quarta-feira, 22 de junho de 2016

O ARVOREDO E A FOGUEIRA.



O SÃO JOÃO DE MINHA TERRA.
Crônica de Honorato Ribeiro dos Santos

Desde criança, lá pelos anos de 1943 a 1954, as noites de São João eram bastante animadas. Naquela época, não havia luz elétrica, mas a cidade era iluminada pelos lampiões de carbureto e as fogueiras em todas as ruas à porta de cada residência. Em algumas casas havia o arvoredo, uma árvore grande que cortavam na mata e fincavam no chão; e em volta dela achas de lenha que punha fogo até que ele sendo consumida pelo fogo caia cheia de presentes, até dinheiro dependurava-se numa das galhas. Enquanto o arvoredo estava sendo queimado, multidões de jovens ficavam em pé em volta do arvoredo ansiosos de vê-lo cair e eles pegarem as suas prendas. Quando caia, multidão de rapazes saltava no meio das galhas do arvoredo, entre tapas e murros, socos para pegar o melhor presente. Com tamanhas bravuras e afoitos, os que estavam de fora vendo toda aquela disputa, soltavam fogos no meio da multidão.  Mas quem pegava o dinheiro ou uma garrafa de cachaça ou conhaque, saia louco de alegria e a farra era grande entre os amigos. O melhor e mais alto arvoredo era à porta da casa do senhor João Agrário, fazendeiro e funcionário do telégrafo como guarda de linha. Esse arvoredo era cheio de cachos de banana, pencas de laranjas, dinheiro de nota de cem cruzeiros, litro de vinho, cachaça, conhaque São João da Barra, vermute e outros tantos presentes dependurados nos galhos do arvoredo.
Havia outros arvoredos espalhados por várias ruas. Mas o de dona Maria Curralinho era muito gozado, pois além dos presentes dependurados no arvoredo, havia o café com broa, biscoito voador, beiju de tapioca e rompia à noite toda e o samba de umbigada no quintal da casa dela. Uma viola, uma caixa um pandeiro, um reco-reco e mulheres sambando com uma garrafa na cabeça a equilibrá-la e não deixava a “branca” cair no chão, mesmo dando a sua umbigada. Era devera uma noite engalanada e eufórica.
Mas, o mais importante dessa tradição dos festejos de São João era o café com bolo de arroz, de puba, biscoitos de toda qualidade de sabor, como ginete, biscoito escaldado, requeijão e o café quentinho e a porta da casa era aberta para gregos e troianos. Vou citar algumas casas que era tradição do dono que louvava o Senhor São João: João Fernandes e dona Palmira, sua esposa, que, antes de distribuir o café com massa, rezavam ao Senhor São João. Seu Satírio, conhecido por Seu Sato, comerciante e flandreiro, que morava à Rua Santa Luzia, na sua residência havia uma mesa enorme cheia de biscoitos de todas as qualidades, bolos e o café quentinho que rompia a noite toda. Na Rua Quintino Bocaiúva, onde hoje, é a Escolinha Branca de Neve, havia o arvoredo e o café com bolo e outros a petiscos gostosos que eram distribuídos para todos sem exceção. Na casa de Dr Bráulo Barral e dona Madalena, sua esposa, a mesa era farta até de peru, galinha cheia, bolo, e café e a gente tocando e cantando com o som  do bandolim de dona Madalena Villares Barral, o violão, pandeiro e o sax de Antônio Marques que, com seus chorinhos do Ratinho alegrava-se todos nós. Havia, também, na casa de Sa dona Gusmão o café com bolo de arroz, de mandioca, de milho, ginete, biscoito escaldado, biscoito voador e o café para todos. Na noite de São João a gente escolhia onde ia tomar o café com massa.
Mas o que eu gostava mais, ainda adolescente, era assar a batata doce na fogueira. Outros gostavam de assar o peixe e outros a abóbora nas brasas da fogueira. Ninguém dormia, pois as festas de louvor ao senhor São João era a noite inteira. Nos salões, como o da Liga Operária e o Clube Recreativo Dois de Julho, havia a quadrilha de seu Jorge Navarro, e, depois, era o baile para os sócios tocado pela orquestra onde eu era o regente dela.
Quando chegaram os calçamentos e a luz elétrica foi diminuindo até que tudo ficou na lembrança. Os que ofertavam o café com massa, Deus já os chamou e não houve mais quem continuasse essa festa tradicional entre as famílias carinhanhenses. Alguns ainda alcançaram como era o São João em Carinhanha; os sanfoneiros, também,  desapareceram. Tudo hoje são instrumentos eletrônicos da era moderna. Mas prefiro ainda os instrumentos, como o cavaquinho, violão, clarinete, sax, trombone e pistão sem sons eletrônicos com alto decibel. Até o baião do Luiz Gonzaga desapareceu; não há mais que toque no acordeão nos nossos bailes e danças juninas.

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