ALFREDO, O TELEGRAFISTA.
Crônica
de Honorato Ribeiro dos Santos.
Seu Lúcio
Rodrigues morava distante Carinhanha, sessenta quilômetro, na sua fazenda.
Certa noite ele recebeu uma visita de um senhor por nome Alfredo, que vinha
fugindo de um coronel de Santana. Logo que chegou contou a seu Lúcio que ele
era funcionário de um cartório e o coronel mandou-o fazer um registro duma
terra de herança, mas ele não lhe atendeu, pois a terra pertencia a outro dono
e já tinha registro primitivo. Lúcio lhe disse que ali ele estava seguro.
Deu-lhe janta e o quarto para dormir. Mas, quando Alfredo ouvia latido de
cachorro ou pisada de animais, ele pulava da cama já com a arma em punho. Seu Lúcio
levantou e lhe perguntou: O que está acontecendo, Alfredo? Respondeu Alfredo:
Nada, seu Lúcio, apenas um susto. Mas Alfredo não dormiu e assustava pulando da
cama e a arma não mão. Seu Lúcio disse-lhe: Alfredo, conte-me o que está
acontecendo, pois a sua história está mal contada. É verdade, seu Lúcio, eu não
sou funcionário de cartório, eu sou telegrafista. É que surgiu um boato que eu
tinha bulido com a filha desse coronel, mas sou inocente. E ele mandou uns
jagunços atrás de mim para me matar. Eu fugi e quero que o senhor ensina-me o
caminho de Carinhanha, pois eu passei em Santa Maria da Vitória e procurei pelo coronel
Bruno; contei-lhe a minha história e pedi-lhe apoio. Ele me deu uma carta para
o coronel Chico Timótheo de Carinhanha, para que ele me protegesse. Disse seu
Lúcio: Está certo, Alfredo, agora pode dormir sossegado, que amanhã bem cedo eu
lhe mostrarei o caminho.
No outro dia
cedo, seu Lúcio ensinou o caminho para Alfredo e ele montou na mula e seguiu
viagem para Carinhanha. Quando ele chegou a Carinhanha, dirigiu-se para a casa
do coronel Chico Timótheo. Entregou-lhe a carta do coronel Bruno para ele. Ele
leu e disse: Amanhã cedo eu vou mandar um camarada lhe levar de barco até Rio
Verde. De lá a Montes Claro é perto. Mas por segurança, eu vou lhe colocar na
cadeia e ordenar o capitão Sampaio e seus soldados para lhe darem segurança. E
assim o fez e Alfredo foi preso. Seu Lúcio ficou na fazendo e à noite ele viu
um sujeito debaixo do jatobazeiro à frente de sua casa de fazenda. Ele foi saber
quem seria. Chegando lá era um jagunço assando uma carne para jantar. Seu Lúcio
aproximou e disse: Boa noite, amigo! Respondeu o sujeito: Boa. O senhor vem de
onde? Respondeu o jagunço: Venho de São Paulo. O senhor está indo para onde?
Ele respondeu: Para Carinhanha. Seu Lúcio disse a si mesmo: este camarada vai
atrás do Alfredo, olha o fuzil dele!.. Despediu do jagunço e foi dormir. Quando
foi de manhã cedo o coronel passou montado numa mula e quatro jagunços com ele
em direção a Carinhanha. Quando o coronel chegou a Carinhanha, soube logo que o
Alfredo estava preso na cadeia local e se dirigiu com seus jagunços para
tirá-lo e fazer vingança. Defrontou-se logo com o capitão Sampaio e seus
soldados. O coronel apeou-se da mula e disse ao capitão Sampaio. Venho aqui com
meus homens soltar um sujeito por nome de Alfredo, pois ele precisa ser morto.
Respondeu o capitão Sampaio: Só passando por cima de mim, coronel, porque o
Alfredo não irá ser tocado nem num fio de cabelo. Respondeu o coronel: Pois eu
vou tirá-lo à bala. Amanhã voltarei bem armado e quero ver se o senhor,
Capitão, vai me impedi. Respondeu o capitão: Eu quero ver quem é mais
autoridade se sou eu ou o senhor, coronel? O coronel se afastou com seus quatro
jagunços. E aquele jagunço que dormiu debaixo do pé de jatobazeiro chegou e se
uniu aos do coronel. De madrugada o coronel Chico Timótheo mandou soltar o
Alfredo e embarcou na canoa do pescador que remou rio a cima até chegou ao
ponto final. Alfredo despediu e seguiu viagem até o Rio de Janeiro.
Pela manhã, o
coronel e seus jagunços cercaram a cadeia e bem armados entraram, mas encontrou
a cela vazia. Furioso perguntou ao capitão Sampaio? Que é do Alfredo, capitão?
Respondeu o capitão: Eu o embarquei num vapor que desceu esta noite para Bom
Jesus da Lapa. Ao ouvir a tal notícia gritou para seus jagunços: Iremos atrás e
vasculhamos o vapor, pois ele não me escapará. Partiram rumo a Bom Jesus da
Lapa. Ao chegar lá, o coronel falou com o comandante se havia embarcado um
sujeito por nome Alfredo. O comandante
respondeu-lhe: Não senhor. Em Carinhanha não embarcou ninguém, coronel. Disse o
coronel: Mas vou entrar e vasculhar todos os camarotes e porão desse vapor. O
coronel vasculhou tudo com seus homens e não encontrou o Alfredo, pois este já
estava bem acomodado no Rio de Janeiro.
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