sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A jura foi quebrada.



A JURA FOI QUEBRADA.
História contada por dona Gertrudes.
Do livro de Honorato Ribeiro.

Numa fazenda havia um peão chamado Francisco que cuidava dos bois para puxar o engenho de cana. Eram mansos. Todos os dias que ele acabava a moagem ele levava os bois para o curral. Um dia, não sei por que, os bois ao chegar à porteira do curral se esquivavam e saiam doidos para não entrar. Seu Francisco corre dali, corre daqui, mas os bois sempre recuando entrar no curral. Ele já cansado e chateado à beça, zangado como estava, fez uma jura:
-De hoje em diante eu quero que o diabo me leve para o inferno, no dia em que eu colocar estes bois para o curral. Mal ele acabara de fazer a jura os bois sozinhos, sem ele tocá-los entrou no curral. Ele fechou a porteira e foi embora. Um velho, que era o zelador da casa de engenho, escutou a jura e disse para Francisco: Olhe lá, rapaz, essa jura que você está fazendo! Já eram umas seis horas da tarde, quando aconteceu esse episódio. O velho que escutou a jura de Francisco guardou as palavras dele e ficou  temeroso.
No outro dia, seu Francisco levantou-se e foi ao curral pegar os bois para atrelar no engenho como de costume. Trabalhou o dia todo, quando chegou ao fim da jornada de trabalho, à tarde, ele foi levar os bois no curral. Tudo normal. Os bois eram mansos e entrou no curral tranquilamente. Francisco fechou a porteira e foi para a casa. À noite, todos se recolheram para os seus aposentos. Numa sala grande havia muitos sacos de caroços de algodão para dar o gado bem como saco de algodão. Francisco se servia dos sacos para dormir. Quando foi à meia noite, o velho viu um sujeito forte, negro, entrando na casa e se dirigiu ao Francisco e começou a chamá-lo:
-Francisco, acorde. Eu vim lhe buscar. Acorde, homem. E chamava sem cessar. E Francisco gemia, rolava de um lado para o outro e não acordava. Então o sujeito o agarrou nos braços para o jogar em um laço que estava amarrado nos caibros do telhado. O velho viu e ficou esperando o que iria acontecer. Quando o velho viu o sujeito com Francisco nos braços fazendo o balanço para jogá-lo no laço, o velho se levantou e deu um enorme grito que acordou toda a casa. O sujeito errou o laço e Francisco se esborrachou na sacaria. Todos correram para saber o que tinha acontecido e o velho contou:
-Foi o diabo que veio buscar Francisco, pois, ele disse em sua jura, que no dia em que colocasse os bois no curral, que ele daria a sua alma ao diabo. Ele quebrou a jura e o diabo em forma de gente veio lhe buscar.
-Não pode ser! Disseram.
-Olhe lá o laço dependurado no caibro!
-Que coisa impressionante, meu Deus! O velho disse:
-O que iria acontecer? Iriam pensar que ele tivesse suicidado, pois íamos ver o seu corpo dependurado, pelo pescoço sendo enforcado.
Francisco ficou assobrado e agradecido ao velho por ter lhe salvo a vida.
Muita gente gosta, no momento de aflição ou de raiva, fazer jura que não cumprir. Talvez essa história que acabo de contar existam muitas delas que parece uma coincidência ou semelhança, mas nunca deva brincar com coisas sérias.

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