei o mal. Não tenho mais pernas para andar. Não dou mais aquele ronco, que fazia medo à muita gente; tudo, agora em mim, está corroído pela ferrugem; sou apenas um pedaço de ferro inútil.
-Então, já que você não pode vir comigo alegrar-se um pouco, vou me despedir. Até outro dia.
-Vou lhe fazer um pedido: Quando estiver com os seus companheiros cantando, não deixe de cantar para mim essa melodia: SHALON, pois ela me faz esquecer minhas maldades e aliviar-me um pouco o corroer dessa ferrugem.
O violão atendeu ao pedido e o fuzil adormeceu eternamente.
Na lousa escreveram: “Aqui jazem os restos mortais de quem não quis a PAZ”.

Um comentário: