sexta-feira, 22 de maio de 2015

UM AMIGO E UMA HISTÓRIA TRISTE.



Conto de Honorato Ribeiro dos Santos
Eu tive um amigo que o considerava meu irmão. Vou contar a linda história desse grande artista e músico. Ele, ainda adolescente, entrou na escola de música e fez parte da filarmônica tocando clarineta. Mas ele quis aprender uma profissão e a primeira foi de ferreiro. Dia ele chegou perto de mim e disse-me: olha aqui um punhal e um canivete que eu fabriquei. Peguei os dois instrumentos e olhei admirado, pois parecia que foram fabricados por uma fábrica de tão perfeitos que eram. Depois ele foi ser maquinista, que era de um grande ricaço. Esse ricaço comprou essa máquina, que a gente a chamava de usina de algodão. Era tocada a lenha. Trabalhou muitos anos nessa usina e depois foi ser funcionário da prefeitura para tomar conta e colocar para funcionar o motor Carteppilar, que fornecia luz para a cidade. Mas o que eu quero contar é o dom musical dele. Foi o maior clarinetista que já vi. Ele organizou uma orquestra comigo, onde tocávamos nas festas dançantes e carnaval. Mesmo com o dom musical que tinha, ele comprou uma marcenaria e me convidou, juntamente com meu irmão, a fim de fabricar espreguiçadeiras, pois estavam famosas, aqui e dava muito dinheiro. Os vapores quando chegavam saiam cheios delas, bem como o caminhão de Goiás, que vinha toda semana comprar essas cadeiras preguiçosas. Quando foi um dia, ele me chamou para ir à sua casa e eu fui. Chegando lá ele me mostrou grandes quantidades de notas de cinquenta e cem cruzeiros. Eu lhe perguntei: Como foi que adquiriu tanto dinheiro?! E ele me respondeu: Fabricando espreguiçadeiras com você e seu irmão. Mas sabe por que eu fiz essa economia? Respondi: Não! Eu vou embora para São Paulo, na semana que vem, respondeu-me ele. Eu fiquei triste, pois éramos amigos e juntos fizemos serestas, tocamos em bailes e carnaval e agora ele vai realizar o seu sonho. Depois ele me disse: Olha, as ferramentas de carpinteiro eu vou vender para você e seu irmão. Eu lhe disse: Mas nós não temos dinheiro para comprar, é muito caro. Ele me respondeu: Não se preocupe. Toda semana vocês dão uma parte de suas produções na vendagem das preguiçosas à minha mãe. Vou vendê-la barato para vocês. Eu quase choro de alegria, pois, eu e meu irmão trabalhávamos para ele. Ele era nosso patrão e nos pagava por produção. Na véspera de sua saída, fizemos uma serenata sob a iluminação das estrelas e da lua, que ouviam lá do céu, as nossas canções. Mas como ele tinha muitos amigos, um deles era o pandeirista Bino, que durante toda seresta, enquanto tocava o pandeiro, chorava como criança. Não tinha quem o fizesse acalentar a sua dor da saudade do amigo que iria partir. No outro dia pela manhã, o vapor zarpou levando o meu maior amigo: Joselito. Chegando lá em Guarulhos, ele fez sucesso como músico de clarinete, pois ingressou logo numa filarmônica daquele lugar. Nós nos comunicávamos sempre enviando carta um para o outro. Dia desse recebi uma carta dele, que tinha se casado e era muito feliz. Eu sabendo que ele lia partitura muito bem de primeira vista, enviei-lhe uma partitura de um bolero, letra e música de minha autoria, com o nome: Misterioso Amor. Passaram-se os anos, e ele me fez uma surpresa, vindo aqui com a esposa para matar a saudade dele à sua mãe, irmãs e aos amigos. Eu soube de sua chegada e fui vê-lo. Chegando lá foi uma alegria entre abraços e sorrisos e aperto de mão. Apresentou-me sua esposa, linda e muito educada. Conversamos um pouco, mas ele me chamou e disse-me: Vou pegar a minha clarinete e tocar uma música que fiz um sucesso enorme lá. Você vai gostar demais. É um bolero. Eu fiquei em pé a olhar emocionadamente, pois ele tinha um sopro muito bonito. Para a minha surpresa era o meu bolero que eu tinha lhe enviado a partitura. Não suportei e nem controlei a minha emoção: chorei. Poucos dias ele partiu regressando para a grande Guarulhos. Ele era empregado numa empresa e ganhava muito bem. Construiu uma casa muito boa e grande. (continuação...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário