QUANTAS PEDRAS HÁ EM
SEU CAMINHO?
Crônica de Honorato Ribeiro do
Santos.
Quando eu lecionava sempre fazia
poesias e punha os alunos para recitá-las nas sessões do grêmio. Todavia, eu sempre
dava a eles poesias de famosos poetas, e uma delas, lembro-me bem, e rio
sozinho, de os alunos rirem à beça, quando um colega subiu ao palco e começou a
recitar a poesia de Carlos Drummond, assim: “No meio do caminho tinha uma pedra”...
Tinha uma pedra no meio do caminho... Os colegas riram imaginando que ele havia
esquecido da poesia e ficava repetindo... “Ele continuou: Tinha uma pedra”... Continuaram
a rir... Ele continuou a recitar calmamente: “No meio do caminho tinha uma
pedra”. Continuaram rindo, rindo sem parar e eu, então, interferir e pedi para
que eles parassem de rir e deixassem o colega terminar a recitar a poesia. Eles
me atenderam e o colega continuou: “Nunca me esquecerei desse acontecimento,
Na vida de minhas retinas tão
fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio
do caminho
Tinha uma pedra.
Tinha uma pedra no meio do
caminho;
No meio do caminho tinha uma
pedra”.
Assim que ele terminou foi
aplaudido pelos que estavam rindo dele. Então, eu subi ao palco e fui explicar
a poesia que fora recitada pelo colega. Novo aplauso, agora, quando eu terminei
de explicar pormenorizadamente e entenderam o que significava a pedra que tinha
no meio do caminho tinha uma pedra.
Quem de nós não tem uma pedra
entravando a nossa caminhada! Nenhum de nós tem caminho sem pedra e quantas
delas existem! As adversidades são muitas de pobre, rico sábio e apedeuta têm
sempre uma pedra no caminho para tropeçar; arriba o pé, “sacode a poeira e dá
volta por cima” e segue seu caminho... Que caminho longo, difícil! Subida
íngreme, sua suor de sangue... “Pai, afasta de mim este cálice”... O rogo não
foi ouvido! Parece que tudo se afastou e, até mesmo o Pai não Lhe ouviu, mas
Ele conseguiu tirar as pedras do caminho, mesmos suando, sagrando, mas
conseguiu! O Pai lhe ouve, cala-se, fica calmo, pois é paciente... Pois sabia
que o Filho iria destruir a pedra e passar, e abrir para outros, novo
caminho... Mas tem outras e tantas pedras no cominho meu, seu, nosso; de justos
e injustos. Ele soube retirar sozinho todas as pedras que tinham no seu caminho.
E nos ensinou retirá-las do nosso caminho. São muitas as pedras e muitas
adversidades em nossa vida cotidiana! Não existe hoje, nem ontem, e nem no
porvir caminho que não tenha pedra no caminho. Não existe caminho sem pedra, e
muitas delas são rochas imensas! Não há máquina moderna e sofisticada para quebrá-las
e retirá-las do nosso caminho. Somente um Homem mais sábio do universo pode
destruí-la e venceu gloriosamente; ensinou-nos a trilhar no Seu caminho com
pedra e espinhos, mas nós, até o momento, não encontramos Seu caminho estreito
que não haja pedra. Tem muita mais pedra do que o caminho de outrem que não
quis caminhar nesse caminho de pedras e espinhos. No meio do caminho meu, seu,
nosso tem uma pedra; e no meio do caminho de Carlos Drummond tinha uma pedra e
ele deixou essa temática, essa incógnita para que cada um de nós veja no meio
do caminho tem sempre uma pedra. Que saibamos “sacudir a poeira e dar volta por
cima”, a poeira de nossa incoerência, de nossa imprudência e de sermos cegos
perante tantas injustiças. Tanto peca o corrupto como o que tapa os olhos
perante a corrupção praticada por aqueles que a praticou. Esta é uma enorme
pedra da Babilônia subversiva que atua até hoje nos bastidores dos poderes. Os
que calam perante essa enorme pedra abstrata, mas real, no nosso caminho, é tão
corrupto quanto os corruptos. Que saibamos caminhar nesse caminho que sempre
tem uma pedra de Carlos Drummond para trilhar.
No meio do caminho tinha uma
pedra
Tinha uma pedra no meio do
caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma
pedra.
Nunca me esquecerei desse
acontecimento
Na vida de minhas retinas tão
fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio
do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do
caminho
No meio do caminho tinha uma
pedra.
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