AS MÃOS QUE ME EMBALARAM.
Texto de Honorato Ribeiro dos
Santos
(Dia das mães).
Quando nasci duas mãos me pegaram
e cortaram meu umbigo. Quando cresci eu
a chamei de mãe Telvina. Mas ela não me acalentou, não me dormitou, não me
amamentou, foram as mãos de minha mãe. As mãos de minha mãe cuidaram de mim dando-me
banho, trocando-me fraldas; dando-me o peito para eu alimentar; cuidando de mim
nos seus braços durante as noites frias a me aquecer e perdeu sono e mais sono
até que aquelas mãos souberam fazer-me caminhar, engatinhando, caindo, e as
mãos me seguravam, para que eu não me machucasse. Mas aquelas mãos sempre me
levantavam até que cresci; puderam minhas pequenas pernas andar; e equilibrarem
o meu corpanzil de criança. Mesmo assim as mãos de minha mãe me cariciavam, me
punham no colo e eu dormia placidamente sono seguro e tranqüilo. Ela cantava
canções de ninar, enquanto as mãos dela passavam no meu corpo como se
estivessem massageando levemente como se estivesse passando algum creme. Mas
não, era o carinho, afeto do amor maternal, que tinha pelo seu filho caçula.
Quando me tornei jovem, minha mãe fazia com suas mãos cozido gostoso: o feijão
com ossos dentro da panela e o bom tempero, que até hoje, sinto um grande
desejo de saborear àquela comida tão gostosa, que era de sua sabedoria sem
saber culinária. Aquelas mãos, depois que aprendi a ler, o livro que as suas
mãos me deram foi a Bíblia, pois ela era analfabeta e queria ouvi de seu filho
a palavra de Deus. Foi a minha primeira catequista. Ensinou-me ser cidadão, com
todas as letras. Minha mãe segurava-me com suas mãos e colocava-me em seu colo
a contar fábulas, estórias cantadas da onça e do gato, do coelho e a onça, de
Zé do Vale e eu dormia e ela me pegava, colocava-me na cama e me cobria para
que eu dormisse. Eu já tinha sete anos de idade, Lembro-me muito do aconchego,
do carinho e afeto que ela me dava. Os conselhos da minha mãe eram de uma
sabedoria, de uma luz impressionante, que parecia de um profeta, pois tudo que
ela me falava, que havia de acontecer ao Velho Chico, agora magricela, (está
acontecendo), que podia a gente passar de um lado para o outro a pé enxuto, mas
hoje estou vendo. As mãos da minha mãe sabiam fiar no fuso, ora na roda, a
fabricar grande bola de linha para depois sentar ao lado da almofada a fabricar
lindas rendas e vendia para nos ajudar na economia da família. Eu ainda pequeno
via as mãos de minha mãe posta a rezar ajoelhada à frente do seu oratório.
Todas as ladainhas e contemplações do terço, bem como o Ofício da Mãe de Deus,
ela sabia de cor e várias passagens da Bíblia sem saber ler. É que, dizia-me
que o pai dela lia muito a Bíblia em família e explicava para os filhos e ela
decorou. Quando se casou com meu pai, ele lia sempre a Bíblia para todos nós e
ela aprendia mais ainda. Mas eu quero falar das mãos de minha mãe, que
costurava as minhas roupas com a agulha e
muitos pensavam ser costurada à máquina. Ninguém acreditava, porque era
bem costurada, bem trabalhada que ficava perfeita. As saias dela, aquelas mãos
costuravam com perfeição com a linha que ela mesma fiava no fuso ora na roda de
fiar. As mãos de minha mãe eram calosas, pois era do uso do machado a cortar
lenha para abastecer a casa que, naquele tempo se cozinhava a fogão de lenha.
Não havia forno a gás naquele tempo. As mãos da minha mãe lavavam as louças,
panelas, as nossas roupas, passavam e punham na mala para dia de domingo a
gente ir à missa. Quantas coisas bonitas eu via as mãos de minha mãe fazerem!
Não tenho conta das vezes que aquelas mãos faziam: beiju de tapioca ora de
massa, cuscuz, torresmos pisado no pilão com faria que as mãos dela seguravam:
a mão de pilão para pisar; além do milho pisado para o cuscuz do café da manhã.
Como as mãos de minha mãe tratavam peixes! Tratavam um peixe tão bem, que
qualquer criança poderia comer sem encontrar sequer uma espinha. Eu distante
dela não a vi partir para a morada eterna! Tudo era difícil, naquele tempo:
transporte, telefone, estrada asfaltada como hoje, ônibus de linha... Nada
havia e por isso não a vi partir daqui dessa estada nossa, onde somos apenas
inquilinos; iremos pagar o aluguel ao grande proprietário dessa casa a MÃE
TERRA, que um dia nós iremos dormir horizontalmente em seu seio; enquanto o meu
“eu” ascende-se ao encontro Daquele que me criou à sua semelhança. A maior
tristeza minha é que não tenho sequer uma foto dela! Tempos idos que tudo era
difícil, mas o bom era onde minha mãe contava casos, cantava cânticos
folclóricos e dava-nos bons conselhos. Saudade das mãos de minha mãe. Mater et
Magistra.
(Requiescat in pace).
FIM.
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