sábado, 9 de maio de 2015

AS MÃOS DA MINHA MÃE.



AS MÃOS QUE ME EMBALARAM.
Texto de Honorato Ribeiro dos Santos
(Dia das mães).
Quando nasci duas mãos me pegaram e cortaram meu umbigo.  Quando cresci eu a chamei de mãe Telvina. Mas ela não me acalentou, não me dormitou, não me amamentou, foram as mãos de minha mãe. As mãos de minha mãe cuidaram de mim dando-me banho, trocando-me fraldas; dando-me o peito para eu alimentar; cuidando de mim nos seus braços durante as noites frias a me aquecer e perdeu sono e mais sono até que aquelas mãos souberam fazer-me caminhar, engatinhando, caindo, e as mãos me seguravam, para que eu não me machucasse. Mas aquelas mãos sempre me levantavam até que cresci; puderam minhas pequenas pernas andar; e equilibrarem o meu corpanzil de criança. Mesmo assim as mãos de minha mãe me cariciavam, me punham no colo e eu dormia placidamente sono seguro e tranqüilo. Ela cantava canções de ninar, enquanto as mãos dela passavam no meu corpo como se estivessem massageando levemente como se estivesse passando algum creme. Mas não, era o carinho, afeto do amor maternal, que tinha pelo seu filho caçula. Quando me tornei jovem, minha mãe fazia com suas mãos cozido gostoso: o feijão com ossos dentro da panela e o bom tempero, que até hoje, sinto um grande desejo de saborear àquela comida tão gostosa, que era de sua sabedoria sem saber culinária. Aquelas mãos, depois que aprendi a ler, o livro que as suas mãos me deram foi a Bíblia, pois ela era analfabeta e queria ouvi de seu filho a palavra de Deus. Foi a minha primeira catequista. Ensinou-me ser cidadão, com todas as letras. Minha mãe segurava-me com suas mãos e colocava-me em seu colo a contar fábulas, estórias cantadas da onça e do gato, do coelho e a onça, de Zé do Vale e eu dormia e ela me pegava, colocava-me na cama e me cobria para que eu dormisse. Eu já tinha sete anos de idade, Lembro-me muito do aconchego, do carinho e afeto que ela me dava. Os conselhos da minha mãe eram de uma sabedoria, de uma luz impressionante, que parecia de um profeta, pois tudo que ela me falava, que havia de acontecer ao Velho Chico, agora magricela, (está acontecendo), que podia a gente passar de um lado para o outro a pé enxuto, mas hoje estou vendo. As mãos da minha mãe sabiam fiar no fuso, ora na roda, a fabricar grande bola de linha para depois sentar ao lado da almofada a fabricar lindas rendas e vendia para nos ajudar na economia da família. Eu ainda pequeno via as mãos de minha mãe posta a rezar ajoelhada à frente do seu oratório. Todas as ladainhas e contemplações do terço, bem como o Ofício da Mãe de Deus, ela sabia de cor e várias passagens da Bíblia sem saber ler. É que, dizia-me que o pai dela lia muito a Bíblia em família e explicava para os filhos e ela decorou. Quando se casou com meu pai, ele lia sempre a Bíblia para todos nós e ela aprendia mais ainda. Mas eu quero falar das mãos de minha mãe, que costurava as minhas roupas com a agulha e  muitos pensavam ser costurada à máquina. Ninguém acreditava, porque era bem costurada, bem trabalhada que ficava perfeita. As saias dela, aquelas mãos costuravam com perfeição com a linha que ela mesma fiava no fuso ora na roda de fiar. As mãos de minha mãe eram calosas, pois era do uso do machado a cortar lenha para abastecer a casa que, naquele tempo se cozinhava a fogão de lenha. Não havia forno a gás naquele tempo. As mãos da minha mãe lavavam as louças, panelas, as nossas roupas, passavam e punham na mala para dia de domingo a gente ir à missa. Quantas coisas bonitas eu via as mãos de minha mãe fazerem! Não tenho conta das vezes que aquelas mãos faziam: beiju de tapioca ora de massa, cuscuz, torresmos pisado no pilão com faria que as mãos dela seguravam: a mão de pilão para pisar; além do milho pisado para o cuscuz do café da manhã. Como as mãos de minha mãe tratavam peixes! Tratavam um peixe tão bem, que qualquer criança poderia comer sem encontrar sequer uma espinha. Eu distante dela não a vi partir para a morada eterna! Tudo era difícil, naquele tempo: transporte, telefone, estrada asfaltada como hoje, ônibus de linha... Nada havia e por isso não a vi partir daqui dessa estada nossa, onde somos apenas inquilinos; iremos pagar o aluguel ao grande proprietário dessa casa a MÃE TERRA, que um dia nós iremos dormir horizontalmente em seu seio; enquanto o meu “eu” ascende-se ao encontro Daquele que me criou à sua semelhança. A maior tristeza minha é que não tenho sequer uma foto dela! Tempos idos que tudo era difícil, mas o bom era onde minha mãe contava casos, cantava cânticos folclóricos e dava-nos bons conselhos. Saudade das mãos de minha mãe. Mater et Magistra.
(Requiescat in pace).
FIM.

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