MINHAS REMINISCÊNCIAS.
Conto de Honorato Ribeiro dos
Santos.
Nós éramos uma pequena família
pobre de sete pessoas que vivíamos harmoniosamente muito felizes. O caçula era
eu, embora traquino, criei eventos em miniaturas, mas cheguei tardio, depois de
três anos, de ter nascido Celino; a minha mãe não esperava mais ter filho. Mas
o que quero contar e a nossa convivência, costume e educação. Meu pai comprou
um couro de boi bem curtido, e este era a nossa cama. Eu e Celino dormíamos
nele, ao invés de deitar na esteira. Pela manhã bem cedo, o sol nem havia
apontado lá na Ilha, por detrás das mangueiras, o meu pai nos acordava para
vender pão da padaria de Zé Padeiro, um grande violonista, casado com Alvina.
Foi com ele que Domigão aprendeu a tocar violão, vendo-o trabalhar nos bordões
dando acordes perfeito para acompanhar os choros e sambas. Mas Domigão, meu
irmão mais velho, tornou-se o melhor violonista daqui. Eu saia com o balaio
cheio de pão a cantar e acordar os fregueses:
Ei o pão quente com manteiga dentro; padaria nova, chega no pão, minha
gente. É o pão da freguesia, traga o dinheiro e a vasilha. E assim caminhava
com o balaio às costas nas ruas e avenidas da pequena cidade. Ganhava o meu
tostão de porcentagem. Quando os vapores chegavam, eu corria para a casa da
quitandeira, dona Joaninha de Zequinha, para pegar as quitandas e vendia para
os nordestinos que subiam nos vapores. Quando chegava à hora do almoço, almoço
gostoso que a minha mãe fazia; cozinhava o feijão com osso dentro, arroz de
pilão, batata doce; feijão temperado com cebola verde, malvão, pimentão,
pitadinha de pimenta do reino, alho, sal e tudo cozido nas panelas de ferro no
fogão a lenha; punha a nossa comida numa gamela, que meu pai fabricou para a gente
comer juntos: Eu, Celino, Sulina, Maria. A gente punha farinha dentro e mexia a
comida, cada um com a mão a fazer o bolo e punha na boca. Não usávamos colher e
nem garfo. Era com a mão e isso dava um sabor delicioso! Oh, que saudade que
tenho da comida tão gostosa da minha mãe! A civilidade, e o progresso destruíram
esses costumes e cultura da gente. Dentro do feijão, - como a gente costumava
falar – com tora dentro, cada um pegava aquele osso para bater numa pedra e
tirava o tutano. Que gostosura! Minha
mãe tinha esta pedra polida em formato de rim, bem grande, onde a gente batia o
osso para tirar o tutano e misturava na comida. Minha mãe nos dizia que aquela
pedra era herança da mãe dela.
À tarde a gente ia brincar de
bola de pano feita de meia, na Praça J J Seabra. Não havia ainda o jardim. À
noite, lua clara no céu todo azul e estrelado, a gente ia brincar de Lampião, de
corre coxia, de boca de fogo, de chicotinho queimado de bacondê. Às vezes, as
nossas brincadeiras eram: brincar com boi de osso; os ossos de pernis de boi e
de porco, que se transformavam em vaca, boi, bezerro e cachorro; a gente fazia
o curral tudo de miniatura. Não é que a gente se tornava fazendeiros?! Quantas
noites eu e os colegas com as meninas moças brincávamos de roda! Cada um de nós
jogava versos cantados e bem entoados! Mas o melhor que eu mais gostava era de
subir nos pés de mangubas para brincar de pega-pega. Havia muitos meninos
hábeis que pareciam com macaco nos galhos da mangubeira. A gente não pegava os
danados ágeis. Era muita brincadeira: Jogar pião, pular macaco, jogar bolinha
de vidro, saltar vara até de um metro e vinte centímetros. Tomar banho na Lagoa
da Tereza brincando de galinha cheia; também brincava de futrica com a bola de
pano que equilibrava, mas a bola no pé sem deixar cair. O campeão daqui era
Mané Chimbinha, irmão de Chiquinha de Pedro. Quando caia chuva grossa, a gente
corria pelas ruas a tomar banho de chuva e a gritar alegremente. É como disse
Ataulfo Alves com a sua composição: “Eu era feliz e não sabia”.
FIM.
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